Ceci est mon corps: existência e resistência em Contar de Subversão, de Olga Gonçalves (original) (raw)

Tendo como referencial teórico os estudos de Beauvoir (1967), Foucault (1975) e Froidevaux-Metterie (2021), entre outros que versam sobre a produção literária de Olga Gonçalves, a nossa proposta de análise gravita em torno da obra Contar de Subversão (1990), penúltimo romance escrito pela autora, restringindo-nos a três capítulos: “Mozart”, “Muringue” e “Renate”. Neles, afloram personagens tanto masculinas como femininas, que, com as suas singularidades (por vezes, mesmo corporais), representam modos existenciais heterogéneos entre si, desde a docilidade, simbolizada por Clara, e contrastada por Suzana, a sua prima (“Mozart”), uma mulher insubmissa e emancipada; Rafael (“Muringue”), cuja vivência da sexualidade foi brutalmente ostracizada e considerada como desviante e patológica, por ser uma pessoa portadora de necessidades especiais; ou ainda, Renate, epónimo do sétimo capítulo, uma empregada de limpeza, afetada por uma doença mental, que assiste à desagregação do seu corpo, resultante de tratamentos de choque. Nesta obra, Gonçalves, numa escrita revolucionária, segundo ela mesma afirma no posfácio, explora os “limites da alteridade” (BESSE, 2000), subvertendo questões ligadas ao pós-25 de Abril, bem como caracterizando tipos marginais.