Tese Sergio Schargel Maia de Menezes 2024 Completa (original) (raw)

As multifacetas de Sylvia Serafim: uma disputa na imprensa em torno de uma intelectual esquecida

2024, Tese de doutorado Comunicação UERJ

Em 26 de dezembro de 1929, motivada por uma matéria de capa que a afirmava adúltera, a jornalista e escritora Sylvia Serafim atirou em Roberto Rodrigues, ilustrador do jornal Crítica e irmão de Nelson Rodrigues, em um homicídio que chocou e dividiu a sociedade carioca. A história do assassinato de Roberto se transformou em livro, peça, filme, programa de televisão, em suma, foi explorada por diversas mídias, em diversos formatos. Conforme essas narrativas migram, vão adquirindo novas nuances, contraditórias entre si, através de um processo de divisão que se inicia logo depois do atentado. O principal objetivo deste trabalho é analisar a captura que Sylvia Serafim sofreu por uma disputa política, social e econômica que transcendeu sua época e permanece ainda hoje, bem como trabalhar a construção dessa imagem desumanizada. Em outras palavras, sintetizado no próprio título, trabalhar a construção das várias faces de Serafim, desde seus escritos até os escritos sobre ela, enxergando-a não somente como assassina, da forma com que entrou para a História, mas também como intelectual, jornalista, escritora, feminista. Essa divisão gerou um processo de disputa sobre a sua figura que se iniciou na imprensa logo após o assassinato e perdura ainda hoje, de modo que este trabalho olha também para a apropriação dessa figura em jornais da época e do contemporâneo, bem como redes sociais. Com isso, Serafim acabou tendo sua produção intelectual apagada, esquecida na História, a despeito de sua relevância na época. Na intenção de evidenciar essa multiplicidade de Sylvia Serafim, também foram trabalhados seus materiais jornalísticos. Assim, é possível resgatar sua história e destacar os mecanismos sociais e políticos que a marginalizaram, além de examinar o impacto duradouro do sensacionalismo sobre sua imagem. Por meio de pesquisa em arquivo e em diálogo com uma base teórica sobre História do Jornalismo e processos de desumanização, foi possível fornecer visões menos maniqueístas e mais completas, explorando caminhos desconhecidos de uma intelectual lembrada apenas em função de seu homicídio. Ao explorar essa narrativa, busca-se não apenas uma reinterpretação histórica, mas também uma reflexão sobre as dinâmicas de poder e gênero, principalmente na imprensa.