Naquele tempo em que Derrida era escriba e os hieróglifos mudos (original) (raw)
O objetivo deste artigo é discutir o papel dos hieróglifos egípcios no pensamento de Derrida, por meio de uma contextualização histórica, ainda que breve. Ao historizar o desenvolvimento da compreensão do significado da escrita hieroglífica, veremos que Derrida, quando aponta o Egito, retoma a discussão do séc. XVII – XVIII com relação à linguagem natural e às interpretações místicas dos hieróglifos. Discussão essa bem exemplificada pela crítica materialista de Warburton à leitura alegórica de Kircher, o qual extrapolou as opiniões da Renascença que redescobria autores da Antiguidade, como Horapolo. Devido a essa leitura, será possível também identificar o conhecimento de Derrida sobre os estudos do Egito Antigo, suficiente para que tenha sido caricaturado como um escriba, mas inferior ao nível do especialista. Em segundo momento, a escrita é posta em discussão de acordo com os duplos fármacos de Platão no Fedro, o qual instaura o logocentrismo e a valorização da fala em detrimento da escrita, considerada, até Derrida, como algo inferior e de segunda ordem. PALAVRAS-CHAVE: Derrida; linguagem natural; escrita; hieróglifos; Egito.