Um anteparo para o desejo: o conceito de cultura para Margaret S. Archer (original) (raw)

A primeira parte desse trabalho apresentará a teoria cultural da socióloga britânica Margaret S. Archer. Focará na forma como a autora escreve sua teoria contra concepções de cultura mais comuns nas ciências sociais para, a partir daí, desenvolver um original conceito de cultura caracterizada por duas qualidades: a objetividade (a cultura se apresenta ao indivíduo como uma força exterior) e a racionalidade (há entre as ideias presentes na cultura relações lógicas). Apresentaremos, a seguir, o conceito de desejo de Sigmund Freud por acreditarmos que tal conceito se encontra por sua importância numa posição singular para tornar nossa discussão mais proveitosa para a disciplina da psicanálise. Acentuaremos a relação conflituosa entre os sistemas psíquicos e como esse conflito depende da incompatibilidade entre o funcionamento primário e o secundário. Tendo em mãos as teorias, argumentaremos que o conflito psíquico entre consciência e inconsciente, no qual o desejo costuma ser o ator principal, pode ser reencenado no âmbito cultural graças às similaridades entre os conceitos de cultura e de consciência – a saber, ambos funcionam sob o signo da racionalidade e da objetividade. O sucesso de nossa argumentação apontaria para a insuspeita complementaridade entre Archer e Freud.