Um anteparo para o desejo: o conceito de cultura para Margaret S. Archer (original) (raw)
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O sonho de uma língua comum: a tradição segundo Adrienne Rich
Revista Criação & Crítica, 2018
O artigo aborda aspectos da tradução para o português de Twenty-One Love Poems, de Adrienne Rich (1929-2012), incorporados na obra The Dream of a Common Language (1974-1977). Concentrando-se na ambivalência rítmica, verifica o uso e a recusa da linguagem e da tradição na composição desta que pode ser considerada a primeira sequência de poemas lésbicos escrita por uma grande poeta norte-americana.
Cultura: aventuras e desventuras de um conceito
Este artigo pretende discutir, brevemente, o conceito de cultura tal como é visto por correntes antropológicas contemporâneas, buscando entender os porquês do desgaste sofrido por este termo e as novas posturas acadêmicas que fazem a sua crítica de forma a reabilitá-lo como instrumento válido para a pesquisa antropológica. Discutir-se-á, por fim, a recente aplicação do conceito de “cultura” na análise das ciberespacialidades.
Cultura e desejo: a construção da identidade adicta no cenário contemporâneo
Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica, 2013
A drogadição, embora presente em toda a história da humanidade, apresenta-se atualmente como uma expressão do mal-estar contemporâneo. Torna-se importante ocuparmo-nos de pensar o cenário atual, desde a nova ordem econômica mundial até as qualidades das relações interpessoais, para buscar possíveis relações deste no aumento de casos de adições. A partir desta proposta, abordamos a cultura enquanto fator contribuinte para a produção de identidades adictas já que anuncia a escassez de ideais compartilhados e de instâncias que ocupem o lugar da função paterna.
DETERMINAÇÕES ENTRE DESEJO E CULTURA NA FILOSOFIA DE SPINOZA
* Doutorando em Filosofia na USP com orientação de Marilena Chauí, com o projeto O conceito de indivíduo e sua realização na política em Espinosa. Graduação e mestrado na UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ-UECE, sob orientação de Emanuel Angelo da Rocha Fragoso. Atualmente escreve um livro em parceria com José Wilson da Silva, O DESEJO EM PLATÃO E ESPINOSA, é membro do GRUPO DE ESTUDOS DO SÉCULO 17 (FAPESP) e do grupo de estudos A FUNDAMENTAÇÃO POLÍTICA EM SPINOZA (CNPq). 1 Toda coisa finita só pode ser determinada a agir e a existir por outra coisa finita, que é sua causa (EIP28); é nesse sentido que nos referimos à determinação, como causa, mesmo que parcial. A existência da cultura é abstrata, contudo há elementos bem concretos na constituição dessa abstração; assim, podemos afirmar que até certo ponto as causas determinantes da cultura são inteligíveis na medida em que existe uma idéia [Continua] D esejo e cultura: dois temas complexos que aqui se envolvem em um só. Relacionar um e outro requer, de forma geral, que aceitemos uma boa margem de inexatidão e que avancemos, em sua mútua determinação, com cautela e a passos bem medidos. Cabe-nos, então, a princípio, restringir nosso campo conceitual e precisar, com a maior clareza que nos for possível, o sentido que cada um desses termos pode assumir dentro da perspectiva de uma filosofia da imanência, e mais especificamente ainda, na filosofia de Spinoza. Quanto ao primeiro dos termos, aparentemente não teremos dificuldade, já que, na ÉTICA, temos acesso à sua definição e sua importância na economia do livro não é implícita, antes pelo contrário, é fator fundante no que diz respeito às determinações do agir humano e na geometria dos afetos. Quanto à cultura, esta não é objeto de análise direta na obra do autor holandês, restando indícios que se aproximam mais ou menos daquilo que viria a constituí-la. Entretanto, esse fato não nos desestimula na presente investigação, pelo contrário, relacionar desejo e cultura nos aparece como um instigante exercício filosófico. A questão que primeiramente nos interessa é a da determinação: seria o desejo que determinaria a cultura, ou, inversamente, a cultura é que forneceria elementos para a determinação do desejo? 1 De maneira diversa, essa indagação carrega em seu seio um paradoxo assinalado na Grécia clássica: a filosofia é um produto da cultura, e assim mesmo sua intenção é "compreender e explicar o todo da realidade" 2 , na qual a própria cultura se insere. A filosofia procura então fundar a cultura "na ordem da explicação racional" 3 ; produto do engenho cultural grego, a filosofia volta-se sobre si mesma e sua origem e tenta "ultrapassá-la" na forma de um saber universal. Para desenvolvermos um pouco essa questão, apontemos um primeiro fato: a filosofia de Spinoza, malgrado algumas interpretações que afirmam o contrário, é uma filosofia do movimento. O próprio expressar-se da substância em infinitos modos finitos é um indicador disso, na medida em que para tudo há de haver uma causa determinada e de que de tudo o que existe deve decorrer um efeito também determinado, o que acaba por firmar um movimento lógico que vai da causa para o efeito. Do ponto de vista do desejo, de sua própria definição decorre sua constituição enquanto atividade. Essa constatação nos é importante pelo seguinte: enlaçar o desejo com a cultura exige que tenhamos a ciência do dinamismo envolvido nesta, e que aquele seja entendido como um conceito dinâmico no qual está implicada a imanência e a relação com coisas exteriores, ou seja, como causalidade eficiente imanente e não causa final, cujos efeitos são indicadores de seu grau de realidade [Continuação da Nota 1] da essência de cada coisa no entendimento de Deus (e até certo ponto, como veremos, essas causas podem ser remetidas ou relacionadas com o desejo). Essa é uma perspectiva que abarca uma das vias de determinação anotadas acima. Contudo não há uma natureza humana em Spinoza, não enquanto um ente com existência real: isso significa que temos de trabalhar com uma multiplicidade infinita de potências existentes em ato, mesmo que cada uma dessas potências seja uma expressão certa e determinada da essência infinita da substância. Em outras palavras, as duas vias são pertinentes e não devem ser pensadas isoladamente, e essa é a nossa principal questão.
Desejo de Imagem: notas sobre "cultura" e três cineastas indígenas
CURY, José. Desejo de imagem: notas sobre "cultura" e três cineastas indígenas. Monografia para o curso Comunicação Social – PPGCOM/UFMG: Belo Horizonte. 2014, 2014
Nos processos de formação em cinema em aldeias indígenas, brotaram questões em torno do conceito de “cultura”, que serão trabalhadas no decorrer dos três momentos desse ensaio monográfico, correspondentes a três etnias indígenas: Yanomami, Guarani e Xakriabá. Em cada um dos casos houve a importante participação de um cineasta; Morzaniel Iramahi Yanomami, Alberto Alvares Guarani, e Edgar Corrêa Xakriabá. Eu retornarei aos diários de campo, filmes e rememoração das seis oficinas que participei como formador. A princípio, a pergunta que vai amalgamar e nortear os casos é: Qual o “desejo de imagem” de cada pesquisador?
Este artigo visa analisar a importância dos aspectos culturais em três textos clássicos para o paradigma realista: “Vinte anos de crise”, de Edward Carr, “Política entre as nações”, escrito por Hans Morgenthau, e “Paz e guerra entre as nações”, elaborado por Raymond Aron. Em Carr, explora-se a problemática do controle sobre a opinião enquanto aspecto de poder; de Morgenthau analisa-se o imperialismo cultural e o papel da índole nacional para a ação externa; extrai-se de Aron a noção de “ideia” enquanto objetivo de política internacional, além da concepção sobre o caráter nacional e sua consequência para o sistema internacional heterogêneo. Conclui-se que o estudo desses textos clássicos, quando empreendido sob a perspectiva cultural, é capaz de questionar três pressupostos fundamentais comumente relacionados ao paradigma realista: o poder, a hierarquia entre os assuntos, comumente representada pela distinção entre política superior e política inferior, e os Estados nacionais como unidades metodologicamente coesas nas suas ações em política externa.
CULTURA: UM CONCEITO ANTROPOLÓGICO
A Antropologia, principalmente na abordagem dos fenômenos culturais, tem-se mostrado uma ferramenta importante para o trabalho teológico, tanto na formulação conceitual da teologia, quanto na práxis desses conceitos, principalmente quando tratamos da missiologia e a inserção dessa no contexto transcultural. E quando digo contexto transcultural penso tanto na vivência missionária em lugares e culturas distantes e bastante diferentes da nossa, como na missão feita nos púlpitos, praças e ruas no meio urbano, que pode se deparar, também, com uma infinita variedade cultural. Por isso, como um incentivo ao estudo e diálogo da Teologia com a Antropologia, quero com essa resenha despertar o interesse dos meus leitores pela abordagem cultural oferecida pela Antropologia e levar, aos que estudam a Teologia e fazem missão, a enveredarem-se no saboroso e enriquecedor diálogo interdisciplinar. O livro de LARAIA é introdutório e, como todo bom trabalho acadêmico, não apresenta qualquer juízo de valor. O autor é professor titular da Universidade de Brasília e domina como ninguém o tema que se propõem a escrever, tanto que consegue sintetizar em poucas páginas um arcabouço teórico construído no decorrer de séculos por inúmeros pensadores e pesquisadores do campo da Antropologia. A pequena brochura de LARAIA pretende traçar uma apresentação introdutória ao conceito antropológico de cultura num texto didático, claro e simples (p. 07). O tema é tratado no livro em duas partes. A primeira parte apresenta a herança teórica do conceito de cultura até os autores contemporâneos. A segunda parte aborda a influência que a cultura exerce no comportamento social e como produz, mesmo diante da constatação de unidade biológica, a diversidade nas sociedades humanas. A primeira parte é iniciada com a discussão sobre as perspectivas do determinismo biológico como fator preponderante na formação e concepção da diversidade cultural. O autor apresenta razões que levam a conclusão de que essa perspectiva é equivocada, uma vez que, mesmo havendo diferenças determinadas biologicamente, como a de sexo, por exemplo, a antropologia tem comprovado que atividades atribuídas à mulher em uma dada cultura podem ser atribuídas ao homem em outra (p. 19). Portanto, o comportamento de uma pessoa pode ser atribuído ao seu aprendizado, que o autor chama de um processo de endoculturação.
APROPRIAÇÃO CULTURAL SOB UMA ANÁLISE MARXISTA Postado em 22 de setembro de 2015
Na última semana uma polêmica recorrente acerca do conceito de " apropriação cultural " tomou conta das redes sociais e chegou inclusive a pautar jornais e programetes da mídia hegemônica. A jovem Thauane Cordeiro ficou famosa após relatar, em seu perfil no Facebook, que estava numa estação de metrô quando foi interpelada por uma mulher que a teria criticado pelo fato de usar um turbante. A tal mulher, até agora não identificada e sequer apontada por quaisquer testemunhas, teria abordado Thuane por ser uma branca que estaria usando indevidamente um acessório identificado com a cultura negra. O caso ganhou notoriedade porque a jovem é acometida de um câncer, descoberto e tratado há 5 meses, o que a levou a perder os cabelos. Esse seria então o motivo do uso do acessório. Polêmicas à parte – e foram muitas – resgato aqui o melhor texto que já li sobre o assunto, da blogueira Jo Camilo, num texto de 2015. Para quem quer fazer um debate sério sobre o tema, vale a pena ler. Por Jo Camilo, originalmente no seu blog Um modo de vida contra o medo da vida. (Esta contribuição ao debate foi feita como crítica a outro texto, intitulado " Apropriação cultural e marxismo "). Escrevo esse texto para pensar sobre a questão da apropriação cultural, que tem se debatido muito no movimento negro com o qual tenho tido contato. É uma resposta ao texto do companheiro Caio Acioli, da Juventude Marxista, sobre o mesmo tema. Apesar de concordar que se deve criticar, de um ponto de vista marxista, alguns conceitos de certas correntes do movimento que desconsideram a totalidade social da luta de classes, também é importante combater um marxismo vulgar e dogmático que não ajuda a esclarecer os problemas da relação entre cultura, raça e classe no Brasil hoje. Pretendo, portanto, fazer uma análise da questão da apropriação cultural, explicitando como o método marxista, usado corretamente, é a ferramenta para compreender a questão. Não vou entrar em todos os temas tratados no texto em questão. Pretendo apenas apontar os erros em seus pressupostos mais básicos naquilo que diz respeito ao tema da apropriação cultural, sem os quais a maior parte das ideias centrais do texto cairia. Soma ou relações dialéticas Em primeiro lugar, no texto está implícita uma concepção de que diferentes fatores sociais (como preconceitos em geral, racismo, opressão de classe, etc) têm origens em instâncias diferentes da vida social, independentes entre si, e, em alguns momentos, podem ou não se somar. Essa concepção aparece, por exemplo, quando ele fala em " preconceito contra os dreads somado ao RACISMO ". Ora, o marxismo é a ciência do concreto, ou seja, da totalidade, o que significa que não pensamos a realidade fragmentada dessa forma, como tanto o positivismo quanto a pós-modernidade pensam. Não podemos pensar a questão de classe, o racismo e o " preconceito contra os dreads " como três coisas separadas que podem ou não se somar. Precisamos fazer uma análise de como, em sua essência, essas três coisas se relacionam. Para isso, em primeiro lugar, devemos rejeitar a máxima pós-moderna (que também aparece no referido texto) de que a sociedade tem " preconceitos contra o diferente ". Não é a diferença que cria os preconceitos. Se fosse assim, como se explicaria que de algumas " diferenças " surgem preconceitos e de outras não? Como se explicaria que o preconceito que surge de algumas " diferenças " é diferente do preconceito surgido de outras " diferenças " ? Não podemos dizer, por exemplo, que a diferença entre brancos e negros crie o mesmo efeito que a diferença entre homens e mulheres ou entre destros e canhotos. O efeito que cada uma dessas " diferenças " vai acarretar