Pombal e a criação do seu próprio mito o caso da historiografia educacional (original) (raw)

O Antagonista Pombal e O Discurso De Defesa Da Formação Do Espírito Científico

Revista de Estudos de Cultura, 2020

O presente artigo está articulado a um projeto que prevê uma renovação ou reescrita dos estudos pombalinos, através do acesso aos documentos que foram produzidos à sua época, bem como a verificação da produção de literatura realizada por vários dos intérpretes da sua política desenvolvimentista e reformista, que desenharam o Marquês em representações ora como estadista defensor da modernidade e dos ideais iluministas, ora como desprezível ministro que implodiu o sistema de ensino português. Os ecos das finalidades da sua proposta de poder, fundamentam a supremacia do seu discurso e da sua influência nos rumos de Portugal e suas colônias. Portanto, esse personagem representou a oposição contra o protagonismo jesuítico vigente e a construção de uma nova identidade nacional gestada sob a luz da ciência e da razão, com lócus privilegiado para a Universidade de Coimbra.Palavras-chave: Marquês de Pombal. Políticas Públicas. Reformas Pombalinas

REVISTA DE ESTUDOS DE CULTURA n. 04, Jan. - Abr.: O Marquês de Pombal e a Invenção do Brasil (2016)

REVISTA DE ESTUDOS DE CULTURA, 2016

No longo século XVIII português, a governação pombalina foi um divisor de águas, uma vez que, mesmo não alcançando todos os seus objetivos imediatos, alterou irreversivelmente a estrutura jurídica e social do reino português. A preocupação do ministro com a colônia brasileira, que já ultrapassava o reino em população e riqueza, sempre foi uma constante, mesmo porque, durante a União Ibérica, foram os “brasileiros” que tinham defendido o rico domínio português da investida dos holandeses. Desse modo, se, por um lado, o modo radical com que reprimiu as revoltas e motins coloniais em Pernambuco e Minas Gerais plantou as sementes de um sentimento nativista e autonomista, por outro sua habilidade política ajudou-o a cooptar os principais homens de letras do Arcadismo brasileiro, como Basílio da Gama (1741-1795), que compôs uma epopeia, O Uraguay (1769), em sua homenagem. Sua fama internacional alcançada em vida e sua importância histórica, sacramentada em Portugal em 1934, quando foi erguida uma estátua em sua homenagem no centro de Lisboa, até hoje são objeto de polêmica e controvérsias, nas universidades e mesas dos bares, onde disputam primazia, no decorrer da história, duas correntes, uma antipombalina, pela crueldade de suas punições, que não pouparam nem os nobres nem o clero, e outra filopombalina, pelas suas medidas econômicas e educacionais inovadoras. Assim, Pombal, com suas medidas aplicadas sistematicamente durante o seu consulado governativo, pode ser considerado uma espécie de proto-fundador do Brasil: erradicação de focos de oposição e experiências de controle do território fora do controle do Estado; redefinição da geografia colonial de tutela política ibérica; estatização da administração de todo o território brasileiro; imposição de uma língua única, o português, e proibição de outros idiomas nativos; estabelecimento do ensino público em detrimento das instituições privadas, nomeadamente dos muitos colégios dos Jesuítas extintos; criação de companhia monopolista para gerenciamento do Estado através de uma oligarquia de poder econômico para ter sobre a alçada da coroa os setores vitais da economia; manutenção de uma política de ensino superior elitista e centralista que manteve apenas uma universidade na metrópole, obrigando os estudantes brasileiros a obter os graus acadêmicos em Coimbra; difusão de uma propaganda que fazia uma releitura histórica de um passado decadente dominado pelos Jesuítas e afirmação da bondade da política iluminista, que teria instaurado um tempo e um homem novos, libertos dos grilhões do obscurantismo e da falta de liberdade pensante. Abrimos esta edição de número 4 da Revista de Estudos de Cultura (REVEC) dedicada ao célebre ministro português com O MARQUÊS DE POMBAL E A INVENÇÃO DO BRASIL: coordenadas históricas, texto de Luiz Eduardo Oliveira e José Eduardo Franco. Nele os autores buscam estabelecer as coordenadas históricas para se pensar a relação entre a política econômica, cultural e linguística da governação pombalina, na segunda metade do século XVIII, e o lento processo de unificação geográfica, independência política e formação discursiva da identidade cultural e depois nacional da América portuguesa, no decorrer do século seguinte. Para tanto, apoiados no suporte teórico da história cultural e dos estudos culturais, valem-se os autores da historiografia relacionada ao período, bem como de fontes legislativas, literárias e epistolares, além de uma bibliografia atualizada sobre o tema. Em seguida, temos o artigo de Marcelino da Costa Alves Junior, LA GEOPOLÍTICA POMBALINA EN LA AMAZONIA SEPTENTRIONAL BRASILEÑA Y LA CONFIGURACIÓN DEL TERRITORIO DEL AMAPÁ (XVI-XX), que pretende informar acerca da geopolítica pombalina na região setentrional da Amazônia e compreender a ‘limiaridade’ possível de expansão das fronteiras através das diversas contendas – sobretudo, diplomáticas –, além de tornar visível a história do Amapá a partir das grandes navegações de ‘conquista’ e o contexto da região, protagonizados pelos primeiros exploradores da região do Cabo do Norte. Em MARQUÊS DE POMBAL: retrato sem moldura, Jean Pierre Chauvin discute os diferentes perfis do controverso ministro, em sua atuação durante o Reinado de Dom José I, no período de 1750 a 1777. Para tanto, serve-se de duas biografias, Perfil do Marquês de Pombal (1882), do romancista Camilo Castelo Branco, e O Marquês de Pombal e a sua Época (1909), do historiador João Lúcio de Azevedo. O “TERREMOTO” NA EDUCAÇÃO PROVOCADO PELO MARQUÊS DE POMBAL, de Paulo Assunção, por sua vez, apresenta as transformações decorrentes das intervenções políticas e administrativas feitas pelo Marquês de Pombal, enquanto Primeiro-Ministro, destacando as transformações urbanas em recurso e a remodelação do sistema de educação de Portugal e de todo o seu vasto império colonial. Já AS REFORMAS POMBALINAS E OS COMPÊNDIOS DE LÍNGUA INGLESA, de Elaine Maria Santos, busca identificar de que forma as orientações para o latim e o português influenciaram as publicações de compêndios em língua inglesa, e de que modo essas características não foram alteradas, mesmo com a queda do Marquês de Pombal. Para tanto, foram analisados um compêndio de 1759, um de 1812 e outro de 1827. No caso de A UNIVERSIDADE DE COIMBRA E OS ESTATUTOS POMBALINOS, Cristiane Tavares Fonseca de Moraes Nunes verifica como a temática da reforma pombalina na Universidade de Coimbra significou os fins de uma política educacional considerada como elemento propulsor de um ideal de nação. Segundo a autora, esse foi o mote para a elaboração dos Novos Estatutos de 1772, que tiveram força de lei e representaram as mudanças instituídas pela governação pombalina, sob a justificativa de decadência nos estudos universitários, que até então eram centralizados nas mãos dos jesuítas. No artigo A ACADEMIA BRASÍLICA DOS RENASCIDOS A SERVIÇO DO MARQUÊS DE POMBAL: obediência e encômio, Carlos Eduardo Mendes de Moraes, Heloísa Viccari Jugeick Beline e Marcela Verônica da Silva discutem a relação entre a Academia Brasílica dos Renascidos, agremiação fundada em 1759 na Bahia, e a política ilustrada do Marquês de Pombal, mecenas desta academia, de forma a compreender como esta instituição letrada contribuiu para o projeto do Marquês: a expulsão dos jesuítas do Brasil. Ellen dos Santos Oliveira, por sua vez, analisa, em O CICLO POMBALINO NA LITERATURA BRASILEIRA – O Uraguai (1769), O Desertor (1774) E O reino da estupidez (1818), estes três poemas produzidos a partir da segunda metade do século XVIII. Conforme a autora, tais poemas, assim como uma vasta produção artística e cultural então produzida, demonstram claramente o engajamento de seus autores na política pombalina. Em O DESENVOLVIMENTO DA QUÍMICA NO BRASIL E A TRANSFORMAÇÃO NO ENSINO POR MEIO DAS REFORMAS POMBALINAS, Fernanda Kelly Macario de Faria Daguano, Rafael Cava Mori, Antonio Aprigio da Silva Curvelo investigam o modo como as reformas de Pombal foram capazes de desenvolver setores ainda estagnados do ensino brasileiro, como a ciência, especialmente a Química. Para os autores, essas reformas, que também atingiram o Brasil, tornaram Portugal atualizado em termos de conhecimento químico e promoveram novas disciplinas, reformulações de compêndios e novos espaços na Universidade de Coimbra, como laboratórios, gabinetes e jardins botânicos. Sara Rogéria Santos Barbosa, em A LEGISLAÇÃO POMBALINA E A REFORMA DOS ESTUDOS MENORES, analisa como se deu a Reforma dos Estudos Menores no Brasil, parte essencial da legislação pombalina acerca do ensino em Portugal e suas colônias. A pesquisa foi realizada a partir da análise da algumas peças legislativas acerca do ensino de línguas, especificamente aquelas promulgadas entre os anos de 1759 e 1771, que fazem parte do conjunto de leis que constituíram a primeira fase da reforma pedagógica ocorrida em Portugal e seus domínios. Fechamos nosso quarto número com O MARQUÊS DE POMBAL E O ILUMINISMO NA FORMAÇÃO DO ESTADO MODERNO PORTUGUÊS, de Thadeu Vinícius Souza Teles. Aqui, o autor relaciona as medidas do Marquês de Pombal com os ideais da tradição iluminista em sua manifestação lusitana durante a formação do Estado moderno português. O estudo foi realizado através de um levantamento bibliográfico que lançou mão de fontes históricas, bibliográficas e documentais para facilitar a compreensão da aplicação das ideias iluministas arregimentadas estrategicamente pelo déspota esclarecido Pombal. Tenham todos uma boa leitura. Os editores

REVISTA DE ESTUDOS DE CULTURA v. 5 n. 15, Set.- Dez. POMBAL EDUCADOR (2019)

REVISTA DE ESTUDOS DE CULTURA, 2019

Este dossiê vincula-se a um projeto de investigação e preparação da obra completa do Marquês de Pombal, em 32 volumes criticamente anotados (“Para a construção de um corpus pombalino: Part I – Os textos historiográficos do Marquês de Pombal” (FCT – PTDC/HAR-HIS/32197/2017). O projeto busca fazer o levantamento de toda a obra escrita do Marquês de Pombal ou por ele diretamente inspirada e preparar uma edição criticamente anotada e atualizada, promovendo assim uma renovação dos estudos pombalinos por meio de uma abordagem interdisciplinar, para além das visões parciais motivadas pelas paixões polêmicas que ora desvalorizaram, ora supervalorizaram o significado de sua ação. Foram compilados artigos relacionados aos escritos pombalinos relativos à instrução pública, de modo geral, e ao ensino de Humanidades de modo particular, responsáveis pelo que se convencionou chamar, na historiografia educacional, de reformas pombalinas, bem como à sua repercussão no Brasil. Foi durante o governo pombalino que se institucionalizou o ensino de humanidades em Portugal, bem como a instrução comercial e militar. Podemos dizer, assim, que a governação pombalina foi um divisor de águas na história da educação de Portugal e seus domínios, uma vez que, pela primeira vez, não só reformou o ensino das línguas clássicas e institucionalizou o ensino da língua materna, com a regulamentação das escolas menores, mas também o das línguas estrangeiras modernas, isto é, das então chamadas “línguas vivas” (francês e inglês), que passaram a constar os planos de estudo dos cursos recém-criados de instrução comercial e militar. Contudo, ao contrário do que certa historiografia educacional faz acreditar, não havia, propriamente, uma política pombalina de instrução pública, embora a conjuntura histórica e os problemas de ordem prática que o ministro de D. José teve que enfrentar forçaram-no a tomar medidas legislativas que, do ponto de vista educacional, iriam modificar fundamentalmente a estrutura estabelecida pela tradição jesuítica, o que fez com que Portugal, em muitos casos, tomasse a dianteira dos outros países da Europa nessa matéria. Abrimos este dossiê com o artigo O PAPEL DA EDUCAÇÃO PARA A EMERGÊNCIA DE UM HOMEM NOVO NA ÉPOCA DAS LUZES: antecedentes teóricos e aplicações práticas no projeto político pombalino, escrito por Susana Mourato Alves-Jesus. Nele, a autora discute a valorização da educação no âmbito do pensamento português do século XVIII e o modo pelo qual a reflexão de alguns autores ajudou à construção de um olhar peculiar sobre a educação enquanto meio fundamental para a implementação de uma nova sociedade e de um renovado sentido político. Os antecedentes teóricos trabalhados foram articulados com as amplas reformas pombalinas do ensino, que intentaram, em certa medida, ainda que sob o signo das suas idiossincrasias, afirmar o sentido racionalizante e modernizante que os ideais educativo-pedagógicos da época postulavam. Em seguida, em A OBLITERAÇÃO DE ARISTÓTELES NAS REFORMAS POMBALINAS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA, Paula Carreira, tomando como base a publicação do Compêndio Histórico do Estado da Universidade de Coimbra (1771) e dos Estatutos de 1772, analisa o modo pelo qual a construção propagandística pombalina de pendor antijesuítico aproveitou o debate intelectual que se vinha consolidando, sobretudo desde o século XVII, para associar negativamente a figura do estagirita aos Jesuítas, através do seu ensino de matiz escolástico. A pesquisadora destaca que a influência do legado aristotélico no contexto medieval e escolástico posterior constitui-se como argumento forte no combate ao edifício pedagógico inaciano, sendo, por isso, repudiado pela política reformista de Pombal. No texto O COMÉRCIO NAS REFORMAS POMBALINAS DA INSTRUÇÃO, Thadeu Vinícius Souza Teles relaciona o comércio às reformas empreendidas por Sebastião José de Carvalho e Melo na instrução pública, a partir de fontes históricas, bibliográficas e documentais, de modo a compor um breve panorama para facilitar a compreensão do lugar do comércio nas medidas pombalinas, especialmente nas Aulas de Comércio. Notou-se que, na medida em que Pombal priorizou o comércio nas iniciativas da instrução, ele educou o trabalho nacional e fomentou uma das primeiras manifestações formais de instrução comercial na Europa. Elaine Maria Santos, em AS REFORMAS POMBALINAS DA INSTRUÇÃO PÚBLICA NO BRASIL: um caso de fracasso?, apresenta, de forma sucinta, as principais peças legislativas do período pombalino no que se refere à instrução pública, analisando as dificuldades de implantação das Reforma Pombalinas no Brasil e discutindo sobre a eficácia das ações desenvolvidas em terras brasileiras. Após uma análise da legislação e da bibliografia relacionada a essa temática, fica claro que, apesar de não ter se estendido a todo o território Brasileiro, as reformas pombalinas não podem ser consideradas como um caso de fracasso, uma vez que o sistema educacional vigente é reflexo de muitas das determinações verificada no período josefino, que teve o Marquês de Pombal como um de seus maiores expoentes. O artigo OS LIVROS DIDÁTICOS NA CAPITANIA DA BAHIA ENTRE AS REFORMAS POMBALINAS E O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA (1759- 1822), escrito por Pablo Antonio Iglesias Magalhães, objetiva identificar e analisar os livros didáticos que circularam na Capitania da Bahia, desde o início das reformas pombalinas na educação portuguesa (1759) até a eclosão da Guerra de Independência naquele território ultramarino. O autor comprova que os manuais escolares foram pensados e produzidos como instrumentos políticos, usados para legitimar a manutenção da administração, da língua, da religião e dos costumes metropolitanos sobre a América portuguesa. No caso de MULHERES SERGIPANAS NO PERÍODO POMBALINO: uma análise a partir de inventários do século XVIII, Vera Maria dos Santos, Simone Silveira Amorim e Ana Carla dos Santos Cardoso analisam a vida de três mulheres da elite setecentista sergipana: Leonor Rodrigues Fraga (1752), Izabel de Barros Lima (1753) e Maria Cardozo de Oliveira (1762). Para o estudo do comportamento das famílias setecentistas sergipanas, na época pombalina, os inventários judiciais das três mulheres mencionadas foram analisados à luz do “paradigma indiciário” de Ginzburg (1989). As questões relacionadas à capitania de São Paulo na segunda metade do século XVIII são tratadas no artigo A APLICAÇÃO DOS PADRÕES DE ENSINO PROPOSTOS PELO MARQUÊS DE POMBAL NA CAPITANIA DE SÃO PAULO. Renata Ferreira Munhoz e Renata Ferreira Costa trabalharam com a análise de um ofício manuscrito enviado pelo Morgado de Mateus ao Marquês de Pombal, no qual o governador, de maneira metalinguística, aborda a sua produção manuscrita autógrafa em sua secretaria de governo. A partir de documentação manuscrita, inferem-se circunstâncias de cunho ideológico associadas à configuração da reforma do ensino na capitania de São Paulo da segunda metade do século XVIII. Em O ANTAGONISTA POMBAL E O DISCURSO DE DEFESA DA FORMAÇÃO DO ESPÍRITO CIENTÍFICO, Cristiane Tavares Fonseca de Moraes Nunes destaca o papel do Marquês de Pombal em oposição ao protagonismo jesuítico vigente e a construção de uma nova identidade nacional gestada sob a luz da ciência e da razão, com lócus privilegiado para a Universidade de Coimbra, que assumiu a função de força motriz do progresso, alicerçada na ciência e nos ideais iluministas que dariam suporte a um projeto de nação. Fechamos esta edição com o texto, escrito em inglês, MARQUIS OF POMBAL WITHIN REPRESENTATIONS: an analysis of Brazilian scientific journals and books, de Nayara Stefanie Mandarino Silva e Elaine Maria Santos. As autoras apresentam os primeiros resultados de uma pesquisa em andamento, na qual foram levantados e analisados artigos científicos publicados em periódicos e escritos por autores brasileiros sobre Pombal e, a partir deste levantamento, analisaram o modo pelo qual ele é representado. A análise dos 341 textos encontrados mostra o Marquês de Pombal, sob diversos ângulos, desde como proto-fundador do Brasil até o de destruidor da educação, de modo a ser possível perceber como essas representações são construídas e solidificadas com o tempo. Tenham todos uma boa leitura. Os organizadores

A Universidade de Coimbra e a Reforma Pombalina de 1772

2013

A presente dissertacao dispos do objetivo de investigar o impacto da Reforma Pombalina de 1772 sobre a Universidade de Coimbra. Para tanto, alem de varias obras sobre historia politica, economica, cultural e educacional referentes ao periodo, foram utilizados alguns pressupostos teoricos relativos ao conceito de nacao. Como fonte da pesquisa, foram consultados, dentre outros documentos, a legislacao pombalina, a historiografia classica sobre o assunto e, sobretudo, o Compendio Historico (1771) e os Novos Estatutos (1772), quesustentaram as finalidades da composicao da nova Universidade estabelecidas pelo seu reformador, Sebastiao Jose de Carvalho e Melo, o Marques de Pombal. Como conclusao, evidenciou-se que a reforma educacional vinculada aum programa pedagogicose firmou nao so como uma proposta de modernizacao do reino portugues, mas tambem como um libelo contra todo o sistema de ensino jesuitico que ate entao era dominante em Portugal.

A revolução das luzes: progressos e limites da política reformista pombalina

Coleção E-Pomb@l, 2022

Esta coletânea é composta de textos apresentados no I Simpósio Pombalino Internacional, realizado de forma híbrida entre os dias 29 de novembro e 3 de dezembro de 2021, na Universidade Federal de Sergipe. O evento, que teve como tema “A revolução das luzes: progressos e limites da política reformista pombalina”, buscou marcar o início dos trabalhos da Cátedra Marquês de Pombal, sétima Cátedra Camões no Brasil e quinquagésima quinta no mundo, criada com o propósito de desenvolver um conjunto de iniciativas de caráter científico e cultural orientadas para a reflexão e a investigação sobre o século XVIII no Brasil e em Portugal, a partir do trabalho de pesquisa em curso no Núcleo de Estudos de Cultura da Universidade Federal de Sergipe, com quatro linhas de pesquisa da UFS: História da Educação; Estudos Linguísticos e Literários; Cultura, Memória, Identidade e Filosofia da História e Modernidade.

REVISTA E ESTUDOS DE CULTURA n. 6, Set. - Dez.: Jesuítas e Ilustração: rupturas e continuidades (2016)

REVISTA E ESTUDOS DE CULTURA, 2016

Dando continuidade ao nosso dossiê sobre o tema Jesuítas e Ilustração: rupturas e continuidades, iniciamos o número seis de nossa Revista de Estudos de Cultura com Unidos num só corpo: jesuítas, continuidades e rupturas, de Ligia Bahia Mendonça. O artigo busca refletir sobre o legado dos jesuítas à Ilustração, abordando um momento pouco estudado na historiografia da Educação brasileira, que é a permanência dos jesuítas no Brasil pós Reforma Pombalina. Segundo a autora, a investigação identificou a importância dos jesuítas junto à Coroa portuguesa, analisando o “século das luzes” como inspirador da educação que a Ordem praticava e seguindo pistas de resistência e permanência da educação inaciana na cidade do Rio de Janeiro, bem como as estratégias e táticas utilizadas pelos religiosos para resistir à expulsão dos jesuítas do território lusitano ornado por Pombal. Em O Padre Inácio Monteiro, entre a ruptura e a continuidade, Carlos Maduro pretende retratar o perfil do P.e Inácio Monteiro, um homem culto, de espírito moderno e pioneiro dos estudos científicos em Portugal. Conforme o autor, Inácio Monteiro mostra, de forma muito peculiar, uma outra perspectiva da Companhia de Jesus bastante conhecida dos diferentes estudiosos da Ordem de Santo Inácio, mas também convenientemente esquecida e oportunamente ignorada. A “expulsão dos jesuítas” como lugar-comum, de Jean Pierre Chauvin tenta relativizar alguns relatos sumários e imprecisos a respeito das dissensões entre a Coroa portuguesa e a Ordem da Companhia de Jesus. Assim, busca desabilitar fórmulas discursivas cristalizadas e orientadas pela brusca ruptura e o salvacionismo, as quais são personificados, no caso português, na figura de Sebastião José de Carvalho e Melo. Paulo Assunção, por sua vez, em O colégio jesuítico da Bahia: entre a sua fundação e a invasão holandesa, destaca o processo de formação do Colégio da Bahia no decorrer do século XVI até o momento da invasão holandesa, dando ênfase à edificação do colégio e às necessidades materiais para o funcionamento da instituição. Em A herança jesuíta ressignificada no grande projeto da ilustração, Maria Regina Barcelos Bettiol busca mostrar que não houve apenas uma ruptura com o passado e sua tradição, mas, em certos aspectos, uma continuidade das ideias jesuítas adaptadas às transformações que ocorreram no contexto social e político da França do século XVIII. Já Fábio Falcão Oliveira, em História da educação: fronteira, missões e rupturas territoriais, busca perceber o fluxo do comércio na fronteira da Capitania de Mato Grosso, iniciando desde sua constituição até a chegada dos jesuítas portugueses. Assim, o autor pretende confrontar as duas bandeiras, a de Portugal e de Castela, tanto na possibilidade de granjear terras como num enfrentamento religioso que se deu não apenas nas terras espanholas, mas nas adjacências territoriais brasileiras com os jesuítas portugueses contra os castelhanos. Em Os jesuítas e as reformas pombalinas: rupturas e continuidades, Luiz Eduardo Oliveira busca mostrar até que ponto as rupturas promovidas pelas reformas pombalinas significaram um rompimento ou continuidade com relação à pedagogia jesuítica. Gabrielle Cornelli, em Platão e os Guaranis: utopias transatlânticas na obra De Administratione guaranica comparata ad Rempublicam Platonis commentarius de José Manuel Peramás, dedica-se ao estudo da obra De Administratione guaranica comparate ad Republicam Platonis commentarius, escrita pelo jesuíta catalão José Manuel Peramás e publicada em 1793. A obra é concebida em polêmica com as utopias liberais e ilustradas modernas que o autor qualifica como epicuristas e desrespeitosas das santas instituições. Neste intento polêmico Peramás recupera a utopia política de Platão, expressa tanto na República como especialmente nas Leis. Tenham todos uma excelente leitura. Os editores José Eduardo Franco Karl Heinz Arenz Luiz Eduardo Oliveira Maria Regina Barcelos Bettiol

A legislação pombalina e a ideia de nação

VI Congresso Brasileiro de HIstória da Educação, 2011, Vitória do Espírito Santo. VI Congresso Brasileiro de História da Educação, 2011. p. 1-11., 2011

O tema da nação e das identidades nacionais, nas últimas décadas, assumiu uma centralidade digna de nota na produção acadêmica relacionada às humanidades, especialmente nos campos histórico-educacionais, linguísticos e literários, bem como nos estudos ditos culturais. O que chama atenção, contudo, na ênfase a esse tema, é a sua natureza discursiva, bem como seu caráter simbólico, uma vez que as nações se constituem e se consolidam tanto em seu aparato jurídico-militar quanto no imaginário coletivo, assumindo formas concretas nos Estados-Nação que lhes dão suporte. Nesse sentido, estudar as estratégias e processos discursivos mediante os quais as identidades nacionais se constroem é, em grande medida, desconstruir os discursos que lhes dão sustentação e legitimidade, mediante uma releitura histórica e crítica de seus indícios, registros e documentos.