Os duplos de Sebald (original) (raw)

Vertigem passada a limpo: uma lista do espólio de W. G. Sebald

O breve artigo a seguir busca apresentar uma lista de anotações de W. G. Sebald presente em seu espólio literário, com o intuito de abrir caminho para uma abordagem de um conjunto de manuscritos ainda pouco explorados pela fortuna crítica do autor: as listas. Focado em uma possível poética de anotações e citações e na materialidade da oficina literária do escritor, interessa-me aqui apresentar o manuscrito menos por um interesse crítico genético que possa provocar, do que por sua qualidade enquanto gênero, constituído por uma economia e programa textuais próprios.

D. Miguel e os seus duplos

Como noutros países do Sul da Europa a implantação do liberalismo em Portugal no século XIX foi um processo longo e conflituoso. Na verdade, embora a primeira revolução liberal portuguesa tenha ocorrido em 1820 inscrevendo-se assim na vaga revolucionária que, da Espanha ao Piemonte, sacudiu vários estados da Europa meridional, foi só em 1834 que os liberais conseguiram vencer a tenaz resistência dos partidários do absolutismo. Tal como os carlistas em Espanha os absolutistas portugueses tinham também como referência uma figura dinástica cujo direito ao trono evocavam: o infante D. Miguel, filho segundo de D. João VI e irmão de D. Pedro o herdeiro do trono que viria a tornar-se no primeiro imperador do Brasil. Defendendo que D. Pedro, ao tornar-se soberano da antiga colónia portuguesa sulatlântica cuja independência ele próprio tinha promovido, perdera os seus direitos ao trono português, os partidários do absolutismo rejeitaram a Carta Constitucional outorgada por este príncipe e recusaram a solução dinástica por ele proposta que passava pelo casamento da sua filha D. Maria da Glória, em quem abdicou do trono português, com o seu irmão D. Miguel. Quando em 1828 D. Miguel chegou a Portugal para, supostamente, dar execução às disposições do seu irmão, foi de facto aclamado rei e rei absoluto pelos seus apoiantes sustentados por uma forte mobilização popular.

Aquele que passeia ao teu lado : O fascínio dos duplos em Máriode Sá-Carneiro e Richard Weiner

2019

Resumo: O presente artigo, de foro comparatista, tem por objetivo analisar o tópico do duplo na obra de dois autores pertencentes a duas literaturas distanciadas entre si, a portuguesa e a checa. Trata-se de Mário de Sá-Carneiro (1890-1916) e de Richard Weiner (1884-1937), dois modernistas que viveram na mesma época, em Paris, absorvendo os mesmos estímulos artísticos e literários. Na obra de ambos os autores, com efeito, verificam-se alguns traços comuns, tipicamente modernistas, tais como o recurso à subjetividade e o questionamento da identidade/alteridade pessoal. Para os fins da análise do duplo, que constitui um dos tópicos aglutinadores da obra destes dois autores, foram escolhidos os contos «Eu-próprio o Outro» (1915), de Sá-Carneiro, e «Os duplos» («Dvojníci», 1916), de Weiner. Palavras-Chaves: O tópico do duplo; o conto português; o conto checo;

A pós-memória em Patrick Modiano e W.G. Sebald

Alea : Estudos Neolatinos, 2013

Resumo O artigo aborda a questão da pós-memória da chamada Segunda Geração através da análise dos romances Uma rua de Roma (Rue des boutiques obscures, 1978), de Patrick Modiano, e Austerlitz (Austerlitz, 2001) de W.G. Sebald. Patrick Modiano (nascido em 1945) é um escritor francês, cujo pai judeu (sobre)viveu na Paris ocupada enquanto W.G. Sebald (1944-2001) era alemão e seu pai lutou na Wehrmacht. Nenhum dos dois pais falou com os filhos sobre suas atividades no período da guerra. Assim, sem explicações, sem legado, a geração que nasce durante a guerra ou logo depois evoca em sua obra literária o trauma e o silêncio que recebeu como herança.

Mendel enrolado na dupla-hélice

Genética na Escola

Essa atividade permite ao aluno reavaliar a sua rede de conhecimento por meio da elaboração de um mapa de conceitos que busca estabelecer relações relevantes entre conceitos da Genética Mendeliana e conceitos da Genética Molecular.

As duplicidades do Édipo Rei de Sófocles

Resumo: Os principais estudiosos da peça de Sófocles, Édipo Rei (S. OT), na qual Édipo figura como governante supremo de Tebas, sugerem que a característica determinante dessa personagem seria uma espécie de ambivalência ou duplicidade fundamentais. Nesse sentido, Édipo seria na verdade não apenas um, mas dois. Assumindo essa caracterização como típica do discurso trágico (tal como sugere Jean-Pierre Vernant), demonstraremos que um agravamento de algo dessa ordem compromete a unicidade desse mŷthos, bem como suas personagens e suas falas, já que até mesmo seu protagonista é cindido em duas figuras diferentes e, de certa maneira, antagônicas. O objetivo do presente artigo é atentar para a complexidade da construção de seu enredo – em seus diferentes estratagemas para proporcionar deslocamentos espaço-temporais, situações tensas, expressões de conteúdo dúbio e de valor indecidível – com que se configura o crescendo na significação trágica do drama até sua dissolução na cena em que uma verdade mais profunda é revelada num cegante e violento esplendor. O conflito entre a duplicidade da realidade humana e a univocidade do discurso divino atinge um paroxismo que já era reconhecido na própria Antiguidade e que é responsável por fazer com que essa peça seja considerada por muitos a obra-prima de Sófocles, quiçá de todo o repertório trágico da Atenas clássica. Abstract: The main scholars that analyzed Sophocles’ play, Oedipus the King (S. OT), in which Oedipus figures as the supreme ruler of Thebes, suggest that the determining feature of this character would be a kind of fundamental ambivalence or duplicity. In this sense, Oedipus would be actually not only one, but two. Assuming this characterization as typical of the tragic discourse (as Jean-Pierre Vernant suggests), we intend to demonstrate that an aggravation of something of that order undermines the unicity of this mythos, as well as its characters and their speeches, since even its protagonist is split in two different figures (who are in a certain way antagonistic). The objective of the present paper is to pay attention to the complexity of its plotting – in its different stratagems to proportionate space-time displacements, tense situations, expressions of dubious content and of undecidable value – with which the crescendo in the tragic significance of the drama is developed, up to its dissolution in the scene where a more profound truth is revealed in a blinding and violent splendor. The conflict between the duplicity of human reality and the univocity of divine speech reaches a paroxysm that was recognized as such even in Antiquity and that is responsible for making this piece, in the opinion of many people, Sophocles’ masterpiece, perhaps the masterpiece of all classical Greek tragedies.

O desenho e os seus duplos

Texto do catálogo da exposição do escultor português Rui Sanches, Reflexos. Almada, Casa da Cerca-Centro de Arte Contemporânea, 2015.

O Duplo em Frankenstein

This paper focuses the monster, in Mary Shelley's Frankenstein, as the double antagonic being of his creator, and also as a powerfull sign of alterity. It has two approaches: mythological and psycho-analitical. The latest one will be based especially on Freud's texts, on the book called The duality, by Eduardo kalina and Santiago Kovadloff and on Melanie Klein's concepts about paranoid.

Écfrase na poesia de W. G. Sebald

Cadernos benjaminianos, 2016

Resumo A obra crítica e a ficcional de W. G. Sebald se pautam pela incessante busca da linguagem apropriada para tratar a perseguição dos judeus e a violência do nacional-socialismo. O caso de sua poesia não parece ser diferente. Nesta abordagem da poesia se parte do poema Nach der Natur (Ao natural) com o objetivo de analisar as representações visuais prenhes de evocações ao sofrimento de figuras religiosas. Pergunta-se, em consonância com a cautela linguística do conjunto dessa obra ficcional e crítica, de que maneira a sintaxe entre as personagens/personalidades mencionadas e as imagens intercaladas constituem igualmente a pesquisa do tom adequado para se reportar à história. À procura de respostas para essas questões iniciais, se analisa a écfrase poética presente nesse poema pleno de alusões a obras plásticas que vêm acompanhadas das respectivas descrições. À guisa de ilustração se recorre neste artigo à primeira parte do poema acerca das figuras religiosas compostas por Matthias Grünewald - artista de expressão renascentista/barroca que ficou conhecido pelas abordagens do sofrimento humano. Por sua vez, as reflexões que Sebald empreende sobre a pintura hiperrealista de Jan Peter Tripp e o modo diferenciado como Jean Améry insere fraturas em seus textos sobre tortura com a finalidade de burlar a acedia e estimular a leitura mais consciente iluminam o procedimento poético no longo poema Ao natural. O que mais justifica a analogia é a fratura que emerge da terceira parte do poema, uma écfrase concernente à pintura de Altdorfer.