O SAGRADO EM TOLKIEN: CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DA MORTE (Extended Version) (original) (raw)

Espreita a Morte, fado de tudo que se dá numa espaço-temporalidade, para onde convergem todas as encruzilhadas no único caminho possível. A despeito da tradição ocidental, acostumada a enxergar o mundo sob a ótica da ambivalência, ela não é nem só chegada nem só partida, mas ambas, faces do mesmo raio a percorrer os caminhos do círculo. Busca-se aqui pôr em questão o horizonte da morte na obra do autor J. R. R. Tolkien e sua relação com o humano, não a partir de uma visão dicotômica que entende o bem como revés do mal, sagrado do profano, vida da morte. Pois, como fica claro em O Silmarillion, se tudo tem na fonte criadora sua origem mais remota, como apontar para isto ou aquilo os dedos acusadores da moral e ornar com predicados o mundo se dando como realização de si mesmo? Relacionando com conceitos de Walter Benjamin, que percebeu no homem moderno um novo olhar sobre a morte, sobretudo de recusa e exclusão, podemos observar que há também esta transformação no homem tolkieniano. Se a morte, em princípio, era um dom a proporcionar ao homem todas as possibilidades de presentificação daquilo que ele é, com o declínio de Númenor esta relação se desfaz: passa-se a encará-la como a Maldição do Homem, a incerteza que gera temor. Por isto ela precisava ser controlada e, na medida do possível, subjugada; pois o destino daquele que é amaldiçoado é a eterna busca por salvar-se da condenação. Outra influência na confecção destes pensamentos concerne a Freud. Em “Totem e tabu”, ele traz à memória o sentido de sagrado na morte como algo que foi digno de louvores e temores, sempre presente, mas envolto em mistério, assim era para muitos povos antigos. Para eles, o sagrado era a primeira ascendência genealógica, seu parente mais antigo, isto é, o que funda uma família, consequentemente, um povo. Neste sentido seria a morte um próprio do homem, quiçá sua plenitude de realização, a grande saída de si – ex-istência.