Nas malhas da memória (original) (raw)

O presente trabalho tem por objeto a narrativa A varanda do frangipani (2007), de Mia Couto. Nele, almeja-se, confrontando os diversos traços que compõem a narrativa, discorrer a respeito da constituição da memória, traço que percorre todo o texto. Mergulhando nas origens das personagens, ao travar contato com seus relatos, o narrador-personagem permite-se entretecer diálogos entre o ontem e o hoje, através da capacidade de ouvir, sendo testemunha das testemunhas de um tempo. Assim, ao tomarem-se as reflexões sobre a memória como paradigma, é possível pensar em uma literatura carregada de mistério e vestígios a serem desvendados ou revelados, como ocorre com a investigação na narrativa mencionada. A mistura de elementos, que compõem as narrativas, acaba propondo novos olhares sobre o mundo do entorno, transformando o sólito em insólito, ao formarem-se como obras embebidas em um animismo telúrico, próprio à crença, em um plano auxiliar paralelo, descrito pelos asilados. O movimento de idas e vindas, concretizado no interior da narrativa, dificulta a pacífica investigação empreendida pela personagem Izidine Naíta, que não consegue desvendar pacificamente os insólitos mistérios da varanda, por acabar neles imerso. Em uma narrativa marcada por uma constante imersão em fluxos de consciência, tem-se a convivência harmônica entre os realia e os mirabilia.