(Carlos Nelson Coutinho: a crítica marxista da literatura (Carlos Nelson Coutinho : a Marxist critique of literature) (original) (raw)

A crítica literária promovida por Carlos Nelson Coutinho possui entre outros méritos o de se respaldar de forma pioneira nas categorias da estética de Lukács para compreender a literatura brasileira (não somente ela, como veremos). Por certo, Coutinho não foi cronologicamente o primeiro dos críticos brasileiros a mencionar Lukács. Esta posição desbravadora cabe a Nelson Werneck Sodré, que publicou em 1960 a terceira edição de sua História da literatura brasileira usando Lukács especialmente em sua introdução para demarcar as fronteiras da autenticidade artística . No entanto, estamos diante de dois projetos distintos: ao passo que, em Sodré, Lukács serve somente como um suporte inicial para se delinear os caminhos da literatura brasileira e, por isso, aparece esporadicamente ao longo do texto, a não ser em seu estudo introdutório, em Coutinho, Lukács é uma presença orgânica: as suas categorias se exaurem em seus estudos, permitindo-lhe saturar de determinações a arte literária e suas leis estruturais. À guisa de exemplo, observa-se em determinado trecho de Literatura e humanismo, de 1967, o caráter da posição de Lukács não apenas no âmbito da estética marxista, mas também na história da filosofia estética: #Lukács foi o único pensador a desenvolver coerentemente a estética marxista no sentido e na direção indicados por Marx e por Engels. E, na medida em que o marxismo lhe proporcionou a assimilação da herança válida do passado, seu pensamento estético aparece como a culminação e como a forma contemporânea da tradição revolucionária e humanista que -de Aristóteles aos democratas revolucionários russos, passando por Lessing, Goethe, Hegel e tantos outros -compreendeu e valorizou a arte como uma das mais altas manifestações da grandeza e do poderio do homem na luta contra a destruição da sua integridade (Coutinho, 1967, p. 135).