A composição de narrativas pela dupla terapeuta-paciente: uma análise da sua organização e da sua seqüência de ações (original) (raw)
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Instituto de Psicologia, 2017
O intuito desta tese é introduzir a narrativa como operador comparativo para o estudo de casos clínicos. Partimos do princípio de que a psicanálise, ao longo da história, construiu e reformulou seus conceitos através da articulação entre o método clínico e as práticas psicoterapêuticas, produzindo uma experiência narrativa: uma modalidade da linguagem que articula discurso e história. Entendemos que a construção dessa experiência só foi possível devido às mudanças paradigmáticas pelas quais a psicanálise passou, reformulando constantemente seus métodos de observação, intervenção e racionalidade. A narrativa, como um procedimento das teorias práticas que não exclui a história de sua formalização, seria o operador principal para indicarmos essas transformações paradigmáticas que, na tese, são apresentadas a partir da análise da construção de três casos clínicos freudianos (Dora, Homem dos Ratos e Schreber) e das Entrevistas com Pacientes de Lacan, realizadas no Sainte-Anne. Essa análise, realizada de forma interdisciplinar, apresenta, nos casos freudianos, a relação entre literatura, teoria e história para a construção do caso e seus movimentos transformativos. Nas entrevistas de paciente temos a articulação de distintos materiais para a realização das mesmas (prontuários, entrevistas anteriores realizadas por médicos, anamneses e passagens por outras instituições), os quais são utilizados por Lacan para narrativizar o discurso trazido pelo paciente, articulando as relações entre o público e o privado (ou intimidade), dando, assim, coerência e transmissão da experiência a esses discursos. Neste sentido, enquanto em Freud temos o caso clínico como função de transmissão e construção teórica, nas Entrevistas de Pacientes de Lacan temos a narratividade como elemento de intervenção terapêutica com a apresentação da linguagem como método e objeto em psicanálise. Tanto em Freud quanto em Lacan, essas operações só se tornaram possíveis devido à articulação entre linguagem e transferência, o que torna o caso clínico uma escrita de prova das relações entre o necessário, o possível, o impossível e o contingente na psicanálise.
Construção de sentido nas narrativas de doentes crônicos
Revista Paulista De Pediatria, 2010
OBJETIVO: Entender o modo como os doentes crônicos ressignificam a vida por meio de suas práticas discursivas. MÉTODOS: Foram selecionadas seis entrevistas de um total de 17 realizadas com doentes crônicos de um hospital público da região metropolitana de Porto Alegre. As entrevistas gravadas e transcritas produziram narrativas sobre a situação existencial ante à doença, as perspectivas de futuro, a compreensão do diagnóstico e da terapêutica e o papel dos profissionais na ressignificação. As falas foram divididas em repertórios linguísticos sobre o diagnóstico e sobre a terapêutica. RESULTADOS: Nos primeiros, as narrativas de sentido estão construídas ao redor da causa da doença de fundo genético (destino) ou devido ao estilo de vida (culpa). Nos repertórios sobre a terapêutica as narrativas de reconfiguração da identidade pessoal (self) dependem da autonomia ou da heteronomia diante da palavra do médico como mediador de salvação, da percepção do corpo como fator de relação, da representação social do medicamento e da situação emocional. CONCLUSÃO: A autosatisfação depende de encontrar o fio para costurar os elementos da existência a partir de um novo molde de sentido possibilitando uma nova identidade. O profissional precisa estar atento às narrativas de reconstrução da identidade para que os meios terapêuticos produzam o efeito esperado e o enfermo se sinta sujeito do processo, assumindo com autonomia as mudanças necessárias em sua vida.
Ouvindo Histórias: Resgate de narrativas de pacientes de longa permanência
RESUMO: O artigo apresenta uma entrevista realizada com uma paciente do Instituto Municipal Philippe Pinel a partir da experiência de desinstitucionalização de pacientes de longa permanência nesta instituição. Traz um pequeno histórico da História Oral, apresentando-a como uma metodologia de pesquisa primordial de resgate de narrativas esquecidas dos pacientes há muito institucionalizados. Neste âmbito, a História Oral promove a valorização dos relatos daqueles que vivenciam o processo de mortificação promovido pelo manicômio. Conclui utilizando noções trazidas por Bourdieu, Basaglia e Foucault, de modo a potencializar as narrativas fragmentadas, a encontrar na instituição o poder de mortificar e, sobretudo, a reconhecer a resistência que encontramos à cronificação, por parte do pacientes “institucionalizados”. Palavras-chave: história oral, institucionalização, reforma psiquiátrica. ABSTRACT: This paper concerns to an interview with a pacient who lived in Instituto Municpal Philippe Pinel, based on an experience of deinstitucionalisation of long-stay psychiatric patients. It presents a historical retrospective of Oral History as well as its relevant issue in the discovery of forgotten personal reports of those chronicle patientes. The oral narratives give them new possibilities of reconstruction of their personalities often affected by the process of mortification produced by mental hospitals. The conclusion is based on theoretical considerations by Bordieu, Basaglia and Foucault about the importance of fragmented narratives, the mortification due to the mental health system and the patient’s resistence against the illness chronicity. Key words: oral history, institucionalisation, psychiatric reform.
PSICOLOGIA, 2013
As narrativas são frequentemente consideradas o meio por excelência de reconhecimento e reorganização da experiência interna dos pacientes. Neste estudo procurou‑se diferenciar e identificar potenciais marcadores narrativos de capacidade de processamento e, ao quantificá‑los em diferentes momentos do processo terapêutico, verificar se existia evidência a favor da proposta de sequencialização do trabalho terapêutico do Meta‑modelo de Complementaridade Paradigmática, em termos de estratégias gerais. Foram definidos, reconhecidos e analisados processos narrativos a nível molecular (a partir da revisão de literatura) e a nível molar (a partir da teoria do meta‑modelo supra‑referido). Em ambos os casos, enfatizou‑se as formas e capacidades de processamento da informação em detrimento dos conteúdos narrados. Os resultados evidenciaram diferenciação e movimentação entre as fases consideradas para processos moleculares e molares, e nestes últimos reconheceu‑se um padrão de progressão...
Terapia narrativa: um estudo sobre a prática com pessoas em situação de
Este artigo apresenta os resultados da aplicação da Terapia Narrativa, mediante as metodologias das Práticas Narrativas Coletivas, em um Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua -Centro Pop, do Município de Curitiba. A técnica aplicada com 14 participantes com idade entre 24 e 48 anos, foi realizada em encontros semanais, com duração de uma hora e trinta minutos, totalizando dez reuniões. A técnica do Time da Vida serviu como um recurso de vinculação entre facilitador e participantes e como método de intervenção em potencial para a reinserção social e no mercado de trabalho. Considera-se a adequação das práticas narrativas para a motivação e busca de tratamentos em dependência química. Propiciando o resgate de vínculos familiares e comunitários e contribuindo para a autovalorização dos moradores de rua. Palavras chave: Terapia Narrativa. Práticas Narrativas Coletivas. Time da Vida. População em Situação de Rua.
O poder das narrativas de experiência pessoal na moldagem da experiência e paisagem curativa
Este artigo investiga o potencial das paisagens curativas em Portugal para melhorar a saúde e o bem-estar na era pós-pandémica. Salienta a importância da criação de histórias de cura como um método de concepção para o desenvolvimento de paisagens de cura. O artigo apresenta os resultados de uma experiência realizada em Évora, Portugal, onde foi criada uma história de cura para estabelecer um espaço religioso e de fé na paisagem de cura. O estudo envolveu a promoção da história e a recolha de dados de 1000 visitantes durante um período de 10 dias, através de entrevistas semi-estruturadas e questionários de escala de Likert. Foram utilizadas análises semânticas e estatísticas para analisar os dados recolhidos, revelando que a história de cura teve um impacto significativo no nível de saúde e bem-estar percepcionado pelos visitantes. Os visitantes que ouviram a história relataram níveis significativamente mais elevados de percepção de saúde e bem-estar do que aqueles que não a ouviram. Este artigo sugere que a criação de espaços religiosos e de fé através da criação de histórias de cura é um método de concepção valioso que os arquitectos paisagistas devem considerar no desenvolvimento de paisagens de cura.
O objetivo do artigo é discutir o papel da narrativa em Medicina. Após realização de pesquisa bibliográfica explanatória e cuidadosa leitura analítica de conteúdo dos materiais publicados, concluiu-se que as narrativas em Medicina são um tópico de grande interesse para os profissionais de saúde e acadêmicos preocupados com a educação médica no futuro imediato. Para englobar toda a gama de artigos e livros sobre o assunto, o presente artigo foi divido em três partes com a finalidade de apresentar as formas de discussão mais comumente encontradas sobre o tema. A primeira articula-se a uma classificação das narrativas médicas. A segunda sublinha as inter-relações entre Medicina e Literatura, que vem sendo considerada como uma ferramenta fundamental para garantir a competência narrativa tão necessária ao soerguimento das hipóteses diagnósticas a partir da história da doença contada pelo paciente. Finalmente, são discutidas as posições atuais dos especialistas no que tange ao papel da narrativa na ética médica. Também é apontado como uma epistemologia narrativa sempre esteve contida no ensino e na prática da Medicina