Políticas Musicais e Corporações Corporais - De Mauss aos A'uwẽ-Xavante (original) (raw)

27a. Reunião Brasileira de Antropologia, Belém do Pará (Brasil, 2010)

Em “Fragmentos de um Plano de Sociologia Descritiva”, Mauss frisa a importância das técnicas corporais, do ritmo e da música para a disciplina, a “coesão social” e a “paz” no arranjo de “subgrupos” como as “classes de idade”, de “outra maneira que não a da descendência e da aliança”, superando a “anarquia”. Considerações que ecoam na “organização” A'uwẽ­Xavante e o papel pacificador de suas “classes de idade” em relação às “linhagens” e “facções” segundo Maybury­Lewis. Etnografando as classes de idade a'uwẽ-­xavante como corporações corporais, levo a proposta de Anthony Seeger para além do parentesco. Nelas aparece o poder da palavra na constituição do corpo masculino, através do furo na orelha iniciático, como pessoa que deve ouvir; e os cantadores como vinculadores de mundos e alteridades, homólogos aos chefes como indicado por Seeger, Da Matta e Viveiros de Castro em famoso texto sobre a pessoa ameríndia. Música e ritmo encorporados coletivamente caracterizam-­se como disciplina corporal aquém da “autoridade suprema do Estado”, nos termos de Mauss. Quiçá aquém da “sociedade disciplinar” de Foucault (1997 [1975]). Com isso repensa-­se o papel político dos líderes rituais, situando­-se a respeito da discussão de Seeger e Maybury­Lewis sobre o tema. E recupera­-se a importância do que Viveiros de Castro chamou de para­parentesco para se pensar a “Sociedade Contra o Estado” clastreana como “quase Estado”, conforme pesquisas recentes de Beatriz Perrone­Moisés e Renato Sztutman.

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