A Crise Ucraniana e suas Implicações para as Relações Internacionais. (original) (raw)

As Dimensões Interna e International da Crise Ucraniana

Em novembro de 2013, as ruas de Kiev foram palco de uma onda de manifestações que reclamavam uma maior aproximação da Ucrânia à União Europeia, bem como um compromisso real com reformas institucionais. Não obstante a clara conexão à situação interna do país, a crise da Ucrânia não pode ser dissociada do quadro geopolítico e de segurança em que Kiev se insere. Com o objetivo de lançar um olhar sobre a imbricada relação entre as dinâmicas endógenas e exógenas em jogo na crise da Ucrânia, este artigo começa por desconstruir a dimensão interna do conflito, para depois analisar como a dimensão externa contribuiu para o desenrolar dos eventos. O artigo termina com algumas reflexões finais sobre a crise ucraniana e as suas consequências para a paz e segurança europeia.

A Crise na Ucrânia - Entre a integração europeia e a restauração da esfera de influência russa

Em 2010, começava a nova era de Yanukovych no comando da Ucrânia, que seria mais uma vez marcada por outra revolta popular, com o início dos protestos em Novembro de 2013 a inaugurarem uma turbulência interna que iria prolongar-se até à sua demissão, em Fevereiro de 2014. No entanto, como a anexação da Crimeia por parte da Rússia mostrou, a crise da Ucrânia actual reflecte uma contestação a nível de fronteiras evidente. Por um lado, o este e sul do território preservam uma tradição de língua, cultura e identidade nas suas populações de etnia russa. Por outro lado, a Ucrânia insere-se num quadro geopolítico, além das suas próprias fronteiras, onde a Rússia tenta recuperar a sua esfera de influência e alargar o seu projecto eurasiático.

Relações Internacionais na crise da ordem liberal

December, 2020

O cenário político e econômico internacional dos últimos setenta anos, desde o final da Segunda Guerra Mundial, foi marcado pela economia capitalista e posteriormente adjetivada também liberal, que modelou as sociedades e democracias industriais avançadas. Desde então, a economia mundial tornou-se gradualmente mais aberta, com o crescimento das finanças e do investimento internacional em mercados domésticos. Esforços contínuos foram tomados para o aumento da integração econômica. A década de 1980 apresentou talvez um dos poucos obstáculos que a ordem internacional liberal defrontou. A solução trazida pela direita liberal à época, menos intervenção estatal e combate perene à inflação, foi continuada por governos de centro-esquerda durante as duas décadas seguintes. Resultado deste processo, o globalismo está enraizado na doutrina neoliberal do Consenso de Washington, que foi iniciado pelo primeiro presidente dos EUA no pós-Guerra Fria, Bill Clinton, e executado pelos sucessivos governos de George W. Bush e Barack Obama. Sua doutrina baseia-se na adoção de um conjunto 1 Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos. Atualmente, realiza estágio de pós-doutorado financiado pela FAPESP no Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais Santiago Dantas.

Os contornos do conflito Ucraniano: Uma análise das implicações do fracasso do Acordo de Minsk II

O artigo constitui uma análise em volta do Acordo de Minsk II assinado a 12 de Fevereiro de 2015 em Minsk - Bielorússia. Procura-se estudar os principais pontos que dão corpo ao acordo, especificamente, o cessar-fogo, o pull back de armas pesadas e o futuro das auto-proclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk. A seguir, faz-se uma análise da aplicabilidade do acordo recorrendo à correspondência entre o que foi determinado e o que constitui realidade.

A Federação Russa e a crise ucraniana de 2013-2014

This study seeks to investigate the role performed by the Russian Federation in the Ukrainian crisis that began in November 2013. This event resulted in the emergence of separatist movements and a military offensive led by the Ukrainian government and ultranationalist militias against the regions in the east of the country which demanded greater autonomy from Kiev, as well as the independence of the Crimean peninsula, latter annexed by Russia. In order to investigate the position adopted by the Russian government it is necessary to go beyond the issues regarding this country and Ukraine alone and also study the relationship between Russia and the Western powers in the post-Cold War period. In this sense, this work sought to investigate how the problems arising from the dissolution of the USSR and the continuous expansion of the North Atlantic Treaty Organization (NATO) influenced the Russian foreign policy in the period. Throughout the research, we tried to point out analytical elements that go beyond merely conjunctural analysis, based on the finding that crucial questions which had arisen in the 2013 crisisnotably the political and ethnic-linguistic divisions within the Ukrainian State, as well as the dispute over the tutelage of Crimeawere previously present, requiring an attentive investigation into the geopolitical and sociohistorical variables.

Anexação da Crimeia e a Crise da Ucrânia sob a perspectiva político- estratégica da Rússia

2021

RESUMO O objetivo do ensaio é analisar a anexação da Crimeia e a Crise da Ucrânia sob a perspectiva político-estratégica da Rússia. As seções do ensaio foram desenvolvidas em quatro partes. A primeira parte é referente à introdução ao estudo. A segunda parte envolve a análise da Guerra da Geórgia em 2008 e a Guerra da Ucrânia de 2014 como laboratórios para mudanças na doutrina militar russa. A terceira parte teve como objetivo discutir, por meio da literatura e de documentos, a renovação da doutrina militar da Rússia e o emprego de um novo tipo de guerra. Por fim, foram apresentadas reflexões finais e implicações para o Exército Brasileiro.

A CRISE NA UCRÂNIA E OS NÍVEIS DE ANÁLISE EM SEGURANÇA INTERNACIONAL: UM EXERCÍCIO ANALÍTICO A PARTIR DA ESCOLA DE COPENHAGEN

Conjuntura Austral, 2014

Introdução A conturbação política vivida pela sociedade ucraniana no final de 2013 e começo de 2014 está longe de ser apenas uma crise doméstica. Ainda que o muro de Berlim e a cortina de ferro tenham caído há mais de duas décadas, o país parece ser a nova fronteira de uma disputa pelo leste europeu, entre um polo ligado à Europa centroocidental (mais precisamente à Alemanha) e um polo oriental ligado à grande potência do heartland eurasiano, a Rússia. Nesse contexto, as manifestações na Praça Maidan e a subsequente destituição do presidente Viktor Yanukovich não podem ser analisadas apenas sob o prisma da dinâmica interna do Estado ucraniano. É preciso identificar as pressões externa sem diversos níveis e entender como elas se combinaram para provocar os referidos impactos domésticos.