O diálogo bíblico em "A cristã nova", de Machado de Assis (original) (raw)
Machado de Assis estabelece um forte diálogo com diferentes autores no início de sua carreira. Isso se dará especialmente na forma das epígrafes que acompanham seus poemas, as quais eram assinadas por autores diversos, como Homero, Dante, Mickiewicz, Victor Hugo, Mme. de Staël, Filinto Elísio, Almeida Garrett, Shakespeare, Álvares de Azevedo, Gonçalves Dias e tantos outros. São trinta e uma epígrafes distribuídas nas Crisálidas (1864), Falenas (1870) e Americanas (1875). Machado, que é apontado por seus biógrafos como um ávido leitor do Eclesiastes, não excluiu de suas epígrafes os textos bíblicos. Nelas há espaço para o Gênesis, os Cantares de Salomão, Naum e Mateus. O que faz de “A cristã nova”, poema das Americanas, uma composição interessante para a observação do texto bíblico nos poemas machadianos é o fato de o próprio título do poema sugerir certa cristandade acrescentada de adjetivo que a modifica, nova. Somamos a isso, principalmente, a epígrafe recortada de Naum e o Salmo 136 posto, no interior do poema, na boca de um velho judeu. Buscamos, nesse trabalho, estudar o diálogo que o poema de Machado estabelece com os textos da Bíblia que o cercam na tentativa de melhor enxergar a costura feita no poema.