Apontamentos. A Troca de Experiências (original) (raw)
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Ao estudar música indígena devemos estar atentos a uma série de fenômenos que podem passar inadvertidos. Nossa escuta musical, educada a partir dos princípios teóricos da tradição europeia, organiza mentalmente os sons ouvidos de acordo com critérios específicos: importa compreender a organização das alturas, o tipo de textura, a organização do discurso, o estilo, a expressão, a unidade, o equilíbrio, a variação. Esses critérios, adequados para analisar ou apreciar uma música de concerto, podem se mostrar inúteis na tarefa de compreender o sentido de uma música indígena. Mesmo considerando que alguns aspectos da música indígena possam ter influenciado procedimentos musicais no folclore brasileiro (por vizinhança, por contágio), os conceitos que guiam a prática, são profundamente desconhecidos para nós. É necessário estudar as formas de pensamento, o contexto e dinâmica social, para compreender qual o sentido e os critérios empregados para organizar os sons no tempo e espaço. Onde a música é executada? Como ela é executada? Por que ela é executada? Qual o objetivo de se fazer música? 1 A discussão que me proponho a fazer surge de leituras e discussões de aula da disciplina Estudos sobre práticas musicais e sociedades, ministrada pela professora Rosângela de Tugny na Universidade Federal de Minas Gerais. As leituras incluíram alguns textos-chave de filósofos ocidentais (Platão, Aristóteles, Deleuze-Guattari, Ranciére) e textos sobre música e sociedades indígenas. As reflexões deste trabalho partem destes últimos. Pretendo nesta primeira parte discutir aspectos gerais do 1 Pessoalmente, opto por usar o velho e conhecido termo "música". Sem tirar o valor de novas terminologias ("arte sonora", "trabalho acústico") que pretendem dar conta de fenômenos culturais que não se adéquam a definições tradicionais da "arte das musas", prefiro compreender o termo "música" de maneira abrangente: sons executados a partir de algum critério no tempo e no espaço. Creio que sempre há um critério para a execução de sons (e no termo "execução" incluo mídias eletrônicas e por que não, animais), até mesmo quando o princípio é a indeterminação. Se eu propuser a indeterminação como princípio, estou estabelecendo um procedimento, uma operação performática (não necessariamente organizada). Pode-se objetar ainda se os artistas plásticos, quando trabalham com o som (instalações, intervenções, esculturas sonoras), estão fazendo música. Eu penso que sim. Estão fazendo música e artes plásticas ao mesmo tempo. Ou melhor: estão fazendo música a partir de poéticas desenvolvidas no meio das artes visuais. Assim como o compositor de ópera está fazendo teatro a partir de critérios musicais. Prefiro assumir a postura (aberta ao debate) de simplificar a terminologia, mas permitir a possibilidade de que as artes não sejam consideradas compartimentos separados.
Apontamentos: a revista que não existe
Educação em Revista, 2012
O texto oferece aos/às leitores/as um processo simultâneo de produção de conhecimento e reinvenção do currículo. Ao relativizar ciência e cultura, concebendo a educação de maneira fluida, argumenta sobre a cientificidade de uma experiência político-pedagógica. O gesto de criação da revista Apontamentos permite desdobrar o espaçotempo pessoal e social; com isso, vem refletir sobre influências na subjetivação, construindo um texto amalgamado entre escrituras, buscando resistir criativamente às relações hegemônicas de poder. Teoriza seu fazer e seus percursos, compondo método em antinomia ética e estética com as posições que representam a verticalização do poder. A investigação projeta o currículo nas relações filosóficas entre o conhecimento e o cuidado de si, apoiando, prioritariamente, o estudo em Michel Foucault. Dentro dessa concepção, não haveria conteúdos pretendidos, separados das formas, da estética e de seu constituir, mas sim uma escritura conjugada em tempos e deslocamentos...
Ecopolitica, 2019
Apontamentos com observações sobre a conjuntura do presidencialismo de coalizão no Brasil
Pesquisa (auto)biográfica em Educação: Afetos e (Trans)formações, 2017
A escrita biográfica ou mesmo autobiográfica, o discurso sobre a vida de alguém ou sobre nossa própria vida, sobre afetos e vivências, experiência no âmbito do puramente subjetivo e único ou da experimentação científica, do teorizável a partir dos fatos da vida, do experimentado, são sempre discurso sobre o outro, mesmo que no caso da autobiografia trate-se de um outro que encontra morada em nós mesmos. Tendo iniciado as reflexões epistemológicas e metodológicas sobre o estudo das narrativas de vida e do método autobiográfico em outro texto publicado pelo Grupo de Pesquisa Dialogicidade, Formação Humana e Narrativas (DIAFHNA) 1 , propomos um aprofundamento de outro aspecto implicado nesta questão. Falávamos anteriormente sobre a alteridade, a relação ao outro nos moldes de uma escuta como constitutivo do lugar racional de fala. Apresentamos agora uma investigação sobre a experiência no seio da subjetividade, em como acontece o longo processo de subjetivação tratada como abertura ao outro, à alteridade. Tomamos como referencial a Filosofia da Alteridade de Emanuel Levinas 2 , filósofo judeu que elegeu a relação ética a questão fundamental do pensamento e, portanto, constitutiva de todo discurso. Primeiramente a experiência origina-se como um mergulhar em si, um voltar-se para si, um trazer o mundo à boca e saboreá-lo no seu interior, posteriormente isso se transmuta em abertura, fissura, trauma, em êxodo de si, indo ao encontro do outro, da terra prometida, mas completamente desconhecida. Propomo-nos, inicialmente, compreender o que é a subjetividade para Lévinas e como ela se constitui. Por isso, procuramos analisar o eu levinasiano na sua relação com o mundo e voltada para si mesma. Originado na sensibilidade, o sujeito surge como separação, gozo e egoísmo em função dos quais se constituem a morada, a economia e 1 TORQUATO, E.M.S. Romarias e Alteridade: a primazia da escuta in: OLINDA, E.M.B.; SILVA, A.M.S. Vidas em Romaria. Fortaleza: Ed.UECE, 2016. 2 Emmanuel Levinas é um filósofo que viveu no século XX, nascido na Europa Oriental e tendo experimetnado os grandes acontecimentos do Ocidente neste período como as Guerras Mundiais. Herdeiro da tradição judaica talmúdica que sua condição étnica lhe possibilitou e também do diálogo com a tradição filosófica de vertente fenomenológica através de Husserl e Heidegger, além de Buber e outros, desenvolve um pensamento original, no diálogo com esta mesma tradição, quando coloca a condição de possibilidade do próprio pensar na relação com a alteridade, esquecida e absorvida por uma filosofia moderna da subjetividade. (TORQUATO, 2016, p. 78-81)