Dinheiro embranquece (original) (raw)
Essa é uma afirmação comum. Segundo a sabedoria popular, alguns dos elementos levados em conta na avaliação racial dos brasileiros seriam o patrimônio e a renda, ou alguns outros fatores mais ou menos diretamente relacionados a eles -prestígio, grau acadêmico, demonstrações ostensivas de riqueza como automóveis, roupa, etc.1 Qualquer observador atento da sociedade brasileira sabe que esta é uma afirmação bastante exagerada. Primeiro, por que os indivíduos mais escuros dificilmente são considerados brancos, qualquer que seja a sua fortuna pessoal, de forma que semelhante afirmativa só pode ser feita a respeito daqueles que são considerados "pardos" na terminologia do censo do IBGE. Segundo, por que, evidentemente, ela teria que estar relacionada a algum tipo de parâmetro à qual a eventual "brancura" do indivíduo pudesse ser comparada; se, por exemplo, se dissesse que os indivíduos começam a ser considerados brancos pelos outros, então esse "branqueamento" poderia ser contrastado com a opinião desses indivíduos a respeito de si mesmos, e vice-versa. Da forma como é feita, porém, a afirmativa necessitaria de um padrão externo, uma visão neutra, capaz de estabelecer um critério racial "objetivo". E é evidente que nem essa visão neutra nem esse critério objetivo existem, nem podem existir: todos indivíduos humanos expressam, nas suas opiniões, a forma como foram socializados, e as "raças" humanas não são realidades biológicas, que possam ser medidas de forma neutra.