A notícia e os valores-notícia: o papel do jornalista e dos filtros ideológicos no dia-a-dia da imprensa (original) (raw)
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Os valores-notícia como efeitos de verdade na ordem do discurso jornalístico1
2000
A partir da premissa de que os discursos jornalísticos são dispositivos que produzem representações sociais da realidade, este artigo visa contribuir com determinadas questões para a Teoria do Jornalismo. Para esta tarefa, identifica conceitos na obra de Foucault que possam ser utilizados para a compreensão da ordem do discurso jornalístico: relações de poder, vontade de saber e efeitos de verdade. Levanta a hipótese de que os valores-notícia são conjuntos de regras anônimas e históricas que definiram as condições de exercício da função enunciativa do discurso jornalístico.
As notícias e os valores-notícia: Da tipografia ao jornalismo online
O que leva um fato a ser notícia? Para abordar esta questão serão destacadas as trans- formações ocorridas nos valores-notícia, sua flexibilidade cultural e temporal e as vertentes de estudo que surgiram a partir do Jornalismo online. Feito isso, será possível perceber que os va- lores-notícia estão vinculados a estruturas móveis dependentes da cultura jornalística e da varie- dade de meios de comunicação em que emergem. A análise de construções noticiosas no Cibe- respaço permite, por fim, respaldar essa visão de que longe de amontoados uniformes de dados, as notícias são orientadas pela tentativa da captura da atenção do leitor e ocupação harmônica dos espaços.
Confibercom (Portugal), 2014
A crise da mídia tradicional e a ampliação do poder de corporações virtuais e de segmentos diversos do entretenimento envolvem discussões sobre jornalismo, produção de conteúdo e mensuração do valor da notícia neste século. Para amparar nossa proposta de análise, cruzamos três relatórios com fatos de 2013 envolvendo mídias tradicionais e digitais, entre eles a absorção da revista Newsweek pela empresa de notícias on-line IBT Media e a compra do The Washington Post pelo fundador da Amazon. Observando tal cenário, percebemos que o jornalismo segue capaz de catapultar empresas paralelas ao segmento e de atrair a atenção/consumo de um público em busca de informações diversas. O quadro mostra a demanda por ações de reformulação das organizações jornalísticas para equalizar respeito, referência e resultado, dentro e fora do ambiente virtual, com base no jornalismo de qualidade, em meio ao “oceano do infotenimento” (Dejavite, 2006). Uma maneira de atrair o público seria reformular o conceito de valor assimilado pelos consumidores de conteúdo (Picard, 2013). Nesse ambiente de mudanças estruturais no campo da atividade jornalística, este artigo parte das análises do jornalismo pós-industrial (Anderson, Bell e Shirky, 2013) e do conceito que segue atual de valor-notícia (Galtung, Ruge, 1965/1999) para analisar as tensões entre organizações midiáticas.
Estudos em Jornalismo e Mídia, 2013
Resumo A proposta do artigo é revisitar o debate teórico a respeito das dinâmicas de seleção e de construção das notícias a partir de um quadro de referência próprio da sociologia dos campos de Pierre Bourdieu. Parte-se de uma abordagem introdutória sobre a relevância das rotinas profissionais no processo construtivo do conteúdo noticioso. Na sequência, o conceito bourdieusiano de habitus é inserido como chave-explicativa para a relação entre a práxis jornalística e a atribuição de um sentido hegemônico às notícias. Os parâmetros de noticiabilidade são interpretados como representações simbólicas incorporadas ao habitus profissional dos jornalistas com base na identificação e na categorização sob o rótulo de notícia daqueles eventos que são dissonantes da regularidade cotidiana. Palavras-chave Jornalismo; noticiabilidade; habitus jornalístico.
O meio jornalístico no Portugal de hoje : evoluções recentes e dilemas persistentes
2002
Há algumas semanas, iniciou-se em Portugal, no âmbito do Sindicato dos Jornalistas -que é uma instituição nacional e única -, o processo de constituição de um novo núcleo: o Núcleo Sindical dos Jornalistas "On-line". Explicando a sua necessidade face a novas realidades do universo mediático, um dos promotores da iniciativa alertava para a falta de ( * ) Este trabalho inscreve-se no projecto de investigação colectivo "MEDIASCÓPIO -Estudo sobre a reconfiguração do campo da comunicação e dos media em
"Tabloidização" das notícias e a reconfiguração de valores do jornalismo contemporâneo
Revista Estudos de Jornalismo, 2015
O presente artigo consiste numa revisão de literatura acerca da temática tabloidização”, que afirma que o universo discursivo dos media jornalísticos denominados como sendo de referência vem sofrendo, ao longo das últimas décadas, uma crescente e acentuada penetração dos valores noticiosos da cultura tabloide. Esse fenómeno, estudado majoritariamente no contexto da Europa Ocidental e Estados Unidos, desde fins da década de 1990, em que pesa as contribuições de Sparks (1998), Esser (1999) e Sparks & Tulloch (2000), diz respeito ao avanço de notícias leves (soft news), de linguagem sensacionalista, de temas do entretenimento e da cultura de celebridades na agenda mediática, e, sobretudo, ao estreitamento da fronteira entre jornalismo popular e de elite. As causas da tabloidização ligam-se aos aspetos relacionados ao aumento da concorrência entre as organizações noticiosas, a migração dos anunciantes dos meios tradicionais para a internet, o surgimento de novos tipos de audiência, e as modificações do cenário económico global, que acarretam o estado de crise dos media, com elevado número de despedimentos, o enxugamento da cobertura jornalística, etc. Por isso, a principal crítica que se faz a esta tendência reside no fato de que ela colabora para o “enfraquecimento” da democracia, ao diminuir significativamente a quantidade e a qualidade da informação dos cidadãos sobre temas de interesse público, como os assuntos económicos e políticos (hard news). Mas, uma nova geração de trabalhos, começa agora olhar para o debate a partir do contexto da economia política do jornalismo. Assiste-se ao surgimento da tabloidização não mais como ameaça ao jornalismo, mas como justificativa para criação de um novo mercado, que visa alcançar a nova classe média e segmentos da classe trabalhadora dos países em desenvolvimento como Brasil, Índia, China e África do Sul, onde os tabloides assumem um papel central.
JORNALISMO E ATUALIDADE EM MACHADO DE ASSIS: DAS CRÔNICAS AO QUINCAS BORBA
História Revista, 2020
RESUMO: Se a estranha atualidade das ideias de Machado de Assis não fosse sempre tão surpreendente, poderia parecer simples repetição que este texto insista em discuti-las. Algumas delas, decorrentes das análises a respeito de política e sociedade, trasbordam de suas crônicas, nas quais o cronista capta imagens, hábitos, práticas e os decortica, de modo a expor a sua natureza, os valores que os definem, as deformações que neles se naturalizam, entre outros. Mais do que comentar o cotidiano, no guarda-chuva escasso da legalidade, na associação da figura dos homens à das personagens, no culto das aparências, entre outros, as crônicas revelam uma lucidez que vai criando parâmetros para uma interpretação do Brasil. PALAVRAS CHAVE: Machado de Assis, crônica, Quincas Borba, atualidade. ABSTRACT: There's a surprising capacity of analysis of currency events in Machado de Assis' ideas. If this was not so amazing, it might seem like a simple repetition that this text insists on this topic. Machado's privileged awareness derives from his analyzes about politics and society, that overflow in his journalistic essays. There he captures images, habits, practices and decorticates them in order to expose their nature, the values that define them, the deformations that are naturalized in them, among others. More than commenting on daily life, these journalistic essays reveal that they are creating parameters for an interpretation of Brazil. Uma parte significativa da vida pública brasileira, como têm demonstrado os recentes eventos políticos e sociais, é desenhada com os traços fortes de uma corrupção generalizada, colorida por ligações e acordos obscuros, conchavos e alianças não declaradas, muitas vezes ilegais, entre grupos de comunicação, empresários, banqueiros, homens públicos etc. Não há objetivo outro que não seja o do enriquecimento individual e o da permanência de grupos em um poder quase absoluto, de forma a garantir velhos privilégios pouco partilhados. A República instalou-se, no final do século XIX, sem propor soluções à massa de ex-escravos em situação de abandono político e social. Como consequência, grande parte da população ainda vive em situação de precariedade em relação ao trabalho, pobre ou paupérrima, o que perpetua e, ao mesmo tempo, garante a perpetuação daquele abandono social. Além disso, essa mesma Professora de Literatura e Cultura Brasileiras na UNESP, São José do Rio Preto. Livre-Docente em Literatura Brasileira pela UNESP. Doutora em Teoria e História Literária pela UNICAMP. Realizou estágios de pós-doutorado em PARIS/VERSAILLES (CHCSC, Université de Versailles à St. Quentin-en-Yvelines); PARIS (Fondation Maison des Sciences de lHomme/Université Paris VII, Denis Diderot); LISBOA: Universidade Nova de Lisboa/Instituto Camões. É bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq e pesquisadora-associada ao Centre dHistoire Culturelle des Sociétés Contemporaines, da Université de Versailles à St. Quentin-en-Yvelines (desde 2013) e ao Centre de recherches sur les pays lusophones, da Université Paris 3-Sorbonne Nouvelle (desde 2015).
A primeira página e os valores da cultura dos jornalistas
Revista Brasileira de História da Mídia, 2020
O objetivo deste artigo é analisar as rotinas produtivas envolvidas no processo de edição dos jornais impressos, à luz das teorias do jornalismo. Para alcançar os objetivos, foram utilizados prefácios de livros que reúnem, segundo suas propostas editoriais, as mais relevantes primeiras páginas de jornais brasileiros. Os textos são assinados por dois jornalistas que já ocuparam cargo de direção e um colunista. A hipótese é que haja um grau de descompasso entre o imaginário que a cultura profissional construiu sobre os valores jornalísticos e as características distintivas da atividade já apontadas pelas teorias do jornalismo. A metodologia utilizada combina a análise de narrativas e revisão bibliográfica.Palavras-chave: Jornais. Teorias do jornalismo. Rotinas produtivas. Imaginário.
O momento do Jornalismo: Entre a Cultura e a Técnica da Notícia
A história do jornalismo produziu uma série de leituras sobre o evento identificado com a Gênese ou a invenção da profissão. Dentre estas, podemos distinguir uma que, tomando como ponto de partida a “cultura de notícias” na Itália renascentista lá encontra o primeiro esboço do jornalismo, e outra que descobre essa mesma arquitetura profissional no desenvolvimento de padrões textuais normatizados por uma técnica, na Era Industrial. Utilizando essas duas versões como ponto de partida, este artigo pretende fornecer uma noção mais precisa do fenômeno jornalismo, a partir da busca por uma mentalidade de época, configuração de público, exercício de crítica e liberdade de imprensa. Parte da ideia de que não se pode, efetivamente, fazer uma história do jornalismo sem analisar suas preocupações institucionais e contextuais, sua recepção pelo público e a criação de convenções e estruturas discursivas fortemente dependentes do mesmo público – nunca estagnadas ou metafísicas, já que perfeitamente mutantes. Noutras palavras, busca demonstrar que não é possível fazer uma história do jornalismo independente da própria História.
O jornalismo vive uma crise de legitimidade, que se reflete na queda dos índices de audiência, demissões em larga escala de profissionais da área e questionamentos quanto a credibilidade das informações difundidas (Anderson, Bell, & Shirky, 2013). Ao mesmo tempo, com o acesso facilitado aos dispositivos de produção e circulação midiáticos, inúmeros grupos de jornalismo alternativo têm sido criados no ambiente digital, com uma proposta de se opor ao que produzem os meios tradicionais e dar voz a setores da sociedade e sujeitos que, alegam, normalmente não são ouvidos pelo jornalismo do mainstream (Harcup, 2003). Por outro lado, não está claro se tal prática pode ser considerada jornalismo, já que, entre outras coisas, desafia os principais valores da profissão, entre eles a objetividade e a imparcialidade (Traquina, 2012), ao propor um jornalismo " de causas " , " engajado ". Para iniciar a investigação desta forma de produção de informação, objeto do meu projeto de Doutoramento em Estudos de Comunicação, proponho, neste trabalho, fazer uma reflexão sobre o contexto em que se insere a produção do jornalismo alternativo contemporâneo, tanto a partir dos conceitos que o envolvem como por meio de alguns dos problemas que se impõem à discussão. O que farei a partir de uma revisão bibliográfica para revisitar certas definições-chave e problematizar o objeto. Uma dessas definições é a de jornalismo, que será revista sob uma perspectiva histórica e deontológica, para que se possa compreender seu processo de formação e suas transformações sociais. Perspectiva que evidencia o quanto, ao se profissionalizar, tal prática foi forjada a partir de uma visão da burguesia (Atton & Hamilton, 2008), o que foi reforçado pelo estabelecimento dos códigos de ética e pelos estudos comunicacionais que têm como foco o jornalismo. Para assim chegar ao contexto atual, do jornalismo em crise, situação que não se dá de modo isolado, mas em meio a uma crise do próprio sistema democrático (Rosanvallon, 2008). Neste contexto, o acesso facilitado ao ambiente midiatizado também surge como oportunidade para novas formas de engajamento político e participação cidadã (Dahlgren, 2009), o que, por sua vez, parece servir como uma oportunidade de se " regenerar " não só a democracia, mas também o jornalismo (Harlow & Salaverría, 2016). O que leva ao jornalismo alternativo digital, que será discutido tanto a partir de uma revisão bibliográfica, para se compreender o que já foi produzido no campo, como a partir de exemplos. Entre as considerações finais, ressalta-se a importância de se voltar para este objeto de estudo, não por representar uma potencial nova forma hegemônica de fazer jornalismo, mas sim por propiciar novos espaços midiáticos que dão visibilidade a grupos antes excluídos pelos media tradicionais. É reforçada ainda a necessidade de se ampliar a pesquisa nesta área com o intuito de