Jornalismo literário e representações imersivas de ciência (original) (raw)

Jornalismo literário e a pirâmide: implicações discursivas na Comunicação pública da ciência

2010

A partir do diagnóstico de um afastamento entre o público geral e o universo das instituições de ensino e pesquisa, os estudos em Comunicação e percepção pública da ciência buscam soluções para que essa situação se reverta – processo em que o Jornalismo possui papel fundamental. Neste artigo, realizamos um estudo discursivo de dois modelos jornalísticos – o mais difundido na imprensa brasileira, baseado na estrutura do lead e da pirâmide invertida, e o literário, que se serve de técnicas narrativas – para caracterizá-los como gêneros distintos e indicar as implicações de seus pressupostos ao tratar de ciência e tecnologia. Considera-mos que o Jornalismo literário, focado no processo e no cotidiano, apresenta-se potencialmente mais adequado a descrever o que Latour chama de “ciência em construção”, que proporciona ao leitor uma visão mais crítica, enquanto o modelo pirâmide, focado nos resultados, tende ao reducionismo e precipitação.

Nada de sustos: representações literárias da ciência e da Medicina

Miguel Bombarda e as singularidades de uma época: 1851-1910, 2006

nada de SuStoS: repreSentaçõeS literáriaS da CiênCia e da mediCina. Nada de sustos: um professor de literatura também pode dar o seu contributo, limitado embora, a um congresso em que se discute a ciência e a medicina. Aceite-se, para que esse contributo possa acontecer, que à literatura nada escapa; nos mundos que constrói-e particularmente nos mundos ficcionais-tudo cabe, porque neles está a vida que a representação literária modela e refigura, recorrendo para tal aos instrumentos e aos procedimentos que por natureza (natureza estética, entenda-se) são os seus: personagens, intrigas, imagens, tempos narrativos, metáforas poéticas, pontos de vista, estratégias de narração, etc. De certa forma, o ponto de partida que escolhi e que está no título corresponde ao lugar de serena ponderação que é o de uma personagem queirosiana, médico e, por isso, aqui bem enquadrado, até mesmo por ser contemporâneo de Miguel Bombarda, patrono deste congresso. Cito um passo aparentemente inócuo d'O Crime do Padre Amaro: Amélia todo o dia pensou naquela história. De noite veio-lhe uma grande febre, com sonhos espessos, em que dominava a figura do frade franciscano, na sombra do órgão da Sé de Évora. (…) Ao outro dia a febre acalmou. O doutor Gouveia tranquilizou a S. Joaneira com uma simples palavra:-Nada de sustos, minha rica senhora, são os quinze anos da rapariga. Hão-de lhe vir amanhã as vertigens e os enjoos… Depois acabou-se. Temo-la mulher. A S. Joaneira compreendeu.-Esta rapariga tem o sangue vivo e há-de ter as paixões fortes! acrescentou o velho prático, sorrindo e sorvendo a sua pitada. 1

JORNALISMO CIENTÍFICO E HISTÓRIA DA CIÊNCIA: APROXIMAÇÕES NO TERRENO DO PRESENTE

hcte.ufrj.br

O objetivo deste trabalho é refletir sobre a questão do tempo no jornalismo e analisá-la buscando uma aproximação com a história. Mais do que marcar o ciclo do dia, as edições dos jornais e telejornais também sinalizam a virada do presente para o passado. Se um determinado acontecimento, selecionado por critérios jornalísticos entre tantos outros acontecimentos, é alçado à categoria de notícia, então ele é percebido como presente por leitores e telespectadores. Esta percepção de presente se prolonga se, durante vários dias consecutivos, os desdobramentos do fato frequentam as manchetes de jornal e as chamadas de TV. Até que um dia, as abordagens daquele fato se esgotam. Ele passa da categoria de notícia ao arquivo de notícias. Na percepção de leitores e telespectadores, aquele acontecimento agora pertence ao passado. E é assim que, dia após dia, novos fatos jornalísticos destronam fatos jornalísticos presentes, que se tornam passado, em um ciclo sem fim. "A periodicidade de um jornal constitui o instrumento de dominação do tempo pelo jornalista e o jornal como instrumento de dominação do tempo pela sociedade" (MATHEUS, 2010). Essa percepção social da passagem do tempo ficou mais acelerada com o advento da internet: os fatos presentes correm o risco de já serem passado antes mesmo de chegarem aos jornais e telejornais -afinal, o leitor/telespectador é agora também internauta e tem acesso a informações em 'tempo real' na web. Na era da internet, a periodicidade é uma faixa de tempo cada vez mais estreita, comprimida entre o agora e o instante seguinte, entre uma notícia on-line e sua atualização apenas alguns minutos depois. Em outras palavras, é como se o presente fosse cada vez menor -e o tempo, cada vez menos dominável, seja pelo jornalista, seja pela sociedade, pois sua passagem se confundiria com um turbilhão de fragmentos de notícias.

Jornalismo literário e ciência: uma análise quantitativa de reportagens da revista piauí

2008

Lançada em outubro de 2006, a revista piauí destacou-se no cenário editorial brasileiro ao dedicar-se à cobertura de temas variados por meio do jornalismo literário. Tendo por base o conceito de cultura científica, nosso objetivo foi caracterizar o grau de diversidade e complexidade das reportagens relacionadas a ciência e tecnologia, por meio da análise de conteúdo dos doze primeiros números da publicação. Verificamos que os textos de maior extensão e complexidade envolvem as Ciências Naturais, envolvendo múltiplos aspectos e pontos de vista em relação à produção e ao emprego de conhecimento científico. Palavras-Chave: Jornalismo Científico, Jornalismo Literário, Revista piauí, Análise de conteúdo, Cultura científica.

Jornalismo Científico Problemas Recorrentes e Novas Perspectivas

Resumo O artigo aborda o Jornalismo Científico como uma prática social mediadora em torno de um tipo particular de informação e das técnicas que orientam a elaboração das notícias. Discute os entraves ainda encontrados no Jornalismo Científico praticado na grande imprensa, desdobrando-os em cinco grandes categorias: a) o relacionamento entre cientistas e jornalistas; b) o teor e a procedência das matérias sobre Ciência e Tecnologia; c) o sensacionalismo da imprensa d) o (des)preparo dos jornalistas e) a monofonia do Jornalismo Científico. Paralelamente, evidencia também novas conquistas do Jornalismo Científico como campo e prática profissional: expansão da abrangência temática, a conquista de novos e crescentes espaços nos veículos de comunicação, tratamento visual mais cuidadoso das notícias publicadas sobre Ciência e Tecnologia e o crescimento dos cursos voltados para o Jornalismo Científico, especialmente em nível de pós-graduação. Utiliza exemplos da revista Veja e do jornal Zero Hora.

Revista Toque da Ciência: Jornalismo Científico em Linguagem Literária

intercom.org.br

A Revista Toque da Ciência é um website de divulgação científica que procura abordar temas relacionados ao interesse público, mas de difícil acesso à população, por meio de reportagens literárias, resenhas, perfis e entrevistas. O conteúdo do portal abrange notícias sobre pesquisas desenvolvidas no Brasil e em todo o mundo, assim como divulgação e explicação detalhada de assuntos científicos, com a devida apropriação do vocabulário específico de certa área do conhecimento para o jornalismo literário de fácil compreensão ao público em geral.

A ciência nos jornais

2008

Resumo O objetivo central deste artigo é apontar os fenômenos lingüísticos envolvidos na transposição de entrevistas realizadas com cientistas em textos jornalísticos publicados na imprensa diária. Tomamos como objeto de análise conjuntos de textos (entrevistas e matérias jornalísticas) publicados no Jornal do Commercio, que nos permitiram identificar as principais operações lingüísticas e as repercussões dessa transformação no conteúdo proposicional. Nossa análise mostra modificações substanciais entre a entrevista e o texto jornalístico, mas normalmente a idéia básica do texto original é preservada. As imprecisões atribuídas pelos cientistas aos textos jornalísticos de divulgação científica são muito mais uma questão de mudança da perspectiva de interesse do que propriamente distorção de informações. Mesmo se tratando de um estudo de caso, acreditamos que nossas conclusões indicam o que geralmente ocorre na retextualização de entrevistas em textos de divulgação científica para a imprensa diária.

Metáforas científicas no discurso jornalístico

Revista Brasileira de Ensino de Física, 2012

A educação e divulgação científicas não apenas ampliam o vocabulário e o repertório de conceitos científicos de uma população, mas, ao mesmo tempo, promovem a difusão de certas metáforas conceituais e cognitivas. Neste trabalho, descrevemos este processo e propomos uma classificação em termos de metáforas visíveis, invisíveis, básicas e derivadas. Focalizamos nossa atenção em metáforas físicas aplicadas a fenômenos psicológicos e sócio-econômicos, estudando dois casos exemplares através do exame exaustivo do conteúdo online de grandes portais jornalísticos brasileiros. Finalmente, apresentamos implicações e sugestões da teoria de metáforas cognitivas de Lakoff e Jonhson para o processo de educação e divulgação científicas.

Jornalismo literário e ciência: o emprego de rompimento de níveis e a relativização de perfis

2008

Enquanto conceitos básicos científicos ainda são confundidos, técnicas incipientes são aclamadas como panaceias milagrosas, e a figura do cientista é alçada a um status superior ao do homem comum. Jornalistas e pesquisadores, por meio da comunicação pública da ciência, procuram, de diversas maneiras, divulgar a ciência e ajudar a construir uma visão crítica de seu desenvolvimento. Com base na teoria de estruturas narrativas, este artigo estuda o uso do jornalismo literário na comunicação da ciência, permitindo ao repórter narrar a realidade por meio de técnicas diferenciadas de redação, com o uso de duas invariantes de Proust (rompimento de níveis e relativização de perfis). Tais técnicas também podem ser empregadas em textos de jornalismo literário que envolvam outros temas (política, cultura, esportes, perfis).