A linguagem é o limite (?) - sobre as relações entre Arte, Linguagem e Ente (original) (raw)
INTRODUÇÃO Balzac, na sua A Obra-prima Ignorada, apresentou importantes questões a respeito do papel do artista e da obra de arte na Modernidade. Essas questões abriram os caminhos por que a arte contemporânea, tanto da parte dos artistas quanto da parte dos teóricos e dos especialistas, se embrenharia, na Modernidade, e até os dias atuais. De modo sucinto, o papel do artista, representado nessa obra pelo personagem do Mestre Freinhofer, seria o de, pelos próprios meios da arte, implodir esses meios, de modo a fazer aparecer o Absoluto. A linguagem da arte seria o limite para fazer aparecer o real pleno -este sempre aparecerá mediado por aquela -de modo que, para o Real aparecer em sua plenitude, deve-se levar a linguagem ao seu próprio limite. Deve-se fazer o Real aparecer sem linguagem. Esse tipo de artista seria o tipo definido por Paulhan, em citação de Giorgio Agamben, como o tipo do Terrorista. Seriam os artistas que buscariam não a perfeição da forma na arte, mas a sua participação vital 1 . Já o outro tipo de artista seria aquele cujo objetivo seria atingir a perfeita medida formal de uma obra de arte. Estes buscariam o desenvolvimento da forma, e estariam preocupados não com o aparecimento do Real, mas com a satisfação de um ideal de gosto consensual entre os espectadores que essa arte tinha então. Esses artistas estariam mais afinados com a figura do homem de gosto, que, segundo Paulhan, aparece no Século XVII como o indivíduo capaz de perceber o ponto de perfeição de uma obra. Seriam, assim, os do tipo Retórico 2 . Como se pode inferir a partir dessa breve exposição, os artistas do primeiro tipo estariam mais ligados à atividade do criador, enquanto que os do segundo estariam mais afinados com a perspectiva do espectador. Na Obra de Balzac, os artistas do segundo tipo estão representados principalmente por Porbus. O presente trabalho tem como tarefa, a partir d'A Obra-prima Ignorada de Balzac, questionar essas tentativas de se chegar ao Absoluto por meio da arte, e tentar responder se, é forçando a linguagem ao seu limite, que é o silêncio, que se chega ao Absoluto, ou, que não se chega a Absoluto algum e que o silêncio é apenas o modo mais radical de se revolver, ou de se criar uma outra linguagem. A grande questão é: qual é o grande limite? O silêncio, ou a linguagem? exibição de técnicas executadas com perfeição, é um falar sem vigor. Mas, levada aos seus limites, se torna um dizer, porque mostra outras possibilidades e outros mundos. O silêncio passa a ser, assim, um revolver radical da linguagem.