Retornos e recomeços. Experiências construídas entre Moçambique e Portugal. (original) (raw)

Os “Retornados” de África – Integração na Madeira

Odete Mendonça Henriques Souto 2 Resumo A descolonização portuguesa em África, após o 25 de Abril de 1974, deu origem ao maior êxodo de portugueses de que há memória, e a um dos maiores da Europa, no contexto das migrações de retorno pós-coloniais. Estima-se que Portugal tenha recebido, entre os anos de 1974 e 1976, cerca de meio milhão de pessoas provenientes das ex-colónias, comummente designados como "retornados". Entre estes, calcula-se que oito mil tenham vindo para a Madeira. O presente artigo analisa os percursos de vida de um grupo de retornados chegados ao território madeirense, através do relato das suas vivências pessoais, procurando compreender como decorreu o seu processo de integração. Os resultados indicam que a família foi a principal base de acolhimento dos retornados, que ficaram inicialmente alojados em casa destes. Foi possível apurar também a existência de apoio institucional feito pela autarquia de Machico e do Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais (IARN). As principais dificuldades de integração foram sobretudo a nível económico e cultural, superadas através do regresso à vida ativa: trabalho e/ou estudos. Apesar do drama vivido e das grandes dificuldades experienciadas, a integração dos retornados entrevistados decorreu sem perturbação social, considerando os mesmos estarem plenamente integrados na sociedade madeirense. Palavras-chave: Migração; Descolonização; Retorno; Acolhimento; Integração. 1 Expressamos o nosso agradecimento à colega Ana Paula Almeida pela leitura deste artigo.

Comunidades de saber: percurso de um cadete entre Moçambique e Portugal

Cadernos de Pesquisa, 2014

Neste texto, acompanhamos de perto o percurso de Eduardo, um aluno moçambicano cooperante. Esta narrativa é complementada por uma análise das condições de formação em Portugal dos alunos de polícia de Moçambique, mas também de Angola, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Os cadetes preparam-se, em cinco ou mais anos de treino (equivalentes a mestrado), para virem a ser oficiais de polícia em seus países de origem. Defendemos o argumento de que esses alunos integram comunidades de saber, onde se incluem aprendizagens pela pedagogia da imagem e do exemplo. Tais comunidades são situadas histórica e contextualmente. No mesmo sentido, descrevemos como os alunos cooperantes em formação em Portugal mobilizam ideias de sacrifício e de esperança associadas tanto à experiência situada quanto à expectativa de regresso aos países de origem.

Comunidades de saber: cadete entre Moçambique e Portugal

Cadernos De Pesquisa, 2014

Neste texto, acompanhamos de perto o percurso de Eduardo, um aluno mocambicano cooperante. Esta narrativa e complementada por uma analise das condicoes de formacao em Portugal dos alunos de policia de Mocambique, mas tambem de Angola, Cabo Verde e Sao Tome e Principe. Os cadetes preparam-se, em cinco ou mais anos de treino (equivalentes a mestrado), para virem a ser oficiais de policia em seus paises de origem. Defendemos o argumento de que esses alunos integram comunidades de saber, onde se incluem aprendizagens pela pedagogia da imagem e do exemplo. Tais comunidades sao situadas historica e contextualmente. No mesmo sentido, descrevemos como os alunos cooperantes em formacao em Portugal mobilizam ideias de sacrificio e de esperanca associadas tanto a experiencia situada quanto a expectativa de regresso aos paises de origem.

Os “Retornados” de África – Integração na Madeira (1974-1977)

Arquivo Histórico da Madeira, Nova Série, 2021

Odete Mendonça Henriques Souto 2 Resumo A descolonização portuguesa em África, após o 25 de Abril de 1974, deu origem ao maior êxodo de portugueses de que há memória, e a um dos maiores da Europa, no contexto das migrações de retorno pós-coloniais. Estima-se que Portugal tenha recebido, entre os anos de 1974 e 1976, cerca de meio milhão de pessoas provenientes das ex-colónias, comummente designados como "retornados". Entre estes, calcula-se que oito mil tenham vindo para a Madeira. O presente artigo analisa os percursos de vida de um grupo de retornados chegados ao território madeirense, através do relato das suas vivências pessoais, procurando compreender como decorreu o seu processo de integração. Os resultados indicam que a família foi a principal base de acolhimento dos retornados, que ficaram inicialmente alojados em casa destes. Foi possível apurar também a existência de apoio institucional feito pela autarquia de Machico e do Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais (IARN). As principais dificuldades de integração foram sobretudo a nível económico e cultural, superadas através do regresso à vida ativa: trabalho e/ou estudos. Apesar do drama vivido e das grandes dificuldades experienciadas, a integração dos retornados entrevistados decorreu sem perturbação social, considerando os mesmos estarem plenamente integrados na sociedade madeirense. Palavras-chave: Migração; Descolonização; Retorno; Acolhimento; Integração. 1 Expressamos o nosso agradecimento à colega Ana Paula Almeida pela leitura deste artigo.

Encontros com Moçambique

Este livro é fruto da interlocução e do intercâmbio de conhecimento entre pesquisadores de várias instituições nacionais a partir da organização do Seminário II SEMANA DA ÁFRICA: ENCONTROS COM MOÇAMBIQUE, realizado na PUC-Rio, em março de 2016, com o apoio do Núcleo Interdisciplinar de Reflexão e Memória Afrodescendente (NIREMA) e do Departamento de História da PUC-Rio. Surgido do encontro de três historiadores, Carolina Maíra Gomes Morais, Matheus Serva Pereira e Regiane Augusto de Mattos, com percursos diferentes entre si, mas que possuíam uma paixão em comum, o objetivo era o de discutir e divulgar trabalhos e pesquisas desenvolvidos no Brasil a respeito de Moçambique.

Pesquisa empírica: narrativa de uma experiência em Moçambique

ENTRE-LUGAR

O presente ensaio narra a dificuldade e a importância da pesquisa empírica na Geografia em países de instabilidade econômica, política e social, o que leva a tensões e conflitos. A partir da experiência em Moçambique, onde percorri os territórios do neoextrativismo da multinacional Vale S.A., cruzando o Malawi, relato a problemática da realização da pesquisa empírica para a produção de informações, o compromisso do pesquisador com seu objeto de estudo e a importância da função social do geógrafo. Seu objetivo é convidar o leitor para uma reflexão sobre os impactos territoriais de multinacionais neoextrativistas e as dificuldades e importância da pesquisa empírica na Geografia em territórios, às vezes, não tão receptivos a olhares externos.

Os retornados de África : estudo de caso sobre a sua integração na Madeira

2017

A descolonização portuguesa em África, após o 25 de Abril de 1974, deu origem ao maior êxodo de portugueses de que há memória, e um dos maiores da Europa, no contexto das migrações de retorno pós-coloniais. Estima-se que Portugal tenha recebido, entre os anos de 1974 e 1976, cerca de meio milhão de pessoas provenientes das ex-colónias, comummente designados como retornados. Entre estes, calcula-se que oito mil tenham vindo para a Madeira. Esta dissertação de mestrado é um estudo de caso qualitativo, de cariz exploratório, que tem como principal objetivo analisar os percursos de vida de um grupo de retornados chegados ao território madeirense, através do relato das suas vivências pessoais, procurando compreender como decorreu o seu processo de integração. Recorreu-se a diversas técnicas de pesquisa para a sua elaboração, como a análise documental e o recurso a entrevistas semiestruturadas, efetuadas a quatro informantes qualificados e vinte e três retornados. Foram examinadas a partida, trajeto, acolhimento e a existência de apoios institucionais ou outros, as dificuldades sentidas durante o processo de integração e os contextos e estratégias pessoais adotados para superá-las. Os resultados indicam que a família foi a principal base de acolhimento dos participantes no estudo, ficando inicialmente alojados em casa destes. O apoio institucional foi feito por parte da autarquia de Machico e do Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais (IARN). Este processo desenrolou-se de forma natural, com esse apoio familiar e a sua própria resiliência. As principais dificuldades de integração foram sobretudo a nível económico e cultural, superadas através do regresso à vida ativa: trabalho e estudos. É possível concluir que, apesar do drama vivido e das grandes dificuldades experienciadas, a integração dos retornados entrevistados decorreu sem perturbação social, considerando os mesmos que estão plenamente integrados na sociedade madeirense.

Moçambique revisitado: seguindo os passos do Prof. Soares de Carvalho

Moçambique revisitado-seguindo os "passos" do Prof. Soares de Carvalho "Si tu veux faire avancer la science ne crois jamais a ce qui dit le patron". Nunca me esquecerei desta frase que ocupava um lugar de destaque nas paredes do gabinete, atulhado de livros, de amostras e de ficheiros vários que o Prof. Soares de Carvalho ocupava no pré-fabricado onde funcionava o Departamento de Ciências da Terra da Universidade do Minho. Corria o ano de 1983 e eu estava a tentar começar a sério a investigação para a minha tese de doutoramento. Tinha conhecido o Prof. Soares de Carvalho pessoalmente, há alguns meses, na reunião do Quaternário Espanhol, realizada em Santiago de Compostela e em Vigo. Para alguém que estava a começar a investigação era um pouco intimidante contactar directamente com alguém que era uma referência importante da Geologia de Portugal. A situação normalmente agravava-se se se tratasse, como era o caso, de uma geógrafa perfeitamente consciente das deficiências dos cursos de Geografia relativamente a certas matérias dos domínios da Geologia, facto que produzia, habitualmente, um certo complexo de inferioridade em relação aos colegas geólogos. Acontece que o Prof. Soares de Carvalho, foi, durante muito tempo, um dos raros geólogos a compreender e apreciar o trabalho dos geógrafos. Por algum motivo o ligaram laços de cooperação e intercâmbio científico com Jean Tricart, da Universidade de Strasbourg, referência obrigatória para os geomorfólogos da minha geração. O Prof. Soares de Carvalho atendeu-me muito gentilmente e, pacientemente, ensinou-me técnicas de análise morfoscópica que foram essenciais para a prossecução da minha investigação. A partir desse momento tive, com o Prof. Soares de Carvalho, contactos frequentes e sempre muito proveitosos, que me levaram a conhecer e a admirar cada vez mais a sua estatura de ser humano e de investigador. Percebi então, com uma clareza meridiana, que a frase da parede do seu gabinete não era uma mera figura de retórica, mas sim algo de muito sentido e muito profundo. Surpreendeu-me sempre, e cada vez me surpreende mais, a imensa capacidade de inovação que ele sempre evidenciou. O Prof. Soares de Carvalho está sempre pronto a ensaiar novas ideias, a experimentar novas técnicas, a ir à frente de investigadores muito mais novos... por vezes já instalados no quotidiano e na rotina. Trata-se de uma atitude coerente com a frase citada no início deste texto, particularmente notável numa pessoa que atingiu o estatuto de "patrão". Atitude essa que frequentemente lhe acarretou problemas, dificuldades e incompreensões. Problemas que sempre enfrentou com coragem, sem nunca se deixar abater. No momento em que escrevo estas linhas estou em Moçambique ao abrigo de um projecto de cooperação entre algumas universidades portuguesas e a Universidade Eduardo Mondlane, patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian. Senti necessidade de enquadrar as matérias a leccionar aos alunos na Geologia da África Austral, requisitei, na Biblioteca da Faculdade de Letras, o livro de S. H.-The stratigraphic History of Africa South of Sahara. Apercebi-me, então de que todos os capítulos referentes a Moçambique estavam discretamente assinalados no índice da obra. Todos eles tinham sido lidos, e os aspectos mais relevantes da Geologia de Moçambique tinham sido cuidadosamente sublinhados, a lápis. De repente, encontrei uma pequena anotação com uma letra familiar e inconfundível. O Prof. Soares de Carvalho tinha consultado esse livro, não só para conferir as referências que aí eram feitas ao seu trabalho sobre a Geologia do Deserto de Moçâmedes, mas sobretudo, para analisar todas as referências que eram feitas à geologia de Moçambique.