LAGOA HENRIQUES: O Colecionador e a Casa-Museu (original) (raw)

Biografia de uma colecção: os leques da Casa-Museu Medeiros e Almeida

Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, 2015

Biography of a collection: Fans from the Medeiros e Almeida House Museum The aim of this dissertation is to study the collection of fans from the Medeiros e Almeida House Museum, which despite being the second largest museum collection of fans in Portugal has, until now, received very little academic attention. This collection currently holds two hundred and ten pieces that, as a whole, cover a chronological period of about three centuries – from the eighteenth to the twentieth century –, hence being a selection of great historic and artistic importance, embodying many of the major typologies, origins, subjects and decorative grammar found in this artistic object, over the above mentioned period. Rather than pursuing the more conventional model of research in museum collections, focusing mainly on the analysis of objects themselves, the present study opts for an alternative approach to this particular collection by treading the lesser known territory of collecting studies, moving the focus from the collection objects to the processes and motives behind its creation, to the use that has been made of it as a museum collection, and to the means by which these objects acquire and transmit their meaning in museum context. In order to address the biography of the fan collection of the Medeiros e Almeida House Museum, and to outline a more comprehensive view of the objects that are part of it, we posed three questions: When, how and why was this collection born? What paths of musealization has it gone through? Which items incorporate the collection, and what do they represent? These are the issues which define the three-part structure of this thesis. KEYWORDS: António Medeiros e Almeida, Biography of a collection, Documentation and Inventory, Exhibition, Fans, Medeiros e Almeida House Museum, Museum Studies. A presente dissertação de mestrado em Museologia dedica-se ao estudo da colecção de leques da Casa-Museu Medeiros e Almeida, que, sendo a segunda maior colecção museológica de leques em contexto nacional tem, apesar disso, recebido pouca atenção académica. Esta colecção é actualmente constituída por duzentas e dez peças que, no seu todo, abarcam um período cronológico de cerca de três séculos – do século XVIII ao século XX –, constituindo portanto um conjunto de grande interesse histórico e artístico, pois exemplifica muitas das principais tipologias, proveniências, temáticas e gramáticas decorativas inerentes a este objecto artístico durante o referido período. A análise desta colecção de leques segue uma abordagem alternativa aos modelos de investigação mais convencionais, centrados no estudo dos próprios objectos museológicos. Opta-se, antes, por trilhar o território menos conhecido dos estudos do coleccionismo, deslocando-se o foco nos objectos da colecção para os processos e motivos por detrás da sua formação, para uma análise da sua utilização pela instituição que hoje a alberga e, de um modo geral, para os processos através dos quais estes objectos adquirem e transmitem o seu significado em contexto museológico. Com o objectivo de tratar a biografia da colecção de leques da Casa-Museu Medeiros e Almeida, delineando uma visão mais abrangente dos objectos que a integram, colocam-se no âmbito deste estudo três questões: Quando, como e por que nasce esta colecção? Quais as trajectórias da sua musealização? Que objectos a integram e o que representam? São estas as questões que colocamos e que definem as três partes nas quais se estructura a presente dissertação. PALAVRAS-CHAVE: António Medeiros e Almeida, Biografia de uma colecção, Casa-Museu Medeiros e Almeida, Documentação e Inventário, Exposição, Leques, Museologia.

Espólio Lagoa Henriques: o artista-pedagogo e a sua biblioteca

JoanaSoutoMateus, 2021

O Mestre Escultor e Professor Lagoa Henriques (1923-2009) deixou-nos um vasto legado. Parte da sua obra escultórica, desenhos, diários gráficos e coleções diversas foram doados à Universidade de Lisboa. Desta doação, veio também toda a sua biblioteca que conta com mais de três mil títulos de monografias, mais de cem títulos de periódicos, bem como recursos multimédia. No processo de inventariação e documentação do seu espólio bibliográfico, podemos sempre conhecer um pouco do artista escultor e pedagogo – o que lhe interessava, o que leu como apoio à prática escultórica, ou para aulas ou conferências. Surgem nalguns livros: sublinhados a lápis (grafite e de cor), apontamentos (sempre em letras maiúsculas), livros repetidos, ou que lhe foram oferecidos por pessoas amigas, e até de pessoas de renome, como Mário Soares, Jorge Sampaio, Eugénio de Andrade. Encontram-se convites para exposições, lançamentos de livros, Encontros da Sociedade Portuguesa de Autores, bilhetes de carris e metro, recibos de restaurantes. E nestes pequenos elementos deixados nos livros, traçamos testemunhos biográficos. Para além destes pequenos testemunhos, podemos organizar a sua biblioteca por áreas temáticas diversas, que vão desde a literatura à história da arte, à escultura, ao desenho, à pintura, a biografias de artistas, à museologia, às ciências, à política, etc. Em suma, pretende-se abordar a temática da poesia no espólio bibliográfico do Mestre: quais os autores de poesia que mais gostava e, mostrar alguns livros com apontamentos que serviram de apoio a alguns dos seus trabalhos escultóricos, que nos acabam sempre por falar do artista e do seu processo criativo. É também importante salientar o que nos deixa esta grande doação bibliográfica: a transmissão da palavra e da pedagogia pela arte. Afinal, o Mestre sempre ensinou e continua a ensinar-nos através da sua biblioteca.

COLECIONADORES E COLECIONISMO DE ARTE POPULAR NA BAHIA

2017

Os colecionadores de arte fazem parte de um grupo social importante no mundo da arte, e a prática de colecionismo, motivada tanto por questões estéticas, políticas, sociais ou simplesmente a paixão pela arte, contribuiu para o enriquecimento do patrimônio artístico do país, além de estimular um gosto artístico em um determinado contexto local, histórico e social. Na Bahia, os colecionadores de arte exerceram um importante papel na construção de um mercado de arte, bem como despertaram o interesse pela apreciação e aquisição de objetos para formação de coleções no estado. O papel dos colecionadores, da formação de coleções e da experiência de colecionismo de arte popular na construção de um imaginário político nacionalfomentando o reconhecimento estético dessa produção -contribuiu significativamente para a consolidação e ressignificação dessas expressões no cenário artístico e cultural do país. Na Bahia, entre as décadas de 1940 a 1960, a prática de colecionismo de arte popular emergiu a partir das transformações operadas na sociedade baiana com o processo de modernização, a industrialização e o surgimento de uma nova classe social consumidora de arte. A valorização da produção plástica popular atingiu diversos setores sociais, passando do interesse da elite rural decadente e, principalmente, das camadas médias intelectuais urbanas, até ser objeto de desejo de profissionais de distintas áreas, como é o caso do colecionismo praticado pelo jornalista Odorico Tavares, pelo escritor Jorge Amado, pela arquiteta Lina Bo Bardi e os artistas Mario Cravo Junior, Mirabeau Sampaio, Carybé, Sante Scaldaferrí, dentre outras categorias profissionais que formaram coleções com essa temática. Dessa maneira, este trabalho mostra o papel dos colecionadores no processo de legitimidade artística da produção de arte popular na Bahia, e explica as motivações, a personalidade, os gostos artísticos e a importância desses personagens para o reconhecimento dessas expressões como arte. Colecionismo de arte popular na Bahia e os processos de legitimidade artística Dentro do amplo repertório de coleções de arte popular formadas na Bahia no decorrer do século XX, este artigo se concentrará em alguns exemplos de ações e experiências de colecionismo que revelam 236 Na Bahia, entre as décadas de 1940 a 1960, a prática do colecionismo e as coleções dos artistas e intelectuais são bastante divulgadas nos livros-guias de divulgação do Estado para o turista. O escritor e também colecionador Jorge Amado através de seus livros mostra as coleções de arte popular, especialmente as coleções de santos católicos, o escritor chama à atenção para a riqueza artística das coleções com essa temática: [...] as coleções mais importantes são as de Odorico Tavares e de Mirabeau Sampaio, ambas selecionadíssimas, com peças de grande valor, sendo a de Odorico sobretudo de santos barrocos e a de Mirabeau de santos primitivos, muitos deles obras de santeiros populares baianos dos primeiros períodos. Outra belíssima coleção de imaginária é a do Professor Orlando Castro Lima, especializada em santos de marfim 6 . O poeta, jornalista e também colecionador de arte Odorico Tavares descreve e exalta as qualidades das coleções baianas, destacando as motivações dos colecionadores para salvar os objetos da destruição e da venda para o estrangeiro, além de mostrar a trajetória dessas coleções na Bahia e os destinos da "arte antiga", pedimos licença para citar a narrativa do colecionador: Na Bahia, em um de outro reduto de colecionadores, de homens de bom gôsto que, em tempo, salvaram de vendedores ambiciosos, da destruição implacável dos apertos de família, do horror ao antigo, tanta coisa que ainda hoje são autênticos marcos do melhor padrão da vida passada de nossa gente. Muito do que sobreviveu da mão do tempo, vendeu-se para curiosos do sul do país, para Rio e São Paulo. Ou mesmo para o estrangeiro, sobretudo prataria baiana, tão ao gosto dos colecionadores argentinos, por exemplo. A guerra implacável ao antigo atingiu seu clímax às primeiras décadas dêste século, quando se trocava qualquer mobília de jacarandá -coisas velhas e imprestáveis! -pelos móveis de estofaria, primeiro o pau-cetim, para depois vir a imbuia do Paraná. Também as transformações econômicas impuseram o abandono das grandes casas, modificando o trem da vida, vendendo-se por qualquer coisa o supérfluo. E, como supérfluo, se foram muitos móveis de jacarandá de primeira ordem, muita prataria baiana ou portuguêsa, muita louça da Companhia das índias ou louça brasonada européia, muito cristal da Boêmia com as armas dos grão-senhores. Muita escultura religiosa trocada ou vendida como feia ou imprestável.

Abordagem Da Prática Colecionista Através De Um Conjunto De Peças Marajoara Do Museu Nacional De Etnologia Em Lisboa (Portugal)

Amazônica - Revista de Antropologia, 2011

O Museu Nacional de Etnologia em Lisboa tem no seu acervo várias peças marajoara provenientes de uma recolha encomendada pelo próprio Museu nos anos 60 do século XX, as quais se encontram atualmente expostas nas “Galerias da Amazônia”. A expedição à ilha do Marajó foi realizada pelo colecionador e arqueólogo amador português Victor Bandeira, acompanhado por sua esposa Françoise Carel-Bandeira, tendo sido escavada uma necrópole da fase Marajoara situada no sítio d’ “Os Camutins”, na região do rio Anajás. Como objetivo principal deste trabalho, procurei entender as motivaçõesque conduziram à escolha dos objetos trazidos para Portugal e que poderiam, segundo o protagonista da expedição, representar a cultura marajoara no museu português. Esta questão é investigada através do testemunho de Victor Bandeira. Segundo as informações reunidas, entende-se que na recolha abordada, a perspectiva colecionista ultrapassa a arqueológica. Isto permite-me refletir sobre o próprio ato de colecionar, ...

Caçadores e Coletores

Para o autor Jaime Pinsky, um pesquisador, que tem o passado como matériaprima, não pode utilizar dos mesmo recursos das ciências exatas para determinar com precisão como os fatos passados se sucederam e recriá-los.

A OBRA DE HENRIQUE MOREIRA NO PORTO E EM GAIA: PROPOSTA DE UMA METODOLOGIA DE VALORIZAÇÃO PARA A CONSERVAÇÃO

Ana Vieira Martins, 2022

Cultural heritage enhances the research of differentiating elements for its conservation, as an endogenous resource and power to generate economic and social wealth. In this context, this dissertation develops a methodology based on complementary qualitative and quantitative analyses and with territorial management based on the cities of Porto and Gaia, in an attempt to materialize a little studied sculptor and therefore little valued. The study provide the production of inventory technical data sheets, where 357 works were inventoried, the analysis of the state of conservation and the construction of the life line and work of the artist. Consequently, the justification of heritage conservation and valorization applied to the sculptor Henrique Moreira and his works is supported, promoting his discussion and reflection at the social, economic and academic level. Using this model, it became possible to identify the material and immaterial heritage intrinsic to the "sculptor of the city of Porto" the cultural dimension of his work generating economic values and resources and to fill the identified gaps, achieving a set of results that, through the methodology developed in this research work, are directed to the justification and practicality of the problem presented: why value to conserve.

Museus de etnologia. Coleções e colecionar

Há provavelmente pouca discordância com a declaração de que museus geralmente estão em constante necessidade de se adaptarem ao mundo rapidamente mutável de hoje em dia, além das mudanças na sociedade, aos quais supostamente servem, e aos paradigmas aos quais o mundo é explicado. Isto é verdade, especialmente devido a grandes museus estabelecidos no século XIX, os quais estão carregados, não só pelo passado, mas também pelas estruturas complexas e burocráticas, resultado do tamanho e da falta de meios adequados para modernizar, tanto no aspecto físico do local quanto nas metas traçadas. Uma grande parte do problema consiste nas grandes coleções, que foram montadas no passado, dentro de padrões de ideias e práticas então atuais. Portanto, hoje em dia são vistas como inválidas para a produção e disseminação de sabedoria e conhecimento. A discrepância entre práticas passadas e necessidades contemporâneas é muitas vezes ilustrada por amostras "permanentes", instaladas há muitas décadas, as quais não podem ser facilmente mudadas, devido a financiamentos insuficientes ou à prioridade dada a outros aspectos importantes do trabalho nos museus, tais como pesquisa ou educação. Se alguns museus são vistos pelo público como lugares à moda antiga e empoeirados, isso é devido ao fato de serem à moda antiga e empoeirados.