O Estado Novo ea Assistência Social (original) (raw)
1997, Revista História e Cidadania–XIX Simpósio …
O chamado Estado Novo é um dos períodos da História do Brasil que mais tem despertando a atenção dos pesquisadores Existe uma vastíssima bibliografia a respeito nas várias áreas das ciências sociais devido, em grande parte, ao fato de podermos identificar aí, um divisor de águas na vida brasileira. Contudo, um dos importantes papéis do historiador é o de rever sempre o passado construído, interrogando-o, problematizando-o. Nesse sentido, o objetivo primacial de nosso trabalho é o de buscar o entendimento das articulações entre o Estado Novo e o surgimento da Assistência Social como uma profissão. Trata-se da primeira tentativa de sistematização dos resultados preliminares do Projeto Integrado de Pesquisa -UERJ/UFF/CNPq -intitulado "Assistência Social: Saber e Poder na Construção de Uma Profissão (1937-45)". A problemática central do referido Projeto é de analisar as relações de saber e poder manifestas na criação e desenvolvimento das primeiras Escolas de Serviço Social do Rio de Janeiro promovidos pelo Estado brasileiro no período 1937/45, na constituição da profissão de Assistente Social e na criação de um espaço institucional para o técnico que deverá tratar dos subalternos. As nossas preocupações devem ser percebidas no contexto do vigoroso debate travado no campo do Serviço Social a respeito da sua história, como parte de um projeto mais amplo de repensar o papel do Assistente Social na formação econômico-social brasileira, o seu objeto de estudo e as suas várias formas de inserção junto aos movimentos sociais, o Estado e o capital. Já existe uma razoável quantidade de trabalhos no campo do Serviço Social que tem buscado recuperar a história de sua profissão. Em recente documento a ABESS/CEDEPSS afirmava a preocupação no desenvolvimento de pesquisas acerca do processo histórico que tanto articule suas determinações gerais como suas expressões particulares (ABESS/CEDEPS;1995) Apesar de todo esse interesse pela recuperação da história do Serviço Social, particularmente no Rio de Janeiro e São Paulo, continuam a existir lacunas. Por um lado, os estudos, pouco tem atentado para a articulação do projeto político do Estado varguista, enquanto construção de hegemonia, com a constituição das instituições educacionais em apreço e com o próprio perfil do profissional a ser criado. Por outro, o processo de socialização de um tipo peculiar de profissional -formação de habitus de classe -que, desde então, passou a deter o monopólio da atuação, da intervenção, sobre os que se encontram em situação de subalternidade. Desde a sua institucionalização, os assistentes sociaissão estigmatizados como aqueles que desempenhariam o papel de agentes mantenedores da ordem -o capataz da conciliação -ou teria qualquer outra adjetivação extremamente pejorativa no campo das ciências sociais. Injusto, visto que o assistente social traria uma marca de origem -preconceito de origem -por desqualificar um cientista social que tem como principal diferencial ser aquele que não só analisa o social, mas é capaz de efetivar alterações neste mesmo social. De outra forma, trata-se de um cientista social que intervém, quotidianamente, sobre a realidade sobre a qual analisa. Logo, analisar criticamente a sua trajetória torna-se uma necessidade. EM BUSCA DE UMA HISTÓRIA Tem sido sobejamente explorada a relação entre a dominância da ordem capitalista e a emergência do Serviço Social para desempenhar o papel de