A SOBREVIVENTE (METAMORFOSES DA EXISTÊNCIA) (original) (raw)
A SOBREVIVENTE – uma breve introdução Já são passados quase 10 anos desde a entrevista que realizei com a depoente que originou e deu nome a esse texto. Fui autorizado, quando da validação final do mesmo, que foi exibido à depoente, a publicá-lo, à época. Somente agora optei por fazê-lo. Por que não, antes? Por tratar-se de um conteúdo que é muito " íntimo e pessoal " (da depoente) e que envolve a mediação de um narrador, assumindo uma forma de discurso? Por trazer à tona um tema tão polêmico na história do nosso país ─ a última ditadura, que vigorou de 1964 a 1984 ─ e ainda divide a opinião pública sobre a questão da anistia? Ou por " exumar cadáveres " , isto é, remexer o passado, rememorando-o, e fazendo aflorar sensações diversas no imaginário social? Em alguns países sulamericanos que também foram submetidos a regimes ditatoriais, como é o caso da Argentina e do Chile, essa ferida permanece em aberto. Porém, com uma diferença: os familiares reclamam seus entes, quer estejam vivos ou mortos. Observe-se que a situação incômoda está no uso do termo desaparecidos. Desaparecidos para sempre? Permanentemente? Não! Ou se está vivo ou se está morto! Pressupõe-se, portanto, uma angústia (permanente) dos familiares. Daí que o termo anistia acaba sendo recusado, uma vez que o interesse reside no levantamento dos fatos que levem à consumação da verdade. Talvez assim seja possível aliviar a dor da perda. Cumpre lembrar, no nosso caso, que o Brasil já era signatário da Declaração dos Direitos Universais, de 1948. Como legitimar, então, a instauração de um regime ditatorial e as atrocidades cometidas naquele período? Resolvi publicar esse texto em 20 de novembro deste ano de 2010 para assinalar uma data importante para todos os brasileiros: a luta pela liberdade, aspiração essa que emerge dos ideais da Revolução Francesa, juntamente com outros dois ─ os de igualdade e fraternidade, ainda que sua aplicação seja tema de controvérsias, mas que norteiam a formação das democracias ocidentais. Essa data, então, nos lembra a luta pela liberdade, simbolizada pela luta da autonomia dos quilombos negros das Alagoas, dentre os quais destaca-se o dos Palmares. Essa luta vem, portanto, de longa data e representa o anseio e a pressão popular por conquistas sociais cujo marco legal mais representativo se traduz na constituição da última Carta Magna da República Federativa do Brasil, a Constituição de 1988. Para encurtar o assunto, gostaria de lembrar que esse depoimento que está sendo entregue ao leitor, não por acaso, tem a ver com a história de vida de outra militante das ideias e conquistas democráticas, a da Sra. Dilma Rousseff, que acaba de ser eleita a primeira mulher encarregada de dirigir os destinos da nação brasileira pelos próximos quatro anos, em princípio. Essa mulher, a exemplo da nossa depoente, é parte do processo contraditório e, portanto, constitutivo da nossa formação social e espacial. Vejamos como, através da sua forma de se conduzir no governo, ela terá sido capaz de sublimar o sofrimento a que foi submetida naquele período negro da nossa história, a que já nos referimos acima. Reiterando, gostaria que essa leitura nos remetesse à reflexão sobre as conquistas que usufruímos hoje, e o preço que elas carregam, para que possamos considerar os valores éticos e morais de que somos tributários. Desejo a todos os cidadãos lajedenses ─ em cujo domínio, sítio (site) está sendo publicado, pelo menos em tese, este escrito, e a todos os que o acessarem ─ uma boa leitura e reflexão. " (…) a gente estava na mão deles (…) a gente achava que ia morrer (…) eu, pelo menos, sou uma sobrevivente (…) porque realmente eles matavam. " (A SOBREVIVENTE)