O errante, a terra (original) (raw)

Eia, imaginação divina!» Assim Sousândrade, com o que parece ser uma invocação sumamente romântica, que logo se revela, porém, antes de tudo, uma exclamação (não menos romântica), dá início a seu grande poema, O Guesa. 2 Trata-se, porém, de uma exclamação que determina e marca imediatamente, já no primeiro verso do poema, uma interrupção, uma quebra: o decassílabo se recorta em dois quase-versos. Eia, imaginação divina! Os Andes Volcanicos elevam cumes calvos, Circumdados de gelos, mudos, alvos, Nuvens fluctuando -que espetac'los grandes! Lá, onde o poncto do kondor negreja, Scintillando no espaço como brilhos D'olhos, e cae a prumo sobre os filhos Do lhama descuidado; onde lampeja Da tempestade o raio; onde deserto, O azul sertão formoso e deslumbrante, Arde do sol o incendio, delirante Coração vivo em céu profundo aberto!» 3