O paradoxo da tolerância como virtude: por um sentido moral de tolerância como reconhecimento (original) (raw)
Resumo: Atribuir um significado para o termo tolerância não é tarefa a ser facilmente cumprida. Muitas vezes descrita como uma virtude elusiva, a tolerância parece ser politicamente necessária, mas moralmente impossível. Isso acontece porque a tolerância é um bem moral, segundo o qual é preciso " suportar um mal " , ou seja, aguentar condutas e crenças desagradáveis de outrem, ainda que se tenha o poder para interferir nelas, entretanto, ela é uma virtude requerida apenas em face daquilo que é intolerável. Diante desse problema, por que tolerar? Defende-se, como hipótese desse artigo que, para separar o sentido de tolerância da noção de desagrado, é preciso propor um sentido moral de Tolerância como Reconhecimento. Originada a partir de uma leitura da teoria hegeliana do reconhecimento e suas interpretações, esse sentido de tolerância a coloca como condição moral do desenvolvimento intersubjetivo da individualidade, sendo, portanto, requisito constitutivo do Eu e da interação social. Dessa forma, tolerar é preciso para que se possa manter a tensão que é condição originária da subjetividade. Entende-se por tolerância um princípio moral e político que instrumentaliza interações sociais potencialmente pacíficas. Interpretada tanto como uma disposição moral do indivíduo, quanto como um meio de atuação política, a tolerância consiste em um modo de ação cuja justificação é irrenunciável: sua negação implica na legitimação da força como estratégia de resolução de conflitos. A incontestabilidade de sua necessidade prática, entretanto, não simplifica os modos de teorização dessa virtude. Isso acontece porque a tolerância pode assumir diversos sentidos, dentro da teoria moral e política. Em um primeiro momento, ela adquire o que neste projeto se denomina de sentido moral da tolerância: ela é uma virtude individual segundo a qual o sujeito deixa de agir no sentido de impedir uma prática ou crença detestável de outrem, ainda que tenha poder para fazê-lo. Em um segundo momento, entretanto, a tolerância pode ser descrita em um sentido político: ela é um compromisso democrático que possibilita a coexistência de várias comunidades culturais na esfera pública.