Homem e pessoa na antiguidade clássica (original) (raw)
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O HOMEM, A MULHER E O ESPAÇO NA GRÉCIA ANTIGA
Phoinix, 1995
Em geral, os estudiosos da sociedade da Grécia Antiga tendem a formular uma visão muito rígida a respeito das relações do homem e da mulher com o espaço. Desta forma, o homem freqüentemente é associ ado ao espaço exterior e público e a mulher é associada ao espaço inte rior e privado (a mulher reclusa). Em nossa opinião esta esquematização simplifica as complexas relações que existiam no interior da sociedade grega antiga, o que nos levou a repensar o assunto. Começamos por apreciar a situação do elemento masculino na documentação da época clássica. Sem dúvida nenhuma os homens aí aparecem como elementos centrais para os quais convergem todas as referências nà. Hélade: enquanto cidadãos ocupam as magistraturas e os cargos públicos principais, seja como juízes, comandantes militares e arautos. Sua posição na política é proeminente, exercendo participação exclusiva nas Assembléias ou nos Conselhos e detendo absolutamente os destinos de toda a comunidade, independentemente do regime político vigente'. Também os feitos notáveis e as posturas que conduzem à hon ra são creditados aos homens. Num discurso fúnebre proferido ao fim do primeiro ano da Guerra do Peloponeso. Péricles teria destacado os valores do homem ateniense nesta passagem: "Contemplai diariamente a grandeza de Atenas, apaixonai-vos por ela e, quando a sua glória vos houver inspirado, refleti em que tudo isto foi conquistado por homens de coragem cônscios de seu dever, impelidos na hora do combate por um forte sentimento de honra"�. Da mesma forma, a participação nos jogos atléticos cabe aos homens, cujo sucesso é exaltado em grande glória na sua comunidade de origem 3 • Por sua vez. a ascendência familiar é referida pelo lado masculino entre os gregos e, pelo que nos conta Heródoto, apenas os lícios seriam uma exceção 4 •
Gênero e mulheres na Antiguidade
Heródoto: Revista do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Antiguidade Clássica e suas Conexões Afro-asiáticas
O presente texto propõe uma reflexão a respeito de como as questões de gênero e a Histórias das mulheres da Antiguidade estão presentes em Livros Didáticos indicados nas escolas públicas de todo o país, além de comentar sobre a ligação destes com a BNCC e o processo de seleção. Para realizar tal objetivo, foram elencados três materiais, de editoras diferentes, direcionados ao 6 ano do Ensino Fundamental II, uma vez que é nessa etapa que o ensino sobre Antiguidade está previsto. Tais livros chegaram nas escolas em 2020 e serão utilizados até 2022. O estudo foi realizado utilizando a metodologia de análise documental, apoiando-se nas teorias de gênero e no multiculturalismo. No decurso das análises dos materiais, procurou-se estudar em quais espaços e sob quais perspectivas as mulheres são apresentadas nos livros didáticos. Os conteúdos abordados, as discussões, ou não, a respeito do termo gênero, e como as imagens de figuras femininas são utilizadas enquanto recurso pedagógico.
O HOMEM ANTIGO E A NATUREZA: UMA ABORDAGEM TRANSDISCIPLINAR
Phoinix, 1995
Pode à primeira vista parecer estranha a minha participação neste Simpósio, exclusivamente dedicado à discussão de temas relativos ao Mundo Antigo. A esta altura, alguns dos participantes já se devem ter interrogado sobre os motivos de minha presença. Certamente o principal motivo de estranheza se deve em grande parte ao fato de que, tanto minhas ativida-des de docente quanto de pesquisadora tenham desde longa data sido direcionadas para o estudo da modernidade. Mas, foi precisamente este meu enraizamente no mundo moderno, que me facultou o acesso aos gran-des debates em torno das condições de produção, limites e opera-cionalidade do saber histórico. Questões que só por si justificam minha participação. Tentarei, pois, abordar, ainda que de forma extremamente sucin-ta, alguns aspectos relativos às principais problemáticas que neste mo-mento se levantam ao relacionamento e troca de informações entre os vários saberes do homem, que iluminando-se mutuamente, lançam um nova e inusitada luz sobre o objeto ora em pauta. Conseqüentemente, minha atenção ir-se-á deter, preferencialmen-te, sobre a questão da transdiciplinaridade, modalidade capaz de gerar novas e instigantes respostas aos desafios que hoje se colocam à decifra-ção dos possíveis sentido que se desprendem das representações do ho-mem antigo sobre a Natureza. Antes, porém, de entrar propriamente no tema, gostaria de, à gui-sa de introdução, antecipar alguns breves comentários, que creio funda-mentais para esclarecer minha posição a respeito do tema que ora abor-do. Assim, parto do pressuposto, antecipado pelos trabalhos pioneiros de R. Lenoble', de que a relação estabelecida entre o Homem e a Natureza é sempre fruto de uma peculiar idéia construída historicamente pelos ho-mens, que têm como horizonte de reflexão suas próprias experiências, expectativas e representações sobre os fenômenos físicos. De fato, não parece existir uma entidade Natureza em si, neutra, radicalmente exterior e estranha ao homem. Tão somente idéias de Na-123
A vida em familia na Antiguidade Classica
A arte grega nos coloca em contato com o cotidiano das famílias, como nesse caso em que podemos ver uma jovem mulher trabalhando com fiação e tecelagem, provavelmente confeccionando um tapete ou uma coberta. Grécia A formação de uma família entre os gregos não começava sempre da mesma forma, havia variações de acordo com a origem das pessoas. Entre os camponeses, por exemplo, era comum que os jovens se conhecessem na lavoura e que, a partir dos contatos estabelecidos no trabalho, viessem a namorar e depois se casar. No caso das moças ricas, provenientes das linhagens nobres, os casamentos eram arranjados de acordo com conveniências. Isso significava que os pais das jovens procuravam casamentos em que famílias de uma mesma origem social e padrão econômico pudessem unir suas fortunas através do matrimônio de seus filhos. Eram feitas oferendas aos deuses (especialmente a Artêmis, a protetora das mulheres) e oferecido um dote ao noivo e a seus familiares. Esse presente de casamento dado pelo pai da noiva consistia em terras, bens de alto valor e, até mesmo, dinheiro. O dia em que o casamento se consolidava marcava a mudança da noiva para seu novo lar, a casa da família de seu marido. Somente no dia seguinte ao casamento é que os parentes e amigos próximos iriam dar presentes em uma visita ao lar do novo casal. Os meninos gregos das famílias que pertenciam às camadas sociais mais ricas e poderosas eram ensinados por tutores quanto à oratória, a poesia e o cálculo. As meninas eram educadas em casa, pelas próprias mães, para que se tornassem boas esposas e donas de casa. As funções das mulheres gregas estabeleciam que elas deveriam se doar ao máximo a seus maridos e filhos e, dessa forma, abdicar quase que totalmente de seus interesses e vontades. Cuidar do lar, monitorar o crescimento de seus filhos e devotar integral fidelidade ao marido passava a ser a vida de qualquer mulher grega, exceto daquelas que viviam em Esparta. A cidade de Esparta era aquela que proporcionava as mulheres a maior autonomia entre todas as polis estabelecidas na Grécia Antiga. Isso acontecia em virtude da própria orientação política adotada naquela localidade, onde a hostilidade entre cidadãos e não-cidadãos e a presença maciça de escravos criava a necessidade de manter os cidadãos em constante alerta contra revoltas internas. Como o grupo de espartanos era menor que o de não-cidadãos (escravos e estrangeiros), as crianças e mulheres eram preparados para colaborar em caso de conflitos ocorridos na cidade. A necessidade de contar com o apoio das mulheres fazia com que os homens espartanos dessem a elas treinamento militar, participação em atividades políticas e maior liberdade para participar das atividades do cotidiano da pólis (inclusive dos esportes). As mulheres que viviam em outras cidades gregas, especialmente em Atenas (cidade-estado a respeito da qual existem mais informações e documentos disponíveis para pesquisa), tinham funções claramente domésticas, conforme havíamos dito. Eram responsabilidades dessas esposas, além da criação de seus filhos, que cuidassem da casa com o auxílio dos criados (para isso tinham que averiguar o serviço doméstico e orientar os empregados quanto a forma como esse trabalho deveria ser feito), a confecção de tecidos para a criação de peças de vestuário que seriam utilizadas pelos seus próprios familiares, a produção de tapetes e cobertas e a manutenção e embelezamento da casa. Esparta se destacou como a cidade-estado grega em que as mulheres tinham maior autonomia. As espartanas podiam participar da vida pública em praticamente todas as esferas, inclusive no exército e na política. No caso das famílias humildes, a diferença consistia na inexistência de criados para a execução dos serviços domésticos, o que acarretava a necessidade de que esses trabalhos fossem realizados pela própria esposa, inclusive cozinhar, lavar e limpar a casa. Era comum que as famílias se reunissem para realizar suas orações, no entanto, a posição dos demais membros da família em relação ao pai era de total subserviência. Todos lhe deviam respeito e total obediência, considerava-se que as mulheres e os filhos estavam sob a guarda legal do chefe de família e, de certa forma, a vida das mulheres grega se alterava apenas no que se refere ao homem que comandava suas ações, o seu pai na infância e o seu marido na idade adulta. A situação de homens e mulheres na Grécia Antiga começava a se diferenciar quando ainda eram crianças. O primeiro e mais significativo indício dessas vidas diversas quanto ao futuro era a própria
Antiguidade e relações de gênero
Como belos corpos de mortos que nào envelheceram eforam encerrados, com lágrimas, em magnifico mausoléu, com rosas nas cabeças e jasmins nos pés -L M.; FUNARI, P. P. A. 2008 Antigos e modernos: cidadania e poder médico em questão. In: RAGO, L. M.;
“Homem” e “Mulher” numa Visão Tradicional Segundo Tomás de Aquino
Numen, 2016
Neste artigo, veremos como compreender mais corretamente a visão tradicional de “homem” e “mulher” e tomamos como referência a filosofia de Tomás de Aquino. Buscaremos fazer melhor definição possível de tal visão tradicional, apresentando argumentos que a torne coerente. Neste sentido, questões muito problemáticas serão revisadas, como a mulher ser considerada um “defeito” ou “falha” da natureza, ter uma “função passiva” no sexo, ser “sujeita socialmente” ao homem e o pecado original ser culpa da mulher. Essas questões não serão tornadas coerentes no sentido de que estamos justificando tais situações, mas essas questões serão revisadas no sentido de se compreender melhor o que induziu os antigos e medievais a entenderem as coisas desse modo. Muitos entendem erroneamente que os antigos e medievais defendiam esses pensamentos por um mero preconceito sexista, construindo sistemas com a intenção de ofender e diminuir as mulheres. É contra esta posição errada que estamos produzindo esse ...