A trajetória das praticas corporais Kaingang (original) (raw)

Etnociência Kaingang

Revista Cadernos do Ceom, 2020

Muitos são os relatos e descrições registrados em documentos históricos relacionados com o conhecimento que os indígenas brasileiros tinham e ainda têm sobre os domínios da natureza. O uso do prefixo “etno” compreende conceitos como comportamentos, linguagem, mitos e toda uma simbologia própria pertencente a um contexto social e cultural. Assim, muitos são os conhecimentos etnocientíficos presentes nas mais diversas etnias indígenas, sustentando inúmeros temas de pesquisas acadêmicas. Deste modo, este artigo tem como objetivo destacar os conhecimentos provindos das atividades historicamente registradas em específico para a etnia indígena Kaingang. Respeitando a crença Kaingang da forte relação do mundo natural com o espiritual, utilizou-se a metodologia de revisão sistemática de literatura chamada Methodi Ordinatio para selecionar os artigos mais recentes sobre a temática, além de contemplar os documentos históricos considerados pioneiros da literatura Kaingang.

A trajetória de vida de uma mulher kujá Kaingang

Iracema Ga Rã Nascimento é uma mulher que se transformou numa grande xamã e liderança política do seu povo ao realizar a missão que seu avô deu para ela durante seu primeiro banho de ervas. Atualmente, ela vive com sua família na periferia de Porto Alegre, onde segue cumprindo sua missão. Neste trabalho relataremos brevemente sua história e veremos como esta é um exemplo de vida onde os saberes próprios e herdados dos seus antepassados expressam profundos desafios decoloniais. De esta maneira, relataremos três momentos da sua vida nos quais estes saberes contra-hegemônicos devem ser entendidos como profundamente políticos e potencializadores de mudanças sociais para o povo Kaingang: os primeiros sonhos de Iracema, aos seus 16 anos quando teve que ajudar ao seu pai a retomar as terras Kaingang no Paraná do lado da liderança Ângelo Kretã; a cura de um menino mudo que ela realizou com a ajuda de dois outros kujá e as duas viagens que ela fez na comunidade Kaingang de Kandóia quando cinco das suas lideranças foram presas acusadas da morte de dois colonos.

Prática artística em comunidade indígena Kaingang

PÓS: Revista do Programa de Pós-graduação em Artes da EBA/UFMG

O projeto artístico DNA afetivo kame e kanhru, prática artística colaborativa em uma comunidade indígena kaingang, é a referência para pensarmos em modos de fazer colaborativos em arte. Assim, o objetivo desse artigo é investigar como essas práticas se constituem. Para isso, baseia-se em discursos de artistas e críticos de arte contemporâneos engajados em práticas artísticas de cunho político e social, tais como Helguera (2011) Kester (2011) e Lacy (1995). Desse modo, busca-se responder as questões: qual é o lugar do artista e sua atuação? Como conceber o tempo dessas práticas e quem é o seu público? Como falar de uma autoria colaborativa e de que forma se apreendem essas práticas a partir do sistema de arte? Como resultado de tais indagações, apresentam-se possibilidades metodológicas no campo da arte colaborativa.

Cantos sem fim: formas políticas Kaingang e seus movimentos

Nós estamos aqui exercitando nosso pensamento kaingang, nosso jykre. Eu estou saindo do movimento de juventude e me fortalecendo no movimento das mulheres. É um outro processo, outra forma de fazer a luta, mas não deixa de estar no envolvimento constante com a juventude, porque é a juventude que faz a comunidade, é a ponte entre o passado e o futuro, como dizia o Augusto Opẽ. A juventude faz o presente, e é assim que os Kaingang pensam, que nós somos o povo do amanhã. Nyg Kuitá Kaingang, durante o ATL online de 2021 Assim como o pharmakós (a vitima sacrificial) tinha para os gregos o valor ambivalente do veneno e do remédio (a palavra é da mesma raiz de "farmácia", fármaco, droga), o som tem a ambivalência de produzir ordem e desordem, vida e morte (o ruído é destruidor, invasivo, terrível, ameaçador e dele se extraem harmonias balsâmicas, exaltantes, extáticas).

Aspectos Comuns Da Organização Social Kaingang, Xavante e Bororo

Espaço Ameríndio, 2008

RESUMO: Durante o desenvolvimento do Projeto Taió (Arqueologia do Planalto Catarinense), foram realizadas pesquisas etno-históricas a respeito dos Jê Meridionais-Tradição Taquara/Itararé e seus descendentes Kaingang. Os resultados desses estudos levaram à necessidade de obter dados que permitam discutir como se constituiu a identidade étnica do grupo, percebendo de que maneira o processo migratório para a Região Sul influenciou sua especificidade cultural. A estratégia utilizada para abordar a questão foi perceber o Kaingang dentro do contexto dos Povos Jê, confrontando-o, através de análise comparativa, com as sociedades Xavante e Bororo a fim de mapear elementos distintos e comuns de suas estruturas de organização social. Os resultados obtidos vêm auxiliar os estudos culturais Kaingang e a interpretação de dados arqueológicos.

ASPECTOS DA LÍNGUA KAINGANG

As línguas indígenas brasileiras expressam, antes de tudo, patrimônio cultural da nação. Não existem “índios”, mas sim povos indígenas, sociedades distintas com organizações sociais muito complexas. Esses povos são cerca de 220 no Brasil, tendo-se aproximadamente 170 línguas vivas. Segundo Aryon Rodrigues, um dos mais importantes pesquisadores das línguas indígenas brasileiras, “é provável que na época da chegada dos primeiros europeus ao Brasil, o número das línguas indígenas fosse o dobro do que é hoje”. (1986, p. 19). Neste sentido, este trabalho procura mostrar aspectos de umas das línguas indígenas com maior número de falantes no Brasil: o Kaingang. O povo que a fala é um dos mais populosos do país, sendo que o censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísca aponta este povo como o terceiro em número de população, com 37.470 indivíduos, sendo que o povo Tikuna é o mais populoso (46.045), seguido pelo povo Guarani Kaiowa (43.401). Seus integrantes vivem nos três estados da região Sul do país e também no oeste de São Paulo. São falantes da língua que dá nome à etnia e identificados geneticamente ao tronco linguístico Macro-Jê.

Veinkupri Hã: o ensino Kaingang / Veinkupri Hã: the Kaingang learning

Cadernos CIMEAC, 2017

A atual política escolar indígena, norteada pelo modelo da educação diferenciada, garante o ensino da cultura indígena na escola, sobretudo o ensino da língua nativa. Contudo, este modelo tem reduzido algumas vezes, a alfabetização na língua indígena como sendo o equivalente ao ensino da cultura indígena. Embora não siga o modelo de educação diferenciada, já que seus membros não estão filiados à escola indígena do Território Indígena (T.I.) Vanuíre (pertencente ao município de Arco-Íris no estado de São Paulo), o Grupo de Cultura Kaingang tem respondido a esses desafios através do agir dos Veinkupri Hã ou espíritos dos mortos bons (guerreiros guardiões da cultura Kaingang). Para investigar como esse ensino tem sido retomado pelos membros do Grupo de Cultura Kaingang do T.I. Vanuíre, assim como o que ele elege manter e o que elege mudar da tradição, utilizou-se o método psicanalítico agregando-lhe procedimentos etnográficos (escuta participante). O ensino pautado pelos Veinkupri Hã contempla a totalidade do corpo e, por isso, não prioriza a esfera cognitiva ou representacional em voga na Educação. Antes, visa o preparo e fortalecimento do corpo da criança para que ela consiga agir conforme os espíritos dos mortos bons, buscando a consolidação de uma alma indígena atuante. A criança aprende a respeitar e a se comunicar com os Veinkupri Hã por meio da expressão em si mesma de um espírito guerreiro. Embora tradicionalmente os Kaingang evitassem os mortos, o Grupo de Cultura Kaingang mantém a comunicação com eles para combater as subjugações históricas e contemporâneas que os destinam a não ser quem são. Deste modo, evidencia-se a impossibilidade de desvincular o ensino cultural do ensino espiritual indígena. O Grupo de Cultura Kaingang provoca a sociedade brasileira a repensar suas políticas públicas versadas à Educação. Na busca por uma educação intercultural não há como deixar de fora o âmbito espiritual dos povos indígenas.

Os Kaingang do parana e seus deslocamentos cíclicos para o Mato Grosso do Sul

TRAVESSIA - revista do migrante

Este artigo refere-se a uma sociedade Jc meridional c à experiência recente de alguns de seus membros como trabalhadores temporários no município de Brasilândia-MS. Os Kaingáng dos Postos Indígenas Apucarana (município de Londrina), Barão de Antonina e São Jerónimo (município de São Jerónimo da Serra), localizados na região norte do Estado do Paraná, começaram a se deslocar para a Fazenda da Destilaria Brasilândia S/A- DEBRASA há cerca de cinco anos, onde vãocortarcana-de-açúcar. Permanecem por períodos de 60 dias c repetem essas viagens três a quatro vezes ao ano. [...]

História da origem dos cestos Kaingang

Farol, 2022

Resumo: este artigo apresenta estudos sobre a cestaria e pinturas em cestos Kaingang por duplas de professores Kaingang junto a artistas, professores e estudantes do curso de Artes Visuais da UEM. Foram utilizados referenciais metodológicos interdisciplinares associando pesquisa em poéticas visuais, autoetnografia e etnohistória. Os resultados desdobram-se na produção de artigos, feitos também pelas demais duplas de participantes do projeto, que contribuem para a divulgação sobre aspectos da arte indígena, subsidiando a prática dos professores de Arte.

Conhecimento tradicional Kaingang: o uso de ervas medicinais

ODEERE, 2021

O povo Kaingang é o mais populoso do Sul do Brasil e está entre os mais numerosos povos indígenas do país. Neste trabalho faz-se uma relação entre as informações encontradas na literatura e a atualidade na Terra Indígena Kaingang em relação ao conhecimento que possuem sobre o uso de plantas para a cura de doenças e como interpretam a ação da erva no organismo. Para isto, realizou-se uma pesquisa de campo em uma Terra Indígena Kaingang no Paraná, cujo entrevistas forneceram confirmações históricas em relação aos etnoconhecimentos da etnia, da evolução dos aspectos químicos e das atitudes perante a química e os remédios de origem farmacêutica e natural.