O dissonante rapto de Heleno (original) (raw)

-chave: Nossos ossos, Marcelino Freire, afetos, soropositividade. O romance Nossos ossos, de Marcelino Freire, transita pelas memórias e experiências do dramaturgo Heleno. Nascido em Sertânia, no interior de Pernambuco, cidade bastante pequena onde vivia com seus pais e irmãos, namorou, quando jovem, Carlos. Com a partida deste para São Paulo, não vê outra alternativa senão seguir o amor de sua vida. Parece que a felicidade não lhe pertence, pois ao chegar na cidade de ferro, Carlos evita-o a todo custo. Dramaturgo, faz das peças catarse. Vive -ou confinase -à margem. Conhece Índio e tantos outros garotos que vendem seu amor até encontrar o "seu" boy, Cícero, fisicamente tão parecido com seu Carlos, e a morte. Na narrativa, percebemos o modo como essas figuras, estando à margem, transitam/vivem por (n)esses espaços invisibilizados: o gueto, a rua à noite, hotéis baratos, metrôs e outros lugares de trânsito nos quais a existência do outro se dilui com o ritmo desenfreado da cidade grande -entre as zonas fantasmas e os espaços de fluxos (BAUMAN, 2009). Essas personagens, gays, garotos de programa, travestis, idosos, jovens, que (se) transformam no decorrer dos anos, (des)construindo suas identidades, reinventam seus corpos, lindam com violências invisíveis (MISKOLCI, 2009). São sujeitos invisibilizados, vistos como pessoas supérfluas, se fizermos uma leitura mais abrangente sobre o exposto por Bauman quanto às pessoas que vivem nessas zonas fantasmas. É nesse espaço que residem perigos, pesadelos, criminosos, violências. A funesta voz de Heleno, narrador-personagem, em depoimento a Paulo Lins, dá indícios do fim (trágico) e muito próprio das tramas gays: nesta "vida, amei os aplausos, as