Curandeiros, Feiticeiros e práticas alternativas de cura na Comarca do Rio das Mortes na segunda metade do Oitocentos (original) (raw)

Um diálogo sobre as práticas de cura das Rezadeiras da Cidade de Cachoeira (BA)1

O presente estudo parte de uma etnografia realizada na casa de duas rezadeiras, na cidade de Cachoeira, no recôncavo da Bahia, cuja abordagem foi qualitativa, através do método da observação participante. É apresentada também narrativas da comunidade, expostas durante a realização da pesquisa, para refletirmos sobre as redes de interações e produção de significados que circunscreve o saber das rezadeiras. Através da inserção no campo etnográfico, abordaremos as práticas realizadas pelas rezadeiras como "mágico-terapêuticas" que, imersas em um complexo sistema simbólico, só se torna eficaz na coexistência relacional com a comunidade em que está inserida.

Por uma história da saúde do Vale do Jequitinhonha: reflexões sobre práticas populares de cura

Caminhos da História, 2021

O artigo reflete sobre as práticas populares de cura no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, especificamente em duas cidades da região. Para tanto, realizamos uma digressão por períodos específicos do século XIX e início do século XX, a fim de acompanhar como os agentes de cura populares foram alvo dos discursos da medicina científica no Brasil, no momento em que essa última pretendia afirmar sua hegemonia no campo do cuidado com a saúde. Em seguida, observamos os reflexos desse contexto em Diamantina, onde curadores populares foram envolvidos em processos criminais que pretendiam desqualificar as suas práticas. Por fim, no último tópico, com o auxílio da metodologia de História Oral, discutimos a permanência das práticas populares de cura na região, especialmente, benzeções e o uso de plantas medicinais. Argumentamos que, apesar do processo histórico de repressão aos “curadores” não médicos, as práticas populares de cura seguem presentes na sociedade e constituem elemento fundam...

Curandeiro, parteira e sangrador: ofícios de cura no início do oitocentos na corte imperial

2018

This article tries to highlight the relations between popular therapists and those with academic formation in Rio de Janeiro of the first decades of the nineteenth century considering the historiography of the exercise of healing arts. From the documentation of the Fisicaturamor, it is sought to emphasize issues such as the heterogeneity of the popular therapists and to show the diversity of the relations between popular therapists and those with academic formation

Os homens da cura na Guimarães Medieval

Revista Afonsina, 2021

Este breve artigo tem como objetivo principal dar a conhecer os diversos tipos de ofícios de cura que estão documentados em Guimarães no final da Idade Média, os seus praticantes e a sua realidade social. A revitalização da vida urbana, o papel regional relevante de Guimarães e as suas relações comerciais que ultrapassavam em muito as fronteiras do reino de Portugal, tornam o burgo vimaranense tardomedieval um estudo de caso central. A documentação abundante, proveniente sobretudo do cartório da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, mas também dos arquivos régios, entre outras proveniências, revela-nos nomes, percursos e interações destes homens, mas também mantém muitos silêncios que multiplicam as questões a colocar.

Outras historias do povo de santo feiticeiras e curandeiros soteropolitanos 1930 1960

Esse texto preocupa-se com universo religioso afro-brasileiro, em Salvador, no período que compreende as décadas de 1930 e 1960. O objetivo é analisar processos criminais e jornais com o intuito de reunir indícios de práticas religiosas que envolveram supostos curandeiros, adeptos do candomblé e feiticeiros. O estudo contemplou heterodoxas que evidenciam características destoantes da propalada “baianidade nagô”. O debate sobre pureza iniciado pelos pesquisadores na década de 1980 abriu espaço para problematizar as relações entre o povo de santo, trazendo à tona práticas, deuses e rituais que não foram tratados pelos estudos clássicos afro-brasileiros, que hierarquizaram saberes e experiências com um crivo semelhante ao que vigora nos terreiros, tidos como tradicionais na Bahia. A documentação analisada foi produzida com o intuito de criminalizar as práticas religiosas dos envolvidos, para a pesquisa adotou-se a leitura a contrapelo com o intuito de trazer à tona rituais que envolveram caboclos e encantados, ligados a feitiços, rezas, passes e defumações. Nessa abordagem, seguiram-se as estratégias adotadas pela História Social da Cultura preocupada com os significados das práticas, a partir do contexto em que estão inseridas, ou seja, interessam os significados compreendidos em seu tempo, o que pode ocorrer ao evidenciar a pluralidade de práticas heterodoxas homogeneizadas em termos genéricos como “candomblé”. Conclui-se que o universo religioso afrobrasileiro na Salvador das décadas de 1930 e 1960 apresenta uma zona cinzenta permeada por encantados, caboclos e guias, em um contexto que parecia ser domínio exclusivo de orixás, voduns e inquices.

As práticas populares de cura utilizadas por rezadores no povoado Brejinho, município de Luiz Correia - PI

Escola Anna Nery, 2007

O estudo analisou as práticas populares de cura utilizadas por rezadores. Objetivou-se, com o trabalho, analisar as práticas populares por rezadores procurando a associação da prática com a assistência à saúde da população. Foi uma pesquisa qualitativa do tipo descritiva. Os dados foram obtidos utilizando entrevista gravada. Foram realizadas oito entrevistas. Identificaram-se as categorias: herança cultural, clientela e forma de pagamento. Conclui-se que as comunidades buscam seu próprio meio de resolver questões sobre saúde-doença, e que a parceria dos rezadores e profissionais de saúde poderia melhorar a qualidade de vida da população intermediando saberes.

As Feiticeiras denunciadas nos Cadernos do Promotor no Episcopado de Dom Frei Manuel da Cruz (1745-1764)

As Feiticeiras denunciadas nos Cadernos do Promotor no Episcopado de Dom Frei Manuel da Cruz (1745-1764)

As fontes históricas, sobretudo as fontes primárias que são também expressão de formas jurídicas de menor visibilidade, abrem o caminho para o conhecimento do direito que escapa ao congelamento dogmático imposto pelo estudo isolado de processos, da lei e da própria doutrina. O presente artigo se propõe a apresentar algumas denúncias presentes nos Cadernos do Promotor durante o Episcopado de Dom Frei Manuel da Cruz (1745-1764), no Bispado de Mariana. Desses documentos podem ser extraídas significativas ilações sobre a história do direito, especialmente da conformação e antecedentes do Direito Penal e do Processo Penal. A especificidade deste trabalho reside no esforço de abrir uma interlocução entre Direito e História, ao se propor enveredar em casos de pessoas anônimas da Capitania Mineira, por meio das denúncias de feitiçarias à Santa Inquisição. Nos fólios arquivados na Torre do Tombo há mais em jogo do que a curiosidade venal sobre a vida de cada um dos denunciantes e denunciados ou das premissas que levaram um representante da Igreja a registrar uma denúncia por feitiçaria e adivinhação. Cada uma das denúncias é uma contingência relevante e, por mais miúda que seja na grandiosidade falaciosa da abstração jurídica, permite compreender o direito como acontecimento concreto e absorver suas (des)funcionalidades, localizadas em determinado tempo e espaço, de modo mais eloquente do que as passagens repetitivamente abertas pelas versões genéricas de seus fenômenos principais. Os lugares comuns no tratamento dos efeitos histórico-jurídicos da Inquisição são balançados pela visão colateral das pessoas comuns, cujas vidas se encontram registradas na narrativa litigiosa dos Cadernos do Promotor. O entremeado dos vários cenários, que vai do quadro maior da Inquisição à cena cotidiana e invisível das histórias de delatores, vítimas e algozes, justifica o percurso pela micro história como um caminho natural da História do Direito, na medida em que essa última só se perfaz no encontro do conflito, do caso, do imediato, da relação entre as pessoas. Assim, ainda que se possa falar de uma História do Direito a se alastrar nas alturas das decisões e dos poderes do Tribunal do Santo Ofício, haverá uma imensidão de elementos a desvendar a partir dos registros inquisitoriais: as denúncias de crimes heréticos perseguidos pelo Santo Ofício, bem como as 1 Mestrando no Programa de Pós Graduação em História da UFSJ 2 Mestra em Direito pela UFMG

O exercício das artes de curar no Recife (1828-1845) algumas considerações

O controle do exercício das artes de curar no Recife, por parte da administração municipal, em diálogo com a elite médica, integrou o projeto higienista ao qual essa cidade foi submetida na primeira metade do século XIX. Objetivando analisar algumas particularidades desse processo, a partir do Código de Posturas da Câmara Municipal (1831) e de publicações do Diário de Pernambuco (1828-1845), este estudo analisa a regulamentação das artes de curar, a permanência de práticas populares de cura e a fiscalização de tais práticas. Os resultados alcançados, embora iniciais, permitem observar que uma parte dos terapeutas populares, mesmo impedidos de atuarem, continuava agindo na ilegalidade, impondo desafios à normatização das artes de curar em curso nesse período.

Médicos e "charlatões": conflitos e convivências em torno do 'poder de cura' no Recife dos anos 1920 *

Resumo A partir de meados do século XIX, quando a medicina começou a constituir-se enquanto campo de saber científico e racional, baseada em técnicas sistemáticas, iniciou-se na cidade do Recife uma luta entre as práticas de cura e as medicações tradicionalmente usadas pela população, fruto da diversidade das suas raízes culturais, e a medicina que se oficializava. Este artigo objetiva compreender os conflitos e convivências entre a medicina oficial e os chamados "charlatães" no Recife do início do século XX, analisando as rupturas e confrontos entre saberes diversos que se deparavam: de um lado, as idéias européias, fruto do racionalismo e do cientificismo; do outro, noções baseadas em origens culturais diversas que se encontraram no Novo Mundo, perpassadas de elementos de magia e religiosidade. Palavras-chave Médicos-Charlatões-Recife-Cura-Anos 20 O Recife era considerado, na virada do século XX, uma das cidades mais insalubres do país. O médico Octávio de Freitas ressal...