A Força de uma Trajetória: o Brasil e as operações de paz da ONU (1948-2015) (original) (raw)

Esta Nota Estratégica visa identificar elementos que reflitam o caminho percorrido pelo Brasil nas missões de paz da ONU, desde a primeira, em 1948, até os dias de hoje. Trata-se de desvendar um importante legado que o Brasil deixa não apenas para si mesmo, mas também para as discussões sobre o futuro das operações de paz. Em tempos de crise, como os atuais, a identificação de padrões de comportamento torna-se ainda mais relevante, na medida em que aspectos recorrentes poderão orientar a tomada de decisão após dissipada a névoa da incerteza. Para tanto, foram analisadas todas as contribuições do Brasil para missões de paz da ONU, entre 1948 e 2015. Os principais resultados, trazidos à tona neste artigo, incluem: • Das 71 missões de paz já autorizadas pelo Conselho de Segurança da ONU (CSNU), 50 contaram com apoio de brasileiros no terreno, o que equivale a 70,1%; • O número de missões com participação de militares e policiais brasileiros aumentou consideravelmente nos últimos 15 anos: em 2000, o Brasil participava de três missões e, hoje, o país participa de 10 missões, o que corresponde a um crescimento de 333%; • Desde a primeira missão, mais de 46 mil militares e policiais brasileiros estiveram no terreno sob a bandeira azul da ONU. Desses, cerca de 86% foram desdobrados nos últimos 25 anos; • Ao todo, houve apenas três momentos que se destacam devido aos números significativos de tropas brasileiras no terreno: anos 1950/1960 (Suez/UNEF I), anos 1990 (Angola/UNAVEM III) e anos 2000/2010 (Haiti/MINUSTAH, conjugada em menor escala com Líbano/UNIFIL); • O engajamento do Brasil nas missões de paz parece motivado tanto por interesses específicos como por interesses gerais: as missões de interesse específico atraem grandes números de tropas brasileiras, enquanto que as de interesse geral evidenciam a busca do Brasil por marcar sua presença em espaços multilaterais, ainda que com baixo número de profissionais no terreno; e • Apesar da excessiva cautela do discurso diplomático do Brasil quanto ao engajamento em missões autorizadas sob o Capítulo VII da Carta da ONU, os dados revelam a participação de brasileiros em 74% dessas missões.