Sobas e homens do rei em Angola: sobas, governadores e capitães mores, séculos XVII e XVIII (original) (raw)
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2018
Compreender como se constituíram as relações coloniais estabelecidas entre portugueses, moradores e Sobas no distrito de Golungo Alto, Angola, a partir de narrativas colonias é o objetivo central deste trabalho, que discute a importância de tais relações para a interiorização portuguesa no entremeio do século XIX e configuração de novos arranjos políticos africanos. A investigação teve como fonte privilegiada textos de pequenos agentes coloniais de carreira militar que circularam pelo interior de Angola entre as décadas de 1840 e 1860. O período abarcado pela pesquisa foi de fortes discursos de mudanças políticas e econômicas da atuação portuguesa em Angola, inseridos em um debate mais amplo acerca das possibilidades de ocupação efetiva deste território africano. Dito de outra forma, a paulatina bancarrota do tráfico legal de escravizados exigia uma ação portuguesa de maior inserção no território africano, o que levou ao incentivo da atividade agrícola e extrativa para fins comerciais de exportação, abrindo caminho para novas possibilidades comerciais aos moradores e novos processos de interação entre portugueses e comunidades africanas tradicionalmente mediadas pelos Sobas. O material empírico aqui analisado atesta esta tendência e permite verificar a inconstância das ações coloniais portuguesas ao longo do século XIX e a participação de mestiços e africanos, seja em reação as novas exigências externas trazidas pela administração colonial ou ainda em suas próprias iniciativas visando o melhor prover na empresa comercial. A maioria das narrativas criticamente analisadas diz respeito a visitas, vistorias e campanhas militares realizadas nos sertões de Angola por funcionários coloniais pertencentes ao corpo militar. Conquanto, mesmo em uma documentação assinalada pelos interesses coloniais foi possível perceber a agência africana, especialmente no que diz respeito à ação comercial, que permitiu a moradores e Sobas da região do Golungo Alto o protagonismo em diversos momentos, desde o monopólio sobre a mão de obra africana, passando pela resistência ao serviço de carreto até as tentativas de controle da circulação de mercadorias
Anais do XI Encontro de Pós-Graduação em História Econômica & 9ª Conferência Internacional de História Econômica (2022), 2023
A chamada transição do comércio lícito tornou-se nas últimas décadas um tema clássico entre historiadores econômicos e sociais do continente africano. Os avanços no campo, principalmente para a região da África Ocidental, demonstraram uma grande variedade de processos e a necessidade de aprimoramento de estudos regionais que levem em conta as dinâmicas políticas, econômicas e sociais já existentes antes da proibição do tráfico atlântico de escravos no território em questão. Levando em conta tais diretrizes, essa comunicação pretende destacar brevemente as principais características do comércio atlântico no Planalto Central de Angola nas décadas finais do tráfico escravista (décadas de 1840 a 1860), defendendo que a expansão e consolidação do dito comércio lícito da região, principalmente de marfim e cera, foi possível graças à incorporação e manutenção de redes e estratégias de agentes comerciais que já atuavam na região desde o último quartel do século XVIII, durante o auge do nefando comércio.
Laços de afeto e comércio de escravos. Angola no século XVIII
O texto tem como foco os poderosos grupos de comerciantes de Luanda no século XVIII. A abordagem tem como ponto de partida algumas famílias formadas a partir da união entre as mulheres africanas e homens portugueses recém-chegados a aquele litoral. Os conjuntos de parentes incorporavam os novos membros pela estratégia dos matrimônios e criavam laços de compadrio para garantir o acesso ao poder local e às rotas comerciais entre litoral e interior. Parentesco, amizade e fidelidade ao grupo eram alguns dos ingredientes que articulavam poder e comércio. Para a análise, utilizo a documentação que consolida os laços de parentesco e de amizade, que são os registros de casamento, de batismo e os testamentos.
Laços de afeto e comércio de escravos. Angola no século XVIII 1
Resumo O texto tem como foco os poderosos grupos de comerciantes de Luanda no século XVIII. A abordagem tem como ponto de partida algumas famílias formadas a partir da união entre as mulheres africanas e homens portugueses recém-chegados a aquele litoral. Os conjun-tos de parentes incorporavam os novos membros pela estratégia dos matrimônios e cria-vam laços de compadrio para garantir o acesso ao poder local e às rotas comerciais entre litoral e interior. Parentesco, amizade e fidelidade ao grupo eram alguns dos ingredientes que articulavam poder e comércio. Para a análise, utilizo a documentação que consolida os laços de parentesco e de amizade, que são os registros de casamento, de batismo e os testamentos. Palavras-chave: África Central Ocidental, comércio Atlântico, relações de compadrio, mercadores de escravos. Abstract The text focuses on the powerful groups of merchants in Luanda in the eighteenth century. The approach has as its starting point some families formed from the union between African women and Portuguese men newcomers to these coasts. The sets of relatives incorporated new members through the strategy of marriage and created bonds of friendship to ensure access to local powzer and trade routes between the coast and inland. Kinship, friendship and loyalty to the group were some of the ingredients that articulated power and trade. For the analysis, I use the documentation that strengthens the ties of kinship and friendship, which are the records of marriage, baptism and wills.
Inquisição, degredo e mestiçagem em Angola no século XVIII
2004
Uma abordagem atlântica * Os meus agradecimentos a Ainda Freudenthal, Carlos Pacheco, Alexandra Aparício e Philip Havik pelas sugestões e leituras críticas que muito enriqueceu o texto final. 1 Atento aqui para a terminologia usada por Isabel Castro Henriques: «sociedades inéditas atlânticas», em 2001, p. 142.
Este artigo aborda a associação entre a guerra, a militarização e as relações políticas dos portugueses com os chefes locais (sobas e dembos), muitas vezes usadas como recurso para o desenvolvimento dos interesses comerciais em Angola durante o século XVIII. Por meio dos autos de vassalagem assinados pelos chefes locais e as cartas patentes recebidas por estes homens, analisa-se a relação estabelecida entre portugueses e africanos. Com isso, busca-se compreender melhor a dinâmica do comércio de escravos, a incorporação de cargos africanos na estrutura militar portuguesa e o modo como a coexistência de poderes e hierarquias portugueses e africanos foi condição sine qua non para a manutenção do domínio português em Angola.