Gothold Ephraim Lessing, Laocoon: objecção à teoria das artes irmãs (original) (raw)
A teoria das artes irmãs goza de uma larga tradição que remonta à Antiguidade Clássica, nomeadamente a Platão e a Aristóteles, ainda que sejam atribuídas a Simónides de Ceos e a Horácio as suas manifestações mais conhecidas. Plutarco (De Gloria Atheniensium, 346 f-347 a) atribui ao primeiro a afirmação de que a pintura é «poesia muda» e a poesia é «pintura que fala», Horácio declara que «ut pictura, poesis» -como a pintura, assim é a poesia -expressão que se converteu na formulação mais conseguida e influente da história da comparação entre as duas artes 1 . A análise da problemática das relações entre literatura e pintura tornou-se um dos principais tópicos de reflexão da teoria da arte e da estética. Nem sempre pacífica, esta questão deu lugar a uma acesa discussão, ora no sentido da união, ora no sentido da separação das duas artes. A formulação de Horácio «ut pictura poesis» surge na Arte Poética, também denominada Epistola ad Pisones, obra onde são expostos alguns princípios retóricos que fazem com a Epistola transcenda o carácter de simples missiva. Esta afirmação contém uma comparação explícita entre as duas artes e solidifica a teoria das artes irmãs. O aforismo de Simónides de Ceos «a pintura é poesia muda e a poesia é pintura falante» emprega uma metáfora, da qual não se pode deduzir uma equivalência literal entre o sistema pictórico e o sistema poético, ao contrário da afirmação de Horácio. Luís Adriano Carlos observa que «de acordo com a interpretação de Plutarco, a poesia, tal como a pintura, produz uma representação vívida das emoções e das expressões, fazendo do texto um espectáculo e do leitor um espectador. [...] Contudo, o que se pressupõe na máxima de Simónides é 1 Cf. Luís Adriano Carlos, O Arco-Íris da Poesia -Ekphrasis em Albano Martins, Porto, Campo das Letras, 2002, pp. 21-22.