Luis Alberto Brandão – Teorias do espaço literário (original) (raw)
Ainda que não sublinhe ostensivamente suas predileções no amplo painel conceitual que oferece ao leitor em Teorias do espaço literário, Luis Alberto Brandão parece calcar seu entendimento de literatura nas variações e desvios -heterotopias, como nomeia Michel Foucault (2013 [1984]) -que vêm desestabilizar imaginários enrijecidos pelo controle e recalque cotidianos. Tal ideia, muito difundida, é tendencialmente idealista e encontra forte propulsor no Roland Barthes de Aula: "Essa trapaça salutar, essa esquiva, esse logro magnífico que permite ouvir a língua fora do poder, no esplendor de uma revolução permanente da linguagem, eu a chamo, quanto a mim: literatura" (Barthes, s. d. [1978], p. 16). No Brasil, o raciocínio recebe sua melhor lapidação nas mãos de Graciliano Ramos (em notória frase de Memórias do cárcere): "começamos oprimidos pela sintaxe e acabamos às voltas com a delegacia de ordem política e social, mas, nos estreitos limites a que nos coagem a gramática e a lei, ainda nos podemos mexer" , p. 34). Mesmo que se atenha à força coercitiva da língua, assim como Barthes (s. d. [1978], p. 15) -"em cada signo dorme este monstro: um estereótipo" -, Graciliano indica a possibilidade de movimento pelo desembaraço criativo. E é sobretudo a este que Brandão quer ratificar.