A voz dos tradutores shakespearianos em seus paratextos (original) (raw)

Vozes Femininas nas Traduções Brasileiras do Drama Shakespeariano

Cadernos de Tradução, 2022

Resumo: O objetivo deste artigo é traçar o perfil de algumas tradutoras da poesia dramática shakespeariana para o português do Brasil, cujo marco inicial foi A megera domada em tradução de Berenice Xavier (1936). A perspectiva adotada insere-se na vertente da sociologia da tradução que se fundamenta nos conceitos de habitus, capital e campo de Pierre Bourdieu (1986, 1989, 1996) e na subárea dos Estudos da Tradução a que Andrew Chesterman (2009) se refere como Estudos do Tradutor. Considerando-se apenas traduções integrais a partir da língua inglesa e publicadas sob forma de livro, contam-se até o final de 2020 um total de 214 traduções brasileiras das 39 obras dramáticas de Shakespeare. Até o momento, 39 tradutores individuais, uma dupla e um coletivo assinaram traduções integrais de peças do cânone, grupo no qual se incluem apenas dez mulheres. Ao examinar conjuntamente dados biográficos, visões de tradução e comportamento tradutório dessas mulheres, levando em conta o contexto sociocultural em que se inseriam ou se inserem, pretendo ressaltar o seu legado, em uma possível contribuição para a historiografia da tradução literária no Brasil.

Tradutores De Machado De Assis: Vozes Na História Da Tradução

Belas Infiéis, 2017

A contribuição de tradutores no fomento de obras de Machado de Assis (1839-1908) em inglês tem se mostrado bastante relevante desde os anos 1920, se intensificou nos anos 1990 e continua em expansão no século XXI. Entretanto, pouco se sabe sobre as motivações que levaram os tradutores a se empenhar em elaborar obras desse escritor para o inglês. Os depoimentos dados por diferentes tradutores podem fornecer informações importantes e até mesmo curiosas sobre as razões subjacentes à publicação de uma tradução em outra cultura (BASSNETT, 1993; 1998). Eles podem evidenciar, por exemplo, como e por que os tradutores formularam sua tradução, suas concepções de tradução e como seus procedimentos podem constituir um discurso e uma (micro) história sobre o tradutor e o traduzir (MUNDAY, 2013; 2014). Neste ensaio, aborda-se a história da tradução e do tradutor para o inglês de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, a partir de textos suplementares (NEWMARK, 1988) ou de fontes te...

Traduções de Hamlet no Brasil: um estudo diacrônico dos paratextos

Tradução em Revista , 2018

Introdução A obra de William Shakespeare é notoriamente conhecida no mundo todo. As suas peças são encenadas e adaptadas em todos os cantos do planeta, além de reinterpretadas e ressignificadas tanto no campo artístico quanto nas pesquisas acadêmicas. Tendo em vista considerável presença na cultura artística e literária universal, a tradução de suas obras se reveste de importância fundamental, uma vez que a mediação intercultural proporcionada pela prática tradutória possibilita a difusão dos textos shakespearianos para as mais diversas culturas. Os estudos contemporâneos sobre as traduções da obra shakespeariana são principalmente permeados por uma busca pela compreensão não apenas dos processos que ocorrem no interior do texto traduzido, mas também pela forma como o sistema cultural de chegada absorve essas traduções. A relação entre obra literária e o seu contexto de produção e recepção adquire outro panorama quando se trata de texto literário transposto de uma língua/cultura para outra completamente diversa e, no caso de Shakespeare, em momento histórico completamente diverso do contexto de produção de suas peças. No Brasil, tem-se uma extensa produção de traduções de peças shakespearianas publicadas por diversas editoras desde o início da década de trinta até os dias atuais. Cada tradução pode trazer diferentes leituras e interpretações do texto shakespeariano, constituindo-se como uma obra única em relação ao texto-fonte. Nas últimas décadas, os teóricos da tradução têm se interessado por essas diferentes leituras que uma 10.17771/PUCRio.TradRev.35406

Caproni traduzido: um olhar sobre os paratextos

Revista de Italianística, 2017

Caproni traduzido: um olhar sobre os paratextos Fabiana VasConCellos assini luiza KaVisKi FaCCio patriCia peterle* RESUMO: A intenção deste artigo é refletir sobre a recepção do poeta italiano Giorgio Caproni (1912-1990) no Brasil a partir da primeira antologia publicada no país dedicada ao poeta, A coisa perdida: Agamben comenta Caproni, publicada em 2011 pela Editora da Universidade Federal de Santa Catarina. Busca-se a partir da obra, analisar os paratextos nela presentes, tentando compreender a imagem do poeta, ainda pouco conhecido se comparado a outros poetas italianos contemporâneos como Eugenio Montale (1896-1981). Refletir também acerca da importância dos elementos paratextuais para a motivação da aquisição e leitura de um livro. Elementos que, muitas vezes, passam despercebidos para o público, mas que podem se tornar peças fundamentais aos estudiosos da literatura, sobretudo da literatura traduzida.

O canto das Sereias e a embriaguez do tradutor

Alea : Estudos Neolatinos, 2012

Sabemos que para os românticos alemães a tradução tem um caráter fundador, estando associada ao próprio conceito de Bildung, como já assinalava Antoine Berman. A Bildung remete necessariamente à dimensão da experiência, processo de desdobramento e alargamento que encontra uma metáfora perfeita na noção de viagem, tão cara aos românticos. Tal movimento de travessia que constitui a inquietante…

O "en-canto da sereia" na formação do tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais

Revista de Educação ANEC, 2018

Resumo: O presente artigo tece algumas reflexões sobre a formação do profissional Tradutor e Interprete de Língua de Sinais (TILS). Objetiva-se compreender as práticas discursivas no processo de formação do TILS, especificando como se chega a ser um tradutor e intérprete. A temática em estudo conduz à seguinte problemática: qual é a construção do "mito de facilidade" da prática tradutória que se dá de forma menos onerosa em relação à prática docente, por meio de formações básicas, rápidas e que culmina em uma prática, muitas vezes, descomprometida com a formação do sujeito surdo? Traz-se uma alusão aos "en-cantos da sereia" dos que se deixam seduzir por tais facilidades e sucumbem ao se aproximarem do universo tão complexo da Língua Brasileira de Sinais. A pesquisa envolve análise bibliográfica e processos de conversações com os profissionais TILS do município de Guarapari-ES, com a qual, por meio das diversas confissões, obteve-se a certeza de que é necessário o cuidado consigo para as práticas-formativas desse profissional. Foram tecidas reflexões sobre o aporte histórico, amparos legais, processos formativos que resultram na conclusão de que é necessária a inserção de reflexões sobre o surdo e sua constituição, além do cuidado que o profissional deve ter em relação à sua prática-formativa cotidiana. O cuidado consigo e com o outro é um processo contínuo, reflexivo e cotidiano vital de se deixar permitir a vida acontecer, com sentidos e significados para aqueles que têm na língua de sinais o contato com o mundo. Palavras-chave: Formação. Intérprete de língua de sinais. Mitos. The merman charm in the formation of the translator and interpreter of the Brazilian Language of Signs: a question of identity among myths

Guimarães Rosa e seus tradutores

2021

As cartas que Guimarães Rosa trocou com tradutores de sua obra, devidamente reunidas e organizadas por pesquisadores, têm fornecido um material inesgotável de análise e propiciado um fértil debate sobre seu projeto pessoal de escrita, bem como sobre os processos e produtos da tradução literária. Neste artigo, procuramos explorar a correspondência do escritor com três de seus tradutores visando a ressaltar questões ligadas à tradução da obra rosiana emitidas tanto pelo autor como por seus tradutores. Nas cartas a Edoardo Bizzarri, Curt Meyer-Clason e Harriet de Onís, observa-se que Guimarães Rosa estabelece um sólido vínculo de cooperação, que reverte diretamente nas obras traduzidas. Os argumentos e as reflexões trocadas entre autor e tradutores deixam entrever a concepção de escrita literária de Rosa, sua preocupação com a recepção de seus romances e contos no exterior, bem como a visão do que seus tradutores acreditam ser a tradução literária.

A angústica do tradutor

Quanto mais a mim se revelam os inúmeros significados da palavra 'juramentada', tanto mais os adornos do manto (Benjamin: 2008) da promessa prestada a mim se tornam visíveis, desfilando cruéis e impunemente ao asseverarem minha dívida, minha missão, minha tarefa (Derrida: 2006) e, por conseguinte, minha angústia. Como que em vigília, passo a empreender uma breve investigação, refletindo acerca do meu ofício de Tradutora Juramentada. Coloco-me a examinar a relação que se estabeleceu entre mim, a lei e o texto original. Em várias ocasiões a literatura relativa aos estudos da tradução faz constar adjetivos atribuíveis àquele que traduz, descrevendo-o penosamente como o que trai, transgride, violenta o texto (Rajagopalan: 2000), faz o espírito humano passar de um povo para outro [1] (Hugo apud Venuti: 2005), um sujeito que se acha imediatamente endividado pela existência do original (...), obrigado a fazer alguma coisa pelo original e sua sobrevida (Benjamin apud Derrida:?). Blanchot (1997), por sua vez, descreve o (hábil) tradutor como aquele que preserva um sentimento de imperfeita comunicação e, em L'Amitié (1971), segue afirmando "... Le traducteur est un homme étrange, nostalgique, qui ressent, à titre de manque, dans sa propre langue (...)". Assim, com a estranheza de um forasteiro, vejo todos estes traços ratificarem meu estado de angústia perante a atividade tradutória e tudo o que ela engendra.

Vozes tradutórias: 20 anos de Cadernos de Tradução

2016

Criada em 1996, a revista Cadernos de Tradução, ao longo dos seus 20 anos, sempre teve a preocupação de publicar autores com as mais diferentes abordagens na área dos Estudos da Tradução. De 1996 a 1999, a revista publicou um volume por ano. Na virada do século XX para o XXI, a revista, para se ajustar às normas de auxílio do CNPq e também às de avaliação da Capes, passa a ter dois fascículos por ano. Novas mudanças estruturais acontecem a partir de 2016, com a entrada da revista para o portal SciELO, quando passa a ter 3 volumes por ano. Além disso, Cadernos sempre teve uma política de acolher números especiais e dossiês. Nessa sua trajetória, a seção "entrevistas" sempre recebeu especial atenção. Até maio de 2016, foram publicados 42 números e 36 entrevistas. Neste livro reproduzimos 33 das 36 entrevistas, porque tivemos um convidado entrevistado duas vezes em épocas diferentes, por isso escolhemos apenas a mais recente e dois entrevistados que não tradutores, que agora reunimos neste volume comemorativo dos 20 anos de Cadernos de Tradução. Não por acaso, o sucesso de Cadernos de Tradução, que pode ser comprovado pelo número de acesso à revista, através do motor de estatísticas de acesso da revista no Portal de Periódicos da UFSC (http://stat.traducao.periodicos.ufsc.br/awstats/awstats.pl) está relacionado ao florescer da área como disciplina acadêmica no final do século XX e início do século XXI. "Evolução excpecional" como destacou uma das pioneiras dos Estudos da Tradução no Brasil, e uma das primeiras entrevistadas, Maria Cândida Bordenave, ao lembrar que [...] desde os primeiros anos da década de 70 grandes transformações foram constatadas na área da tradução: a grande novidade foi a criação de cursos universitários de formação de tradutores em todo o país provocando um renovado interesse pela área, seus fundamentos, seu ensino e, necessariamente, pela sua pesquisa" (p. 25). Foi também com o espírito de abertura e pluralidade teórica e crítica que Cadernos se consolidou nacional e internacionalmente. E uma das seções que acompanha a revista desde a sua criação é a de entrevistas, com objetivo de dar voz e visibilidade ao tradutor, ao crítico e ao teórico, ou ainda ao profissional que trabalha com teoria e prática, como destacou o nosso primeiro entrevistado, Paulo Henriques Britto: "É perfeitamente possível ser excelente tradutor sem ter qualquer formação teórica na área de tradução. Por outro lado, toda prática tradutória está

Os Tradutores Do Quixote Publicados No Brasil

TRADUÇÃO EM REVISTA, 2010

Siempre pienso que una de las cosas felices que me han ocurrido en la vida es haber conocido a Don Quijote. JORGE LUIS BORGES O objetivo deste artigo é apresentar um panorama dos resultados das pesquisas historiográficas feitas sobre os tradutores do Quixote, assim como sobre as edições das suas traduções no Brasil. As publicações foram organizadas em um catálogo com detalhes editoriais, e os dados foram tabulados, oferecendo um quadro com a porcentagem de edições por tradutor. Faz-se também uma revisão dos estudos em historiografia da tradução utilizados para elaborar a metodologia utilizada neste trabalho, a qual foi adaptada às condições e ferramentas de pesquisa disponíveis dentro da realidade brasileira. Estudos em historiografia da tradução A história da tradução atrai cada vez mais pesquisadores, enfatizando a necessidade de uma disciplina com metodologia e modelos teóricos adequados. Judith Woodsworth (2005) afirma que somente quando as teorias de orientação estritamente linguística tornaram-se insatisfatórias é que as traduções teriam começado a ser estudadas em seu contexto cultural, histórico e sociológico. O autor mais conhecido por esse tipo de enfoque é certamente Antony Pym, autor de vários estudos, entre eles o livro Method in Translation History (1998). A escassez de catálogos atualizados de traduções dificulta as pesquisas e a obtenção de dados, tendo ainda o agravante de haver países com pouca tradição bibliográfica. Um dos exemplos dados pelo autor é o próprio Brasil, país que teria, na data em que Pym escreveu o trabalho, referências precárias 1 Este artigo é uma síntese de parte da dissertação de mestrado, Historiografia das traduções do Quixote publicadas no Brasilprovérbios do Sancho Pança, defendida pela autora na FFLCH/USP, 2009. A adaptação da metodologia historiográfica foi apresentada no IV EPOG-FFLCH/USP, 2009. No XVII Congreso de la Asociación Internacional de Hispanistas em Roma, 2010, foi apresentada a comunicação ¿Qué Quijote leen los brasileños?, com um panorama dos tradutores e as edições do Quixote no Brasil. Parte deste artigo foi lido na palestra As traduções do Quixote publicadas no Brasil e seus tradutores, promovida pelo CITRAT/FFLCH-USP, no dia 27 ago. 2010.