Misantropia em Alberto Caeiro (original) (raw)
Loiro e de olhos azuis, fisicamente frágil, pouco instruído (1) Alberto Caeiro surge-nos como um "lírico espontâneo, instintivo, inculto (não foi além da instrução primária, informa Campos), impessoal e forte como a voz da Terra, de candura, lhaneza, placidez ideais". (2) e, todavia, com uma capacidade intelectual comparável à dos philosophes do séc. XVIII, aos grandes pensadores da História, "Grande Libertador" (aos olhos dos seus discípulos) porque fundador do neo-paganismo português (3) -cuja missão consistiria em erradicar o cristianismo -, e do sensacionismo (4), eis alguns dos atributos do poeta que, do alto da sua torre de marfimou por detrás da janela de Fernando Pessoaenaltece pensamentos (recusando-se, todavia, a pensar) e sensações ("Eu não tenho filosofia, tenho sentidos…", poema II "O Guardador de Rebanhos" (OGR)), sono e sonhos, a Natureza no seu mais puro estado, a coisa tal como ela se apresenta, ora recusando-se a adjectivá-la para o fazer logo de seguida, contradizendo-se a todo o instante, numa busca incessante por uma tranquilidade fundada em princípios epicuristas, cínicos e estóicoso que se deve procurar é a evidência, partindo da sensação e da percepção imediata das coisas; a grande meta será sempre a tranquilidade de ânimo e a auto-suficiência, entendida também como não-dependência de afectos; fusão do homem com a natureza. Ainda na linha dos clássicos antigos, Caeiro é um céptico radical, porque suspende o juízo (epokhé), o julgamento, na sua busca incessante de tranquilidade de espírito (ataraxia).