Um estudo sobre categorias enunciativas nos textos amazônicos de Euclides da Cunha e Constant Tastevin (original) (raw)

2012

O Discurso da História, de Roland Barthes, faz um esquadrinha-mento da estrutura do discurso histórico. A proposta de Barthes é anali-sar qual ou quais traços específicos poderiam diferenciar a narração his-tórica da narração imaginária. Em que nível da enunciação do discurso histórico estaria esta diferença? Neste artigo, acompanharemos o argu-mento do autor, de maneira a explicitar semelhanças e diferenças entre o discurso histórico e textos de Constant Tastevin e Euclides da Cunha, motivados pela viagem dos autores à região do Acre 112. A questão que se discutirá é ampla e está na base do discurso que se pretende histórico e do discurso que se pretende literário. De fato, a teoria literária, desde antes que esse campo do saber tivesse se estabele-cido como tal, reflete sobre os problemas da representação. Se, de um la-do, temos o discurso literário, que assume representar fatos e ficção, de outro, temos o discurso histórico, que pretende representar apenas fatos, sem fazer ficção. No entanto, a pretensão do discurso histórico esbarra no trato com a linguagem, pois que para se representar devidamente os fatos, a lingua-gem utilizada deve acompanhar tal pretensão, através da utilização de certos traços (como notações, vocabulário ou outros artifícios) que pos-sam atestar a fidedignidade dos significantes em relação ao referente exterior. Esses seriam os traços específicos, mencionados por Barthes, con-cernentes à construção textual do discurso histórico, ligados à utilização da linguagem: O cuidado com a construção textual pressupõe que já não se tome a lin-guagem como simples modo de referência de conteúdos factuais. Preocupar-se com a construção do texto não supõe considerar-se a verdade (alétheia) uma falácia convencional; a procura de dar conta do que houve e por que assim foi 112 Constant Tastevin (1880-?1963) é um missionário espiritano francês que chega a Tefé, Amazonas, em 1905. Euclides da Cunha (1866-1909), jornalista e engenheiro, dirige-se à Amazônia em 1905 como chefe da Comissão Brasileira de Demarcação de Fronteira entre o Brasil e o Peru, na frente que mapearia o curso do Alto Purus.