NARRATIVA MISÓGINA EM ANGÚSTIA, DE GRACILIANO RAMOS (original) (raw)

RESUMO: O objetivo desse trabalho é analisar no romance Angústia (1936), escrito por Graciliano Ra-mos, como o narrador masculino, preso a um passado que o atormenta e a velhas concepções patriar-cais, traça um retrato misógino das mulheres que o cercam, enxergando nelas meros objetos sexuais, notadamente quando ensaiam os primeiros passos para fora da esfera privada e passam a ocupar o espaço público, subvertendo o papel esperado de submissão à ordem masculina à qual estavam rele-gadas. PALAVRAS-CHAVE: Graciliano Ramos, figuras femininas, narrador masculino, misoginia Um Inferno sem saída Conhecido como o mais experimental dos romances de Graciliano Ramos, An-gústia (1936) apresenta a problemática de um ciúme excessivamente violento como principal fio condutor da história. Nesse livro em que a ordem patriarcal está forte-mente presente, deparamo-nos com Luís da Silva, um narrador-personagem que se movimenta no terreno movediço da ambigüidade, duplamente deslocado no tempo e no espaço: saudoso de uma época quase mítica, representado pelo mundo rural onde valores patriarcais estariam mais arraigados, e vivendo incompatibilizado com o espaço urbano, enxergando nas mulheres que o cercam apenas seres (ou seriam coisas?) dotados de uma exagerada lubricidade. Nesse ambiente mesquinho em que vive o protagonista, o espaço apresenta-se deprimente, carece de heroicidade, por isso é remodelado pela narrativa sonâmbula de um homem recalcado por encontrar-se totalmente destituído de poder e viver de migalhas das lembranças de um avô respeitado e, a seus olhos, valente. Na narrativa de Luís da Silva abundam as repetições, endossando uma escrita que reflete a mente transtornada do herói, a de um homem levado a cometer por ciúmes um crime, o que revela na realidade uma luta contra os fantasmas da infância que o Terra roxa e outras terras – Revista de Estudos Literários