Contemporaneidade e simultaneidade: o tempo na poesia moderna (original) (raw)

Tópicas da temporalidade na poesia contemporânea de língua portuguesa

2019

Durante a tradicao classica a imitacao de modelos e formas literarias alimentava a producao dos artistas, a poesia era, sobretudo, imitativa. Um poeta, para ser classificado como bom, deveria saber imitar o que os seus mestres faziam. Posteriormente com o romantismo e a ideia de originalidade que se impoe como criterio para a criacao, pois o movimento romântico defendeu uma literatura acima de tudo original e propos que os lugares-comuns nao deveriam mais ser utilizados como parâmetro para a criacao. Entretanto, apesar dessa grande ruptura romântica com o classico, ha na poesia contemporânea a recorrencia de topoi liricos, o que poe em xeque o conceito de o que e ser original em literatura e se realmente e possivel se-lo. Importanos, no entanto, demonstrar que mesmo depois da descontinuidade romântica com o tradicional, ainda ha na poesia atual autores que se valem de lugares-comuns da lirica classica para compor suas obras. O topos ou lugar-comum, conforme nos informa Ernst Robert ...

Variações do tempo em dois poetas contemporâneos

Fiuza, S. e Alves, I. (orgs.) Poesia contemporânea e tradição Brasil-Portugal, 2017

Os ritmos que cada poeta imprime às variações de tempo em seus poemas podem ser muito distintos entre si: regulares ou assimétricos, desde o narrativo discursivo mais distendido, até o bem conciso. Quanto à respiração do poema, ela pode ser averiguada quer em seu compasso, quer na reiteração de ecos variados, quer, afinal, na extensão dos versos, como ondas de duração e velocidades mais ou menos longas. Cada poeta artista, diferentemente do artesão, cria seu próprio ritmo, já que nada poderia ser mais intrinsecamente singular do que seu estilo pessoal de respiração e de pausa. Sabemos, igualmente, que o tempo, no poema, não é meramente linear. Curvas, laços e nós compõem sua tessitura. Os desenhos em estampa ou à mão livre encenam a figura do tempo do artista. Subscrevemos a acepção de ritmo defendida por Benveniste: "maneira particular de fluir", ou "configuração dos movimentos ordenados na duração" (1988: 368, 369), ressaltando a indissociabilidade das modulações sonoras com os significados do poema. A partir dos formalistas russos, consideramos que também as analogias imagéticas integram os padrões de recorrência, pois som e imagem articulados compõem ambos o ritmo, como rendas do tempo, em um bordado seriado de palavras. Quando me ocupei da produção poética dos anos 70, este tema foi motivo de perplexidade, uma vez que o presente sintático dominante diferia imensamente de poeta para poeta, de acordo com o seu sentimento de mundo específico. Assim, para ficar em exemplos conhecidos, os ritmos do Poema sujo de Gullar (1976) quase que se opõem aos Poemóbiles e à Caixa preta, de Augusto de Campos (em parceria com o artista visual Julio Plaza, 1975), que por sua vez não poderia resultar mais discrepante do que a urgência de Armando Freitas Filho em À mão livre (1975-79) ou ainda os diálogos elípticos de Francisco Alvim em Passatempo (1974). É evidente que as escolhas de cada poeta designam atitudes radicalmente divergentes em suas relações com a história atual, tanto em sua dimensão existencial quanto, e ao mesmo tempo, em sua dimensão política. Enquanto Gullar apresenta núcleos narrativos ou cenas de dimensões desiguais mas simultâneas, e intenta assim compor um mosaico com relances de continuidade que possam desembocar em algum tipo de futuro transfigurado, Augusto empreende um movimento circular ou de móbile, contestando a linearidade temporal, a prolongar e percutir o instante a fim de alcançar a abolição da sucessividade.

A Hora de Max Martins: a temporalidade do artista no poema O tempo o homem

REVISTA APOENA - Periódico dos Discentes de Filosofia da UFPA

O ensaio tentar realizar um exercício hermenêutico de explicitar os sentidos de tempo que surgem no poema O tempo o homem, do poeta paraense Max Martins. Neste ensaio, as premissas interpretativas partem sobretudo do pensamento do filósofo paraense Benedito Nunes, tendo, no horizonte a Ontologia fundamental de Martin Heidegger, mas também de outros pensadores, como Giorgio Agamben. Além disto, o horizonte hermenêutico deste ensaio alcança um dos poetas que marcaram determinantemente a poesia de Max Marins, que foi seu amigo Mário Faustino. Assim, o problema central desta investigação ensaística é a busca por saber o sentido dos tempos Ampulheta, Era, hera e Hora. A hipótese é que o aporte hermenêutico fenomenológico desenvolvido por Benedito Nunes para a relação dialógica, de “transa”, entre poesia e filosofia, viabilizada pelo que chamou de “passagem para o poético” (Kehre), oferece a tese de que o poema de Max Martins é um poema sobre o próprio poetar e sobre a “aventura” enquanto...

Hora de Max Martins: a temporalidade do artista no poema O tempo o homem

APOENA, 2021

O ensaio tentar realizar um exercício hermenêutico de explicitar os sen-tidos de tempo que surgem no poema O tempo o homem, do poeta paraense Max Martins. Neste ensaio, as premissas interpretativas partem sobretudo do pensamento do fi lósofo para-ense Benedito Nunes, tendo, no horizonte a Ontologia fundamental de Martin Heidegger, mas também de outros pensadores, como Giorgio Agamben. Além disto, o horizonte hermenêutico deste ensaio alcança um dos poetas que marcaram determinantemente a poesia de Max Marins, que foi seu amigo Mário Faustino. Assim, o problema central desta investigação ensaística é a busca por saber o sentido dos tempos Ampulheta, Era, hera e Hora. A hipótese é que o aporte hermenêutico-fenomenológico desenvolvido por Benedito Nunes para a relação dialógica, de “transa”, entre poesia e fi losof i a, viabilizada pelo que chamou de “passagem para o poético” (Kehre), oferece a tese de que o poema de Max Martins é um poema sobre o próprio poetar e sobre a “aventura” enquanto “evento” (Ereignis) da Hora que o artista faz.

A temporalidade nos Poesilúdios para piano nº 11 e 16 de Almeida Prado

- Resumo O presente artigo trata das relações de linearidade e continuidade no tempo e sua aplicação em dois Poesilúdios para Piano de Almeida Prado. A partir do referencial teórico de Jonathan Kramer, conceitua as diferentes manifestações dos fenômenos temporais, associando-os aos elementos de variância e invariância presentes nas peças citadas. Com esta abordagem, almeja-se a compreensão das diferentes interações possíveis entre as diferentes gradações de temporalidade, linearidade e continuidade. Busca-se também uma concepção que amplie a visão do intérprete para as relações presentes na obra que não são claramente elucidadas pelos processos analíticos tradicionais. - Palavras -chave Tempo, Almeida Prado, Piano, Linearidade, Poesilúdios. - ABSTRACT This research deals with the relation of linearity and continuity in time applied in two Poesilúdios for Piano composed by Almeida Prado. Based on Jonathan Kramer’s theoretical exposition of time in music, it tries to determine the distinct manifestations of time phenomena found in those works, associating them to the elements of coherence and invariance presented by the composer. With this approach, the author seeks to comprehend the different possibilities of interaction between the several degrees of temporality, linearity and continuity, in order to broaden the performer’s understanding of the relations present in the work, since those relations are not easily noticeable in traditional analysis. - KEYWORDS Time, Almeida Prado, Piano, Linearity, Poesilúdios.

Do contemporâneo: o tempo na história do presente

Arquivos Brasileiros De Psicologia, 2007

RESUMO O presente artigo trabalha o conceito de tempo a partir da perspectiva da história do presente de Michel Foucault. Assim, problematiza e define o conceito de contemporaneidade, confrontando-o com outros como modernidade, presente, atualidade. Deste modo, apresenta a especificidade do tempo contemporâneo: sua ligação com a coexistência de temporalidades virtuais diversas que se atualizam em um presente híbrido e sempre desconstruído pela percepção de sua historicidade. Pretende-se, com isso, demonstrar a importância da concepção de contemporâneo, enquanto definição de modo temporal, para as práticas das ciências humanas atuais, já que essas se defrontam com a consciência da construção histórica de seus objetos, tornando necessário o uso de métodos como o definido pela genealogia foucaultiana.

DRAMATURGIA Poéticas do Moderno e do Contemporâneo

Bonecker, 2019

Este livro debruça-se sobre o texto dramatúrgico em dois períodos históricos distintos – o moderno e o contemporâneo – com o objetivo de compreender os diferentes processos históricos, sociais, estéticos e imagéticos que auxiliaram na construção de um teatro polissêmico e multifacetado. O livro busca estabelecer modos de leitura que permitam não apenas esclarecer uma prática textual específica (o gênero dramático), mas também unir essa prática textual à prática da representação. É de interesse dos autores dos capítulos que seguem compreender os diferentes deslocamentos polissêmicos no teatro e os processos de destruição e construção de diferentes formas do gênero dramático em busca de conteúdos miméticos cognoscíveis ou daqueles que desafiam a cognição, através dos processos históricos que desembocam no teatro contemporâneo, de sua produção imagética e processos de adaptação gerados por tais deslocamentos.

Atualidade e eternidade: a modernidade em Charles Baudelaire

A Cor das Letras, 2021

Resumo: Nos últimos anos, o mercado editorial brasileiro tem apresentado índices positivos na produção e no consumo de livros no Brasil. No entanto, escritores e escritoras negras, desse país, ainda se veem diante de uma cena literária bastante restrita, sobretudo quando os seus textos se comprometem com um discurso de combate ao racismo e de empoderamento negro. Tal como verificávamos nos séculos passados, no século XXI, os altos custos, os interesses e as expectativas editoriais vigentes impõem aos autores negros a alternativa de submeter os seus textos a edições de responsabilidade própria ou ao trabalho das pequenas casas editoriais. A experiência editorial de Lande Onawale, com a publicação de seu livro Kalunga: poemas de um mar sem fim (2011), é estudada aqui, como um ponto de partida, para compreendermos exatamente essas condições de produção em que o autor é o editor do próprio texto, bem como para se perceber as relações limites entre o racismo e o mercado editorial. A partir das articulações teórico-metodológicas da crítica sociológica de Francis Don Mckenzie, no que ele chamou de Sociologia dos Textos, buscamos aqui compreender os desafios vivenciados por esses escritores diante dos obstáculos que lhe são impostos pelo mercado editorial.