Cambalhotas, molas e cavilhas: Os meninos de ouro, de Agustina-Luís - uma reflexão sobre o pós-25 de abril de 1974 (original) (raw)

A revolução portuguesa, o 25 de abril de 1974

Já se disse que as revoluções tardias são as mais radicais. No 25 de Abril de 1974 ruiu a ditadura mais antiga do continente europeu. A rebelião militar organizada pelo MFA, uma conspiração dirigida pela oficialidade média das Forças Armadas que evoluiu, em poucos meses, de uma articulação corporativa para a insurreição, foi fulminante. A insurreição militar agigantou-se como uma revolução democrática, quando as massas populares saíram às ruas, que enterrou o salazarismo e foi vitoriosa. Mas a revolução social que nasceu do ventre da revolução política foi derrotada. Talvez surpreenda a caracterização de revolução social, mas toda revolução é uma luta em processo, uma disputa, uma aposta em que reina a incerteza. Na história não se pode explicar o que aconteceu considerando somente o desfecho. Isso é anacrônico. É uma ilusão de ótica do relógio da história. O fim de um processo não o explica. Na verdade, o contrário é mais verdadeiro. O futuro não decifra o passado. Revoluções não podem ser analisadas somente pelo desenlace final. Ou pelos seus resultados. Estes explicam, facilmente, mais sobre a contra-revolução, do que sobre a revolução.

Algumas notas sobre o Cinema Português depois do 25 de Abril de 1974

2011

PARA PERCEBER e contextualizar o cinema produzido na sequência e no rescaldo da Revolução de Abril de 1974, será preciso elaborar uma pequena retrospectiva do que foi o renascimento do cinema português durante a década de sessenta, que depois da «gloriosa era da comédia à portuguesa» dos anos trinta e quarenta, voltara a cair num quase total marasmo que o público e a critica desprezavam.

A paideia machadiana nas Memórias póstumas: de Aquiles a Brás Cubas

Itinerarios Revista De Literatura, 2010

Maria Celeste Tommasello Ramos criando episódios que preencheram as lacunas deixadas por Homero, construindo uma espécie de "ciclo de Aquiles", que inspirou outros poetas trágicos e épicos de toda Antigüidade, até a época romana. Aquiles, quase invulnerável, já na Ilíada, é apresentado como o possuidor do cavalo chamado Xanto. Sua mãe, a nereida Tétis, a mais bela fi lha do "velho do mar", Nereu, deu-lhe de presente os dois cavalos imortais-Xanto e Bálio-que Posídon havia lhe dado por ocasião de suas núpcias com Peleu. A genealogia dos dois é a seguinte: Automedonte depressa os fogosos cavalos atrela, Xanto e Balio, que os ventos velozes no curso, igualavam. Tinham a harpia Podarga por mãe, concebidos de Zéfi ro quando ela, outrora, pascia, nas margens do Rio Oceano. (HOMERO, Ilíada, XVI, 148-151).

Reconsiderando o 25 de abril: "Estive em Lisboa e lembrei de você" de Luiz Ruffato enquanto etnografia do submundo lisboeta

Romanica Cracoviensia, 2020

Reconsidering the 25 April: "Estive em Lisboa e lembrei de você" by Luiz Ruffato as ethnography of Lisbon’s underground. The aim of this analysis of the novel "Estive em Lisboa e lembrei de você" (2009) by the Brazilian author Luiz Ruffato is to approach the migrant subject as an observer of the precarious reality of the immigrants in the Portuguese capital. The underworld they form is seen as one of the most ambiguous consequences of four decades of democracy in Portugal.

O 25 de abril na Galiza dos anos setenta: impactos e consequências

Diacrítica. Revista do CEHUM (UMinho), 2014

A partir dos resultados de um projeto de investigação desenvolvido pelo Grupo Galabra (com sede na Universidade de Santiago de Compostela [USC]) focando analisar os processos de elaboração e socialização de ideias na Galiza dos anos setenta do século XX, complementados para este trabalho com uma sondagem na imprensa galega da altura, serão apresentados os impactos causados pelo 25 de abril nos campos cultural e político da Galiza a partir da análise das ações, os discursos e as relações dos grupos que ocupam uma posição de maior centralidade no Sistema Cultural Galego (SCG) imediatamente antes de abril de 1974. Do percurso realizado destaca que é nesta altura quando são construídas as lógicas de relacionamento e as alianças galego-portuguesas ainda hoje vigorantes, nomeadamente no campo da esquerda política.

«Uma história do 25 de Abril: a ópera Os Dias Levantados, de Manuel Gusmão e António Pinho Vargas»

Irrecuperável é, com efeito, toda a imagem do passado que corre o risco de desaparecer com cada instante presente que nela não se reconheceu." W. Benjamin I A tentação da história como tema ficcionado está ligada à controversa questão da criação de uma ópera nacional portuguesa desde o século XIX, fazendo parte de uma discussão cujos efeitos se prolongam até hoje. O papel a assumir por uma obra de grande formato, enormemente exigente do ponto de vista do consumo de recursos e dependente principalmente de encomendas estatais concorrendo com outros instrumentos de coesão colectiva é uma questão ainda em aberto. Por isso, pode parecer-nos inevitável, dada a importância que a história tem como elemento identitário, a sua invocação num género que tem um particular estatuto de prestígio na cultura ocidental. 1 Os Dias Levantados, ópera evocadora do 25 de Abril, foi escrita entre 1997 e 1998 a pedido da empresa Parque Expo'98 S.A., sociedade de capitais públicos, que geriu a organização da Expo 98. A encomenda foi endereçada ao compositor António Pinho Vargas e ao poeta Manuel Gusmão e contou com o apoio pessoal de António Mega Ferreira, na altura dirigente máximo da empresa. Deste último partiu a ideia de escolher o tema, 2 o qual, de resto, não era novo nas artes portuguesas. 3 O seu tratamento, porém, num contexto fortemente instituicionalizado -como foi apontado, nem que seja pelo simples facto de se tratar de uma ópera -torna a colaboração entre Gusmão e Pinho Vargas particularmente interessante.