Recensão Crítica: Martins, Leonor Pires (2012). "Um Império de Papel. Imagens do Colonialismo Português na Imprensa Periódica Ilustrada (1875-1940)". Lisboa: Edições 70 (original) (raw)
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O Império da Visão: Fotografia no Contexto Colonial Português (1860-1960). Lisboa: Edições 70, 2014
Edições 70, 2014
Entre 1860 e 1960, a fotografia foi o principal modo de tornar o mundo visível. A hegemonia da fotografia foi contemporânea das formações modernas dos impérios europeus. Uma coincidência temporal que se reflectiu na estreita relação entre fotografia e colonialismo. As potencialidades de reprodução fotográfica multiplicaram os seus usos no espaço público: em exposições, folhetos e postais, ilustrações de jornais e de livros. Mas também no espaço privado e individual. Os arquivos coloniais do presente, sejam eles institucionais ou pessoais, são lugares instáveis, de memórias vividas e contraditórias. A fotografia não foi uma mera ilustração das colónias. A fotografia criou experiências coloniais. Os estudos recentes sobre colonialismo reconhecem como, ao lado da documentação escrita, as imagens são determinantes para se compreenderem e estudarem os impérios. Nas histórias entrelaçadas entre o império e a visão que se contam neste livro, destacam-se alguns temas: a fotografia como um instrumento inseparável dos vários saberes científicos que usaram as colónias como laboratório, da história natural à antropologia ou à medicina; a fotografia como afirmação do poder – como prova de posse, nas explorações territoriais africanas de finais do século XIX, ou como prova de violência, durante as guerras coloniais; a fotografia apropriada pelos sujeitos colonizados, como também por europeus anti-colonialistas, enquanto forma de resistência, no forjar de identidades nacionais ou, hoje, em práticas artísticas contemporâneas que reflectem sobre o passado; e a fotografia nas suas viagens num espaço globalizado, entre a sua produção, circulação e recepção em múltiplos contextos. Com a participação de trinta investigadores de diversas áreas e com diferentes abordagens e a introdução de James R. Ryan, especialista em fotografia no Império britânico, este livro coloca a experiência portuguesa no âmbito dos debates internacionais, ao mesmo tempo que constitui um contributo pioneiro para o estudo da fotografia em contexto colonial português.
Esse artigo tem como objetivo compreender o processo que culminou nas suspensões do Santo Ofício português, entre os anos de 1674 e 1681. Os cristãos-novos produziram diversos documentos em Roma que invalidavam a ação do Santo Ofício lusitano, qualificando-o como arbitrário, interesseiro nos bens materiais e injusto. Os inquisidores, por sua vez, responderam cada queixa afirmando sua autonomia face ao papado e explicando os pormenores de sua prática jurídica. O local dessa disputa fora a própria Congregação do Santo Ofício romano, na qual mediaram seus cardeais e o próprio papa. Nesse sentido, serão analisadas as diversas correspondências, os opúsculos produzidos e os textos oficiais fomentados nessa lide que vicejou como um pedido de misericórdia (perdão) e terminou com a exigência de justiça pelos réus do famigerado Tribunal da Inquisição. This paper aims to clarify the process that resulted in the suspension of the Portuguese Inquisition from 1674 to 1681. The New Christians produced several documents in Rome that invalidated the action of the Portuguese Holy Office, calling it arbitrary and only interested in keeping the confiscated wealth of defendants. In turn, the inquisitors answered every complaint asserting their independence from the papacy and explaining the details of their legal procedure. The contention was unfolded at the Supreme Sacred Congregation of the Roman and Universal Inquisition in which acted cardinals and the pope himself. In this sense, will be examined the exchange of letters, booklets, official papers and other documents produced in the heat of the dispute that had begun and flourished as a plea for mercy (forgiveness) and ended as a call for justice by the victims of the infamous tribunal. http://dx.doi.org/10.14198/RHM2015.33.02
Cultura Popular e Império. As lutas pela conquista do consumo cultural em Portugal e nas suas colónias, 2021
Este capítulo incide na procura e delimitação de um corpus de títulos e colecções de livros, publicado em Portugal no século XX e até à independência das colónias africanas, que se centre no temário imperial, colonial, do exótico como outro ou espaço diferente, e sobre o qual recai uma conotação positiva, assimilada a uma doutrina de domínio ultramarino. Identificam-se as lógicas da edição desse corpus a partir de elementos axiais predominantes ou em articulação: celebratório, de denúncia, descritivo, prescritivo, entre outros, alicerçando o exercício na premissa de que se trate de obras e séries que defendam a vocação colonial portuguesa, plasmada em ideias como missão civilizadora, desiderato histórico irreprimível ou excepcionalidade como marca identitária da nação. A ambição não é compreender a totalidade da actividade editorial durante o período mencionado, mas apresentar um observatório susceptível de demonstrar que a produção – e, em última análise, a circulação – de livros, no que aos temas do império colonial português diz respeito, habita um mundo social imbricado nas dinâmicas político-históricas prevalecentes em Portugal.
2017
Resumo Neste trabalho procede-se à contextualização da Exposição Universal de Paris de 1889, na comemoração de Centenário da Revolução Francesa, considerando a Exposição Universal de Paris de 1889, como uma da “Festas da República Francesa”. As Exposições Universais tiveram a sua origem em Londres, no ano de 1851, repercutindo-se pelas grandes capitais financeiras, não só europeias como mundiais. O seu grande objectivo era a divulgação da ciência, da arte, da cultura e da indústria. O trabalho terá como objectivo contextualizar e analisar a representação de Portugal na exposição Universal de Paris de 1889 e a sua repercussão a nível da nossa imprensa nacional e regional.
O Império da Visão: Fotografia no contexto colonial português (1860-1960) , 2014
No presente capítulo irei explorar o papel que a fotografia teve enquanto elemento de documentação de trabalhos de teor antropológico e, por vezes, como instrumento auxiliar de algumas práticas antropológicas da primeira metade do século XX. A partir da obra de Mendes Correia, antropólogo e arqueólogo, formado em medicina pela Escola Médico-Cirúrgica do Porto e mentor da Escola de Antropologia do Porto, analisarei o modo como a fotografia foi utilizada em artigos científicos que se debruçavam sobre o império e como foram retratados alguns indivíduos que se encontravam sob a administração colonial portuguesa. Mostrarei como a fotografia foi sempre solicitada no âmbito das suas pesquisas e esteve presente nos vários contextos de trabalho em que se envolveu: nas sessões da SPAE; nas aulas práticas da cadeira de Antropologia da FCUP; no âmbito dos estudos de antropologia criminal; no CEEP; nas missões antropológicas e em duas das suas obras principais – Timor Português (1944a) e Raças de Império (1943). No caso deste segundo livro analisarei a obra, em geral, e as fotografias que dele fazem parte, sobretudo as que se referem ao âmbito colonial, em particular. Como veremos no final, as fotografias relacionadas com a obra de Mendes Correia eram tomadas à partida como relevantes, uma vez que ilustrariam o “real”, tomado amiúde como estando a desaparecer. As fotografias captariam o “real” e registá-lo-iam para conhecimento futuro. Tal procedimento, baseado no já referido princípio de que “to see is to know”, virá contudo a denunciar as limitações de algumas práticas antropológicas e, por outro lado, a expor as indeterminações e as dificuldades suscitadas no contexto do colonialismo português.