Especificidades dos Ativos e o Custo de Capital das Companhias Abertas no Brasil (original) (raw)
Resumo O presente estudo objetiva comparar o custo do capital próprio e o custo de capital de terceiros entre grupos de empresas com níveis de especificidade de ativos classificados em baixo e alto, visando detectar diferenças estatisticamente significantes. Para tanto foi utilizada uma amostra de 299 empresas listadas na BOVESPA, cujos dados foram extraídos da base de dados da Economática e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), e o período de coleta foi o ano base de 2007. Para identificar o grau de especificidade de ativos das empresas foram utilizadas três variáveis: a medida de concentração Hirschman-Herfindahl (HH), o endividamento de longo prazo e o endividamento geral. A variável custo do capital próprio foi estimada com base no Capital Asset Pricing Model (CAPM) e a variável custo de capital de terceiros foi medida calculando-se o custo nominal pela relação (despesas financeiras mais os juros capitalizados)/passivo financeiro médio. Os dados revelaram que o custo de capital próprio é diferente entre os grupos de empresas, entretanto foi observada igualdade do custo de capital de terceiros entre esses dois grupos. Uma das possíveis explicações para isso é o fato de que o mercado financeiro brasileiro tem uma presença muito forte de crédito privilegiado. Nessa situação, o mecanismo de garantia pode não ser determinante para concessão de crédito. Por fim, foi observado que o custo de capital próprio, em média, é maior que o custo de capital de terceiros nos dois grupos de empresas. 1 Introdução Os ativos que compõem o patrimônio das firmas possuem características peculiares ao seu ambiente de negócios ou ao segmento que atuam. Consequentemente, as distintas estruturas de ativos tendem a ser financiadas ou negociadas de forma diferenciada entre os agentes econômicos dos mercados de crédito e de capitais. O desafio dos gestores, diante do processo de financiamento de seus ativos, reside na combinação apropriada da estrutura de investimento e financiamento da firma, seja com capital próprio ou de terceiros, a custos competitivos, de modo a minimizar os custos de transação e os riscos do empreendimento. Entretanto, as firmas podem ter seu poder de negociação ou de crédito restringido por determinados fatores, entre os quais se destacam níveis de endividamento, especificidades dos ativos, imobilização ou ativos que possam ser usados em garantia, acesso às fontes de financiamento, transparência da informação, capacidade dos agentes financeiros em diferenciá-las como adimplentes ou inadimplentes, entre outros. Nesse sentido, Williamson (1988) argumenta que o financiamento de um projeto, por meio da assunção de uma dívida ou por intermédio de capital próprio, depende especialmente das características dos ativos. Esse argumento de Williamson tem significado porque quem empresta o recurso financeiro espera ser remunerado, obter retorno sobre o montante emprestado e que a contrapartida tenha ativo a ser dado em garantia. Logo, firmas cujo valor de liquidação de seus ativos seja baixo tendem a ter restrições na captação de recursos junto ao mercado de crédito. Por conseguinte, esses recursos, sendo necessários, tendem a ser captados junto aos sócios ou acionistas. Carvalho e Barcelos (2002) reforçam esse contexto por meio de seus achados no qual concluem que as firmas com maior grau de imobilização aumentam a probabilidade de acesso ao crédito de longo prazo. Entretanto, Marquez e Yavuz (2008) afirmam que o poder de