Situacões Periféricas: etnografia comparada de pobrezas urbanas (original) (raw)

Periferias regionais no contexto de combate à pobreza

Revista Política e Planejamento Regional, 2019

Ao tomar como referência empírica os programas do governo federal brasileiro "Territórios Rurais" e "Territórios da Cidadania" da primeira década do novo século, é objetivo do presente texto identificar os conteúdos teóricos e políticos de suas intervenções no combate à extrema pobreza no interior dos estados da federação. Por isso, inicia-se a análise com um tratamento preliminar do conceito periferias regionais, para então retomar a reflexão sobre a noção de "territórios com pobreza" (escala territorial) e a categoria de análise "territórios de pobreza" (um conceito de mediação dos pobres e seu espaço de vida). Ao final, a abordagem traz uma multiplicidade de ideias relacionando a subordinação do território ao conceito de pobreza para delinear um caminho de pesquisa acerca das representações do fenômeno da pobreza nos anos 2000 tomando como base as políticas, os planos e os programas oficialmente implementados em territórios com extrema pobreza, isolados geograficamente e desassistidos pelas políticas de Estado e governo. Palavras chaves: Combate a pobreza, nova pobreza, territórios com pobreza, territórios de pobreza, periferias regionais Regional peripheries in the context of combating poverty Abstract: Taking the Rural Territories Program and the Citizenship Territories Program of Brazilian Federal Government in the first decade of the new century as empirical references, this essay aims to identify theoretical and political contents of their interventions while combating extreme poverty within the states of the federation. For this reason, the analysis begins with a preliminary treatment of the concept of regional peripheries, to then resume the present reflection on the notion of "territories with poverty" (territorial scale) and the analysis category "poverty territories" (a concept of mediation of the poor and their living space). In the end, the approach brings a multiplicity of ideas relating the subordination of the territory to the concept of poverty to outline a path of research on the representations of the phenomenon of poverty in the 2000s based on policies, plans and programs officially implemented in territories with extreme poverty, geographically isolated and neglected by state and government policies. Keywords: Combating poverty. new regional poverty. territories with poverty, poverty territories, regional peripheries submetido em 24.09.2019, aprovado em 4.2.2019 1. Introdução Construir uma abordagem teórica, a partir dos anos 2000, das representações espaciais e dos conteúdos sociais e políticos da pobreza requer um significativo esforço do pesquisador urbano-regional quando procura superar métodos e técnicas de pesquisa tradicional sobre o assunto. No tempo atual, não parece adequado formular pesquisas neste formato a respeito de extrema pobreza e suas estruturas no interior dos estados brasileiros, sobretudo quando se trata do conceito de território na formulação de políticas de combate à pobreza. Ao contrário, parece mais adequado colocar em questão a ideia de uma "outra" pobreza moldada por intervenções sociopolíticas. Uma abordagem da pobreza regional da extrema pobreza, que utiliza elementos avessos à construção do conhecimento regional desta "outra" pobreza, parece alterar ou 1 Professor e pesquisador em arquitetura e urbanismo, Universidade Vale do Rio Doce (Unicor), Belo Horizonte, MG, Brasil;

Historiografias de um epicentro da pobreza

Revista Brasileira de História & Ciências Sociais, 2021

Resenha do livro “Histórias da Pobreza no Brasil” (Ed. FURG, 2019), volume 6 da Coleção Direito e Justiça Social, organizado pelos professores e pesquisadores Fabiano Quadros Rückert, Jonathan Fachini da Silva, José Carlos da Silva Cardozo e Tiago da Silva Cesar. A presente resenha busca revisar criticamente esta importante publicação historiográfica cuja proposta foi compor uma obra que contemplasse diferentes escalas de análise sobre a pobreza associadas as particularidades históricas e socioeconômicas desde o Norte ao Sul do Brasil. Os quatorze capítulos desenvolvidos ao longo de cerca de 400 páginas conduzem o leitor a fluxos e lentes de análise distintas, embora estejam todos entrelaçados no terreno da História Social. Na esteira da história das coletividades, os capítulos do livro analisado buscam revelar os aspectos intrínsecos a construção histórico-social da condição de miséria dentro de classes marginalizadas, isto é, trabalhadores pobres, escravizados, encarcerados, órfão...

Antropologia na análise de situações periféricas urbanas

Cadernos Metropole Issn 1517 2422 2236 9996, 2010

Resumo Através da análise sobre a diferenciação existente entre distintas áreas pobres da cidade de Salvador, os caminhos que distintas redes sociais traçam entre distintos espaços da cidade, a importância de contextos e histórias particulares em conformar a capacidade de moradores de favela de atuar coletivamente, e a emergência de novos tipos de atores políticos e comunitários, sugere-se que uma análise sociologicamente mais ampla, focada numa análise mais etnográfi ca de como as pessoas vivem, pode oferecer tanto uma melhor compreensão de como e por que distintas "situações urbanas periféricas" diferem entre si, como oferecer melhores pistas para a reformulação de políticas públicas, iluminando importantes mudanças espaciais, sociais, políticas e simbólicas de signifi cados de "situações urbanas periféricas" nessa metrópole. Palavras-chave: marginalidade; informalidade e desigualdade; redes sociais; organização comunitária; novos atores; política urbana.

Periferias, direito e diferença: notas de uma etnografia urbana

Revista De Antropologia, 2012

RESUMO: Este artigo descreve e analisa as transformações da questão -analítica, teórica e política -das periferias urbanas, no Brasil contemporâneo. Enfocando o percurso de transformações no projeto de mobilidade dos "trabalhadores" que colonizaram as margens da cidade de São Paulo nas últimas quatro décadas, argumento que o conflito que se funda nesses territórios de fronteira mudou de estatuto. Se nos anos 1980 esse conflito pôde ser pautado publicamente na perspectiva de integração das periferias "trabalhadoras", pela aposta na extensão dos direitos da cidadania como contrapartida social do assalariamento, agora se trata sobretudo de gerenciar o conflito -não raro muito violento -que sustenta a figuração pública desses territórios "marginais". Com base em situações etnográficas, discuto algumas das consequências sociais, políticas e analíticas dessa transformação. PALAVRAS-CHAVE: periferia urbana, etnografia, direito, diferença, violência.

Raça" e pobreza em contextos metropolitanos

Tempo Social, 2012

O Brasil tem experimentado transformações importantes, propícias a um debate sobre a agenda de estudos das desigualdades em geral e, em particular, das desigualdades raciais. Tais transformações estão associadas a mudanças de caráter estrutural, mas há também ênfase sobre o esforço de enfrentamento das desigualdades via políticas sociais. Sua ampliação e reformulação têm sido extremamente importantes para a configuração de um novo cenário social (Barros et al., 2000).

De perto e de dentro. Notas para uma etnografia urbana

Neste artigo pretendo articular duas linhas de reflexão: uma sobre cidade e outra sobre etnografia. O propósito é explorar as possibilidades que esta última, como método de trabalho característico da antropologia, abre para a compreensão do fenômeno urbano, mais especificamente para a pesquisa da dinâmica cultural e das formas de sociabilidade nas grandes cidades contemporâneas. Em primeiro lugar exponho, de forma sumarizada, alguns dos enfoques mais correntes sobre a questão da cidade e, em contraste com estas abordagens, que classifico como um olhar de fora e de longe, apresento outra de cunho etnográfico, a que denomino de olhar de perto e de dentro.

Imagens da precariedade, governo dos pobres e implicações etnográficas

Sociedade e Cultura, 2018

Através do trabalho de campo em ocupações de moradia situadas no centro do Rio de Janeiro, proponho pensar como a precariedade – imagens, sentidos, efeitos – é importante nessa experiência. O contexto político com a eleição de Lula da Silva para presidente foi algo que favoreceu a cena das ocupações. Poucos anos depoishouve uma retração: o anúncio de um projeto de gentrificação da área, o Porto Maravilha, que tornou-se aos poucos uma política de expulsão de camadas mais pobres da região. Para os moradores que acompanhei isso resultou na piora das condições materiais e das relações vivenciadas nos prédios ocupados. Abordo aqui como elesbuscaram contornar essas políticas de gentrificação. Na últimaseção, a discussão recai sobre algumasdas implicações éticometodológicas suscitadas quando o campo da pesquisa é caracterizado por situações de precariedade.

Favela e periferia como espaços de pobreza: estudo sobre a configuração urbana de metrópoles brasileiras

Este artigo discute duas dicotomias presentes no discurso acadêmico brasileiro em estudos urbanos, as dicotomias “asfalto – favela” e “centro – periferia”. Na literatura de antropologia urbana essas dicotomias fazem parte de estudos que utilizam a metáfora “cidade partida” como expediente interpretativo. É verdade que na maioria dos casos a ausência dos mesmos serviços públicos afeta favelas e periferias de forma semelhante, mas há casos em que favelas apresentam melhores condições do que certos bairros pobres localizados na periferia. Neste trabalho propomos uma metodologia que sistematiza a produção de alguns indicadores que lançam luz a certas regularidades observadas na escala da região metropolitana como um todo. A metodologia utilizada lança mão de conceitos bastante gerais e consagrados na teoria econômica aplicada a questões urbanas, a partir do modelo monocêntrico de localização residencial. A elaboração aqui exposta também, de uma certa forma, é uma expressão de um teste empírico do modelo monocêntrico. Para todas as regiões metropolitanas pesquisadas, em que pese suas diferenças morfológicas, sendo algumas delas costeiras, outras montanhosas, outras entrecortadas por canais e rios, umas mais antigas e outras mais novas, todas, com a esperada exceção de Brasília, apresentaram gradientes de densidade negativos, sendo isto uma evidência de que as distâncias a centros importantes de emprego são muito importantes na determinação de sua configuração. Os perfis de renda apresentaram características semelhantes para todas as regiões metropolitanas pesquisadas. Independentemente da morfologia da cidade, os gráficos deixam claro o padrão típico que é a preferência dos grupos mais ricos morarem próximos ao centro de emprego. Sendo os perfis de renda muito semelhantes entre as cidades e muito diferentes quando tomamos separadamente as favelas e a cidade formal dentro da mesma região metropolitana esse resultado parece apontar para marcantes diferenças entre as favelas e os demais bairros pobres da cidade quando a variável que se considera é a distância do centro de emprego. Essas diferenças qualitativas justificam o tratamento dos bairros pobres de periferia e das favelas de forma distinta e apontam para a necessidade de incluir a dimensão “acessibilidade ao trabalho” explicitamente em índices que tratam de inadequação de moradias. Palavras-chave: configuração urbana; gradiente de densidade; gradiente de renda Classificação JEL: R23

REFLEXÕES SOBRE A TERRITORIALIZAÇÃO DA POBREZA EM CIDADES BRASILEIRAS

Revista Geográfica de América Central, 2017

O texto que ora apresentamos é uma tentativa de problematizar a reprodução de certos lugares à margem da produção capitalista do espaço, bem como as territorialidades envolvidas nesse pro-cesso. Lugares esses de pobreza, de exclusão, de vulnerabilidade e que requerem dos geógrafos um olhar diferenciado. Para realizar esse intento, consideraremos algumas propostas de análise de cidades médias paulistas nas quais as ocupações irregulares fizeram-se presentes, além de te-orias reconhecidas que tratam da questão da pobreza. Ao mesmo tempo, queremos propor outro modo de entender o conceito de território, as relações de poder que o permeiam e as suas redes de reciprocidades, partindo da análise, específica, da Favela da Avenida Rio Pardo, na cidade brasileira de Ribeirão Preto. Esperamos assim, contribuir na compreensão das desigualdades sociais, inclusive no nível espacial, bem como para pensar o advento de novos atores e de novos processos de territorialização.