2013 - Modernismo e arte funerária a partir do estudo de O Sepultamento, de Victor Brecheret (original) (raw)
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2017 - Leituras de masculinidade na arte funerária: o caso do pranteador
No presente artigo, discute-se o ato de prantear do homem por meio de um exemplar escultórico proveniente da arte funerária paulistana: a obra Lenda Grega, parte do complexo tumular da Família Trevisioli, concebido em 1920 pelo escultor Nicola Rollo (1889-1970) e instalado no Cemitério da Consolação. Muitas vezes, o sentido da morte é tão inescrutável para aqueles que ficam que a dor e o lamento são as únicas manifestações possíveis: o pranteador é escolhido como manifestação destes sentimentos. Também chamados pleurants, colocam-se em um lócus particular e transitório, entre a vida e morte. Diante dos túmulos, debruçados em pranteio, estes homens sinalizam a morte e sua sensibilidade tensiona as representações de masculinidade mais habituais.
Este trabalho investiga o uso da sensualidade na composição das imagens femininas na escultura funerária brasileira, durante o período da Primeira República (1889República ( -1930, sobretudo nos cemitérios Consolação/SP e São João Batista (RJ). A partir das discussões teóricas acerca da sensualidade, consideramos a produção artística referente ao período da belle époque, que se pautou pelos movimentos art nouveau, simbolista, art decó e modernista, oriundos das correntes artísticas européias, a partir do século XIX. Pudemos observar que os conceitos de sensualidade e de nudez são pouco discutidos pelos historiadores, contrapostos à vasta literatura obtida sobre o corpo. O cemitério como um local particularizado permitiu que os escultores e os artistas-artesãos pudessem explorar no corpo humano todas essas possibilidades de expressão artística.
Palavras-chave: Arquiteturas funerárias, matérias construtivas, visibilidade, interligação simbólica entre rochas e minerais e as práticas funerárias Keywords: Funerary architectures, matters of construction, visibility, symbolic interconnection between rocks and minerals and practices related to death.
O que o Moridero, de Mario Bellatin, pode nos dizer sobre a morte e suas facetas na modernidade?
Revista M. Estudos sobre a morte, os mortos e o morrer, 2020
Mediante o conto Salón de Belleza, de Mario Bellatin, que trata da transformação de um centro cosmético em um espaço destinado ao amparo de moribundos acometidos por uma doença misteriosa, discute-se, neste artigo, a influência que alguns processos sociais tiveram na construção de uma percepção que os indivíduos passaram a carregar na modernidade sobre a morte e seus desdobramentos. Essa nova conjuntura social, política, econômica e cultural, marcada pelo surgimento dos Estados-Nações e pela chamada Medicina Social Clínica, que se consolidaram por volta do século XIX, contribuiu para a formação de um imaginário social que passou a compreender a morte e tudo que, supostamente, estivesse ligado a ela, como a feiura, a doença, a loucura e a estranheza, como algo desprezível e que, necessariamente, devesse ser afastado do alcance dos olhos da sociedade. Uma das razões que levaria a tal percepção surgir, estaria vinculada ao próprio projeto que a modernidade criou para si baseada numa so...
A Manaus dos mortos: o espaço cemiterial na busca pela modernidade (1854-1906)
Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas
Resumo Este artigo aborda o processo de transformação espacial vivido pela cidade de Manaus a partir da segunda metade do século XIX, em sua aspiração à modernidade, primeiro impulsionada pela elevação do Amazonas à categoria de província, da qual Manaus era agora capital, depois pela prosperidade decorrente do comércio da borracha amazônica. Aqui, estas transformações têm como foco o espaço cemiterial, inserindo-se num quadro maior de mudanças vivido em todo o país, com a difusão de preceitos médico-sanitaristas que defendiam medidas de controle visando à salubridade do espaço urbano, discurso alinhado com reformas urbanas em consolidação na Europa, mostrando a busca pela adequação ao que se acreditava ser o caminho do progresso.
Resumo: Este trabalho tem como finalidade discutir o uso de elementos da arte clássica na tessitura da arte funerária paulista, tendo como horizonte orientador aspectos emergentes da investigação de doutoramento. Investiga-se a nudez masculina na arte funerária paulista, no período da belle époque, a partir do acervo dos cemitérios Consolação, Araçá e São Paulo, todos em São Paulo/SP. A partir do inventário das ocorrências de imagens masculinas, apresentadas parcial ou completamente despidas, vimos que estas se utilizam de representações que ora destacam a sensibilidade perante a morte, ora deixam em relevo a virilidade em associação ao mundo do trabalho; opções nem sempre em consonância com a moral burguesa e o ideal de masculinidade do período. Estas diferentes representações de masculinidades fazem ampla utilização da estética clássica, enquanto linguagem plástica, que pode ser percebida nos seguintes elementos: a nudez, o corpo idealizado, poses heroicas, narrativas mitológicas, etc. Este diálogo entre a nudez corporal e a arte remonta à arte grega clássica, quando o escultor, ao retratar o nu humano, buscava expressar a nudez do homem em si, ou seja, colocava-se diante do próprio ser, porque para o artista o corpo não é um modelo, mas antes um módulo, representativo da harmonia absoluta. Tratar de nu na arte grega é falar da relação com o divino. Em nossa investigação, observou-se que a tessitura da arte funerária em questão parece apresentar um projeto moralizador, de adequação do homem ao ideal da civilidade moderna, desse modo guardando alguns dos sentidos originais do lócus artístico clássico.
Dossiê 8 - Cemitérios: arte, sociedade e cultura
Revista M. Estudos sobre a morte, os mortos e o morrer
Partindo do trecho da epígrafe acima, que destaca a acuidade da cidade dos mortos, propomos um dossiê que tenha os cemitérios como eixo transversal de algumas das recentes pesquisas no campo da morte e do morrer. Não podemos deixar de mencionar o quanto é imperativo mencionar, logo de início, o clássico livro Arte e Sociedade nos cemitérios brasileiros (1972), do sociólogo Clarival do Prado Valladares (1918- 1983). A obra é resultante da longa pesquisa realizada, entre os anos de 1960 e 1970, na qual apresentou um complexo, difuso e multifacetado cenário dos cemitérios brasileiros.