INTERTEXTOS: RELAÇÕES COM O MUNDO NA POESIA DE O HOMEM INACABADO, DE DONIZETE GALVÃO (original) (raw)

GALVÃO, D. O homem inacabado. São Paulo: Portal, 2010. 72 p. O homem inacabado, mais recente trabalho do poeta mineiro Donizete Galvão, publicado em 2010, caracteriza-se por manter um intenso – e profícuo – diálogo com o mundo, levado a cabo por meio do recurso da intertextualidade, que estabelece uma série de relações, tanto internas, entre os poemas do próprio volume, quanto com a obra pregressa do autor e com a de outros artistas – poetas, romancistas, pintores. A quebra da linearidade da leitura – propiciada pelas ligações intertextuais desvendadas pelo leitor –, associada aos temas cantados pelos cinquenta poemas que constituem o volume, recriam no universo poético o mundo que produz o homem inacabado a que o título do livro alude e que o poeta tenta captar. Esse homem, cujo reflexo o leitor cuidadoso pode vislumbrar em meio ao caos imagético produzido pelos poemas do livro, é o homem contemporâneo, principalmente o que vive no meio urbano, e que se angustia diante da necessidade de lidar com as complexas relações impostas por seu mundo e por seu tempo: relações que, de uma forma ou de outra, exigem dele, sempre, uma tomada de posição, uma escolha. Não poder, nunca, possuir ou alcançar o que quer que seja sem que algo tenha de ser preterido; daí esse homem ser incompleto, inacabado: há sempre uma parte dele que ficou para trás e há sempre uma parte dele a ser construída, porque cada escolha impõe um recriar-se a si próprio. O projeto temático do livro – bem como sua estrutura multilinear – pode ser resumido em dois símbolos: a epígrafe de Aníbal Machado, retirada do livro Cadernos de João, e as ilustrações do artista plástico Rogério Barbosa. Dispostas nas páginas iniciais (há também uma ilustração de Barbosa no final do livro) tanto a epígrafe quanto as imagens antecipam a viagem ao interior do homem e a