Hannah Arendt: a questão da consolidação da Repúbica (original) (raw)

Hannah Arendt e o problema da secularização na fundação de novos corpos políticos

Trans/Form/Ação

Resumo: A questão da secularização também tem espaço no pensamento de Hannah Arendt. A autora sempre procurou um conceito puro de política (reinen Begriff des Politischen), que fosse independente de qualquer raiz religiosa ou que estivesse desvinculado de toda fonte metafísica e transcendente. No entanto, desde Platão, a tradição do pensamento político ocidental não encontra tal autonomia e esse problema se repete nos tempos modernos, sobretudo no momento da fundação de corpos políticos, como é o caso das revoluções, por exemplo. Além disso, Arendt também esclarece como o vácuo de autoridade contribui para a permanência do problema e reforça a necessidade daquilo que ela entende como "o incômodo problema do absoluto". Este artigo privilegia a investigação de tais questões através dos textos Sobre a revolução, Religião e política e O que é autoridade? e sustenta a necessidade da separação das esferas política e religiosa, visando à boa manutenção de ambas.

Hannah Arendt e a contradição sobre a questão negra

2020

O presente ensaio almeja caminhar face as contradicoes descritas por Hannah Arendt em seus escritos sobre a questao negra. Tomaremos, como suporte, a obra critica intitulada “Hannah Arendt and the Negro Question 1 ” (2014), de Kathryn T. Gines, e o ensaio “Reflexoes sobre Little Rock" (2004 [1959]) de Hannah Arendt, presente na coletânea “Responsabilidade e Julgamento” (2004). Gines (2014) pontua, com base nos escritos arendtianos, que Arendt analisou a questao negra como um problema negro, em vez de apresenta-lo como um problema branco. Com efeito, a partir dessas consideracoes, iremos elucidar como a abordagem de Arendt, com foco na questao negra, vai ao encontro da contradicao, que a impede de reconhecer o racismo como um fenomeno politico.

Repensando a questão das mulheres a partir do pensamento político de Hannah Arendt

Cadernos de Filosofia Alemã: Crítica e Modernidade

Apresentamos uma nova perspectiva sobre a questão das mulheres em Hannah Arendt ao defendermos ser o seu pensamento profícuo para o feminismo ou para a questão das mulheres quando se trata de pensar a participação política. Para tanto, primeiro questionamos a interpretação da categoria do espaço público em Arendt a partir do paradigma da teoria de modelos, defendida distintamente por Bonnie Honig e Seyla Benhabib. Em seguida, também na contramão de parte da literatura crítica, defendemos que a distinção de Arendt entre o social e o político parece apresentar algum sentido para pensarmos a questão das mulheres.

Resenha Sobre a revolução - Hannah Arendt

2019

Hannah Arendt (1906-1975) talvez tenha sido uma das mulheres mais influentes do século XX. Filósofa alemã (uma das poucas mulheres), nascida no subúrbio de Linden, em Hannover, Alemanha, Hannah tem algumas das principais obras de filosofia política do século XX, destacando-se As origens do totalitarismo (1951), A condição humana (1958) e Sobre a revolução (1963), cujos dois capítulos iniciais serão aqui resenhados. No primeiro capítulo de Sobre a revolução, intitulado O significado de revolução, Hannah Arendt constrói o conceito de "revolução" a partir de seu desenvolvimento histórico, perpassando desde à Antiguidade Clássica até o período das duas principais revoluções modernas que para ela foram um grande divisor de águas: Revolução Americana e, principalmente, Revolução Francesa. Segundo a autora, nas suas fases iniciais, a revolução não era intitulada como tal, o conceito tomou forma real, ou pelo menos a forma que se tem contemporaneamente fixada, na modernidade. A falta de um conceito concreto, entretanto, não impediu que fossem verificadas características tipicamente revolucionárias das ditas revoluções ao longo da história. Arendt verifica que as revoluções têm sentido quando olhadas através de características intrínsecas que as diferenciariam de movimentos cujas repercussões, embora menores que a de uma revolução, também seriam relevantes. Novidade, busca pela liberdade, presença da violência, não possibilidade de interferência humana (irresistibilidade): estas seriam as principais características da revolução de que Arendt vem a tratar. É em cima desses preceitos que a autora desqualifica como revolução os movimentos das cidades-Estado italianas durante o Renascimento, trata das rebeliões e revoltas como apenas meros acontecimentos dados os objetivos e conjunturas de uma revolução enquanto parâmetro, dotada de um vigor mais voluptuoso, um páthos. É interessante destacar as diferenciações que a autora estabelece a fim de se construir

A questão judaica nas origens da filosofia política de Hannah Arendt

Perspectivas, 2018

A guinada de Arendt para a política tem início com sua adesão à luta de emancipação judaica. Suas primeiras reflexões políticas tratam da questão judaica. Arendt defende o direito político do judeu viver como judeu sem abrir mão de suas tradições e modo de vida contra as ideologias do antissemitismo e do assimilacionismo, mas critica a postura anti-política dos judeus que se negaram historicamente, com algumas exceções, a se engajar na ação política

Solidão Total: Hannah Arendt e Os Fundamentos Do Totalitarismo

Cadernos Arendt, 2021

Hannah Arendt decidiu responder à pergunta “O que é o totalitarismo?” olhando para o nazismo e o bolchevismo, os dois movimentos totalitários que marcaram a primeira metade do século XX. Ela entendia que o totalitarismo pretendia a evisceração total da liberdade. O governo totalitário visa o “domínio total de toda a população da terra, a eliminação de toda realidade rival não-totalitária”3. Uma vez que uma pessoa que pode pensar e mudar de ideia romperia o controle totalitário da realidade, a dominação total deveria obliterar a espontaneidade e a liberdade. O esforço totalitário é por transformar a pluralidade de pessoas em uma unidade; é “fabricar algo que não existe, isto é, um tipo de espécie humana que se assemelhe a outras espécies animais, e cuja única ‘liberdade’ consista em ‘preservar a espécie’“4. A perda total da liberdade externa e interna é o motor da dominação total

Contribuição de Hannah Arendt à tradição republicana: liberdade e vida do espírito

Cadernos de Ética e Filosofia Política

Este artigo tem por objetivo, a partir da retomada da crítica neorrepublicana à ideia de liberdade política de Hannah Arendt, esclarecer o significado da liberdade para a autora e sua contribuição para a retomada do republicanismo, a saber, por uma teoria da liberdade ampla, fundamentada no cultivo das atividades espirituais.