LINGUÍSTICA E HISTÓRIA: ELEMENTOS PARA UMA EPISTEMOLOGIA E METODOLOGIA COMPARTILHADAS (original) (raw)
Related papers
PARA ALÉM DA LINHA DO TREM: HISTÓRIAS SOBRE LÍNGUAS E ESTIGMA
Nós temos sempre necessidade de pertencer a alguma coisa; e parece que a liberdade plena seria a de não pertencer a coisa nenhuma. Mas, como é que se pode não pertencer à língua que se aprendeu, à língua com que se comunica e com que se escreve? José Saramago Resumo: Este estudo parte do pressuposto principal de que a língua é construtora da identidade do sujeito e dos processos discursivos e não mero instrumento de mediação/comunicação com o mundo externo. Desse modo, quando discorro a respeito da questão da identidade e da subjetividade, remeto-me a uma visão de sujeito essencialmente histórico, ideológico e heterogêneo, constituído na e pela linguagem. O objetivo deste trabalho é analisar a luz de teóricos da identidade, como ), Ciampa (1984, 1990, 2004 e Goffman (1988), recortes discursivos de sujeitos bilíngues falantes de inglês e português a fim de mostrar a irrupção de discursos em torno da identidade. Esses recortes denunciam recalques, inibições, invenções e imagens que constituem o imaginário desses sujeitos -como eles se veem e acreditam serem vistos -construindo, como afirma Ciampa (1984), as personagens de sua própria história. Metodologicamente, este trabalho foi realizado a partir do que Courtine (1981), ao trabalhar com corpus de pesquisa na Análise de Discurso, define como corpus experimental. Para o autor, corpus experimental é aquele produzido a partir de enquetes empíricas. Neste trabalho foi utilizado um questionário contendo três perguntas abertas: (1) Você se preocupa com seu sotaque? Por quê? (2) Como você se relaciona com os dois grupos sociais referentes às línguas que utiliza? (3) Como você acha que é visto por estes grupos sociais? Em alguns casos, foram realizadas entrevistas semiestruturadas quando algum ponto do questionário necessitava de esclarecimento. O questionário foi formulado com o intuito de fazer surgir saberes e estereótipos sobre as línguas que constituem os participantes da pesquisa e sobre as relações sociais estabelecidas com os dois grupos sociais referentes às línguas utilizadas. A seleção dos participantes foi definida obedecendo a quatro critérios: (i) ser brasileiro, (ii) ser falantes de português e inglês, (iii) utilizar ambas as línguas em alguma esfera de suas vidas, por exemplo, profissional, familiar, entre outras; e (iv) ser escolarizados, uma vez que responderiam o questionário por escrito. A análise dos dados sugere que há diversas maneiras de se viver entre línguas, mas que é impossível negar que saber mais de uma língua imprime, como afirma Coracini (2007), marcas indeléveis a subjetividade que se (re)constrói a todo momento. Além disso, há evidências da existência de estigma, que segundo Goffman (1988) ocorre como consequência da discrepância entre a identidade social virtual e a identidade social real do sujeito. Este trabalho encontrou evidencias do terceiro tipo de estigma proposto pelo autor -estigmas tribais de raça, nação e religião, uma vez que ao se compararem com falantes oriundos de países de língua inglesa, falantes bilíngues brasileiros se colocam em uma posição estigmatizada seja (a) por sua condição de latino e de ideias preconcebidas acerca de ser brasileiro, ou (b) por um sentimento de inferioridade pela percepção de seu sotaque, o que ocasiona um processo de vitimização a fim de corrigir diretamente o que consideram a base objetiva de seu defeito -o sotaque.
Editora Fi, 2024
As histórias em quadrinhos como objeto de estudo da comunicação já é algo consolidado dentro do Brasil. A relação entre quadrinhos e comunicação está no cerne de seu surgimento. Sonia Luyten aponta que apesar de existir resquícios da linguagem dos quadrinhos nas pinturas rupestres, nos afrescos e nas artes plásticas, por exemplo, é só a partir da Revolução Industrial e do surgimento da chamada cultura de massa que ele consolida uma linguagem: “o quadrinho é um produto com raízes populares, e mais popular ainda foi sua difusão. (...) Desde o início, sua característica foi a de comunicação de massa, uma vez que atingia um público enorme” (Luyten, 1987, p. 9-10). O conceito de comunicação de massa que abordaremos mais adiante é fundamental para a difusão dos quadrinhos e sua consolidação como linguagem.
O LUGAR DA TEORIA-METODOLOGIA NA CULTURA HISTÓRICA 1
RESUMO É comum ouvir historiadores de prestígio emitirem opiniões desfavoráveis à epistemologia da história: "ninguém se torna um historiador sendo um metodólogo da história". A Escola dos Annales expressou a sua desconfiança em relação à discussão teórico-metodológica, que considerava vazia, abstrata, e incitava os jovens historiadores a procurarem produzir pesquisas apenas sobre exemplos e fatos concretos. Este é o problema abordado nesse artigo: qual seria o valor e o alcance científico do debate epistemológico-metodológico para a cultura histórica? Pode um historiador ser considerado culto e competente sem nenhuma preparação teóricometodológica? Pode um professor, mesmo do ensino fundamental e médio, ensinar história sem nenhuma bagagem teórico-metodológica? A epistemologia deve ficar restrita a alguns pequenos círculos eruditos ou deve envolver todos os membros da comunidade de historiadores? Contra o empirismo historiográfico, o autor defende o lugar central da teoriametodologia na cultura histórica.
A DESCRIÇÃO DAS LÍGUAS 'EXÓTICAS' E A TAREFA DE ESCREVER A HISTÓRIA DA LINGUÍSTICA
Introdução Do ponto de vista da história do conhecimento sobre a natureza da linguagem, ninguém negaria que o contato do homem europeu com a diversidade linguística ao longo dos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX trouxe uma contribuição considerável ao alargamento — quantitativo e qualitativo — do conhecimento empírico sobre as línguas (cf. Swiggers 1997, Law 2003). Ao longo de quatro séculos, franciscanos, dominicanos, agostinianos e, principalmente, jesuítas participaram da empresa colonial americana com o objetivo de exercer a dupla função do trabalho missionário: catequese e ensino da leitura e escrita. Não por acaso, já que a condição, ofi cial ao menos, para que tanto Portugal quanto Espanha pudessem expandir seus domínios territoriais era ampliar a fé católica, o que signifi cava granjear fi éis em cada canto do mundo e, por suposto, em cada língua. A missão de conversão religiosa passava, pois, pela tarefa prévia de fazer a mensagem religiosa ser compreendida pela população 'infi el', fosse através da tradução da bíblia e do auxílio de intérpretes — estratégia preferida pelos protestantes — fosse através da aprendizagem e utilização da língua nativa — estratégia preferida do missionário católico. Em consequência, e diferentemente do Budismo e do Islamismo, que também enfrentaram em outros séculos o desafi o de propagarem sua fé (v. Ostler 2003), as missões cristãs, principalmente as católicas, se tornaram bastante sofi sticadas na tarefa de elaborar instrumentos pedagógicos para o estudo das línguas dos territórios a serem colonizados,
ENTRELAÇANDO HISTORIOGRAFIA LINGUISTICA HISTORIA DO PRESENTE E ESTUDOS CULTURAIS UM DESAFIO
Debates a respeito da história do tempo presente em relação à instituição de uma verdade não-histórica, assim como estudos sobre crises epistemológicas e metodológicas pelas quais esse campo de estudo tem passado nos últimos sessenta anos têm trazido para discussão questões relativas à mutabilidade da História e às fronteiras porosas entre as disciplinas. O modo como se cria a autenticidade, como se constitui a realidade, como se estabelecem os argumentos, como se filtra o passado, como se usa a narração como forma de argumentação, de descrição, como se leva a efeito a seleção, a ordenação, a reconstrução dos fatos, como se faz a interpretação das evidências, são discussões permanentes, continuamente tratadas em relação ao tempo, e aos fatores determinantes no entendimento ao exercício que a Historiografia Linguística recomenda.
DIÁLOGOS ENTRE A HISTÓRIA E A LITERATURA EM O APRENDIZ
Ao meu avô, Osvaldo Gomes (in memoriam) por mais que não esteja entre nós, continua sendo um exemplo de pessoa, pai, avô e honestidade na minha vida, sendo sempre minha inspiração. Saudades eternas. E minha mãe, "Você foi meu primeiro amor na vida e para sempre será o mais importante. Te amo, mãe! " Dedico. AGRADECIMENTOS A Deus, pela força espiritual e determinação para superar todas as adversidades e persistir na realização deste trabalho, com saúde e força para chegar até o final. Aos meus pais, Maria Claudinélia Gomes Chaves e José Ferreira Chaves, pela compreensão, incentivo, ajuda e apoio ao longo de toda a minha trajetória. Em especial à minha mãe, por ser fonte de inspiração e meu maior exemplo. A minha irmã, Weydila Tatielly por todo o carinho e parceria dedicado ao longo dessa caminhada. A minha esposa Lays Santos, pela compreensão, paciência, apoio e ajuda demonstrada durante essa caminhada na UEG, sendo ela a próxima a se graduar no curso de Geografia. As minhas filhas, Anna Julia e Maria Eduarda, por serem a minha fonte de inspiração nos momentos de desânimo. A minha missão como pai é sempre buscar algo melhor para elas. A minha orientadora, professora Dra. Maria de Fátima Oliveira por toda a dedicação, paciência e serenidade na orientação deste trabalho. Deixo registrada a minha eterna gratidão, pois esse trabalho só foi possível graças a sua perseverança. A escritora Simone Athayde, pela paciência e por sempre se mostrar prestativa durante todo o processo de construção desta monografia. Posso dizer com todas as letras "sou fã do seu trabalho", sinto-me honrado em poder estudar e compartilhar um pouco do seu romance. Aos meus amigos e colegas do curso, por todos os momentos inesquecíveis que vivemos juntos e a todos os professores do curso de História, que foram tão importantes na minha trajetória acadêmica, e peças fundamentais no meu desenvolvimento intelectual. A Universidade Estadual de Goiás, Unidade Universitária de Ciências Socioeconômicas e Humanas de Anápolis pela qualidade do ensino oferecido.