Registros de batismo e inventários post mortem como fontes para o estudo da estrutura de posse de escravos no sul do Brasil (século XIX): possibilidades e limites (original) (raw)

Sobre a estrutura de posse de escravos em São Paulo e Minas Gerais nos albores do século XIX.

Neste trabalho evidenciamos algumas das muitas semelhanças e das poucas dissimilitudes existentes, ao abrir-se o século XIX, nas estruturas de posse de escravos que vigoravam em São Paulo e Minas Gerais, duas capitanias brasileiras limítrofes que, à época, conheciam momentos econômicos distintos. Enquanto em Minas Gerais o clima era de esgotamento da atividade de exploração do ouro e dos diamantes, em São Paulo se conhecia o dinamismo decorrente da ampliação das atividades agrícolas. Mesmo assim, os dados contemplados em nosso estudo revelaram que as referidas estruturas de posse de cativos guardavam um alto grau de similitude. Ademais, o perfil de tais estruturas diferia radicalmente daquele desenhado pela historiografia brasileira tradicional. Coautor: Francisco Vidal Luna.

Os registros paroquiais de batismo e as famílias de trabalhadores escravizados na fronteira meridional da América Portuguesa (Estreito, Rio Grande de São Pedro, c. 1763-1776)

Anais do XXIII Encontro Regional de História da ANPUH/MG. Brasil, 200 anos depois: entre a independência e os desafios da contemporaneidade., 2022

O trabalho proposto nessa comunicação, é fruto de uma pesquisa de doutorado em andamento, e tem como objetivo analisar as famílias de trabalhadores escravizados que estavam presentes na Freguesia do Estreito, durante o período de 1763 – 1776. Os principais subsídios para nosso debate são os registros paroquiais de batismo, os quais estão depositados no repositório Family Search, armazenados sob a jurisdição da Capela de Nossa Senhora da Conceição do Estreito. Ao total, contabilizamos 96 cerimônias realizadas na pia batismal, as quais tornam-se fundamentais para iniciarmos um debate acerca da compreensão das famílias daquela localidade. Para esse trabalho, em decorrência das particularidades da fonte analisada, consideramos como família de trabalhadores escravizados aquela formada por casais (nos quais ao menos a mãe era cativa), por mães solteiras ou por viúvos (ambos os sexos) e, necessariamente, deviam vir acompanhados por filhos. Com isso, buscaremos problematizar a média de integrantes daquelas famílias, a legitimidade, frequência anual de batismos, porto de origem, dentre outras particularidades. A nossa região de análise, Estreito, fica localizada no extremo sul do atual Estado do Rio Grande do Sul, hoje compreendendo o espaço delimitado pelo município de São José do Norte. É uma região marcada pelos conflitos territoriais ocorridos entre as Coroas Ibéricas no decorrer do século XVIII, onde representou, em determinado período, o limite das possessões lusas no Rio Grande de São Pedro quando ocorre a invasão da Vila de Rio Grande pelos espanhóis. A comunicação aqui proposta, integra um projeto de doutorado com maior amplitude, o qual visa dar atenção para esse território pautado por sucessivos conflitos bélicos, onde existia a necessidade de uma reorganização econômica, política e administrativa, marcado pelo convívio conjunto do imigrante açoriano, populações indígenas, egressos do interior da colônia e com o acréscimo de trabalhadores escravizados, onde buscamos compreender como aquelas diferentes famílias organizaram-se economicamente e quais as redes de relações foram estabelecidas naquele espaço, observando o período de ocupação espanhola da Vila de Rio Grande (1763-1776) e após a reconquista desse território pelos portugueses (1776-1789).

Às vésperas da abolição: um estudo sobre a estrutura da posse de escravos em São Cristóvão (RJ), 1870.

Neste artigo, além de retomarmos os resultados que embasaram o estudo intitulado "A posse de escravos em uma paróquia fluminense: São Cristóvão, 1870", estabelecemos confrontos originais entre os dados concernentes à paróquia de São Cristóvão e aqueles referentes a outras localidades brasileiras distanciadas tanto no tempo como no espaço geográfico; assim operamos com vistas a aprofundar e alargar o conhecimento relativo às estruturas demo-econômicas que enformaram a sociedade escravista brasileira. Destarte, a matéria deste estudo apresenta-se distribuída, basicamente, em duas partes. Na primeira, explicita-se a estrutura da posse de escravos de São Cristóvão com base em levantamento populacional efetuado em 1870, quando essa freguesia já integrava o perímetro urbano da cidade do Rio de Janeiro. Os resultados apresentados, representam, pois, um recorte de como se revelava a referida estrutura às vésperas da Abolição em um centro urbano dos mais dinâmicos do Império. Esses resultados reafirmam o padrão estabelecido pela historiografia com respeito ao escravismo brasileiro: forte presença de escravistas de porte modesto ¾ 79% deles, com até 5 escravos, detinham 46% do total de cativos ¾, difusão relativamente ampla da instituição ¾ em cerca de 25% dos fogos havia escravos ¾ e inexistência de uma forte concentração na posse de cativos ¾ o que se corrobora pelo índice de Gini (0,46). Os valores da média (3,8), moda (1) e mediana (3) atestam o predomínio das posses de pequeno porte. Em suma, o escravismo parece apresentar em seus momentos finais, para o caso de São Cristóvão, o mesmo perfil básico que já se desenhava, no início do século XVIII, nos mais diversos pontos do território brasileiro. Já na segunda parte, efetuamos uma série de confrontos entre os dados concernentes a São Cristóvão e os que, colhidos em vários outros estudos, dizem respeito à estrutura de posse de cativos observada em diversos núcleos localizados em distintos pontos geográficos do Brasil e considerados em diferentes momentos do tempo. Preocupou-nos, aqui, essencialmente, estabelecer as semelhanças e disparidades existentes entre os variados conjuntos de dados analisados. Nosso intuito nesta segunda parte foi, pois, duplo. De um lado procuramos situar São Cristóvão no universo do escravismo brasileiro; de outro, perseguimos o conhecimento mais largo e profundo das estruturas demo-econômicas que enformaram nossa sociedade escravista. Coautores: José Flávio Motta & Nelson Nozoe.

Análise histórico documental das relações de aquisição e alienação de escravos, no final do século XIX, no município de Cavalcante/GO

2019

Trabalho de Conclusão de Curso (especialização)—Universidade de Brasília, Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Gestão de Políticas Públicas, Departamento de Administração, Curso de Especialização em Gestão Pública Municipal, 2019.No presente trabalho acadêmico buscamos analisar documentos históricos e à historiografia da população quilombola. Tais documentos ainda podem ser fisicamente encontrados junto aos órgãos de registro do município de Cavalcante/GO; referentes ao processo de abolição da escravatura na região. A escolha deu-se, principalmente, pela questão cultural do povo Kalunga na visão de muitos brasileiros, uma sociedade pluralista de economia multifacetada. O laboratório para tal análise foram os documentos que tratam da população quilombola de Cavalcante, da virada do século XVIII até o fim da primeira metade do século XIX. A dissertação utiliza o método dedutivo, apoiando-se numa pesquisa qualitativa, realizada a partir de uma análise documental e revi...

Posse de escravos em São Paulo no início do século XIX.

Pesquisa-se a estrutura de posse de escravos, para dez localidades paulistas, no início do século XIX. Destacam-se o grande número de pequenos proprietários de escravos e a expressiva massa de cativos por eles possuídos. Coautor: Francisco Vidal Luna.

Interdisciplinaridade e estatística nos dados de escravos sepultados em Porto Alegre (1850-1885)

Zetetike, 2020

Este artigo apresenta resultados de uma pesquisa de um mestrado profissional no campo da Educação Estatística feita com estudantes do 7º ano em uma escola privada de Canoas-RS. A questão A busca pela compreensão de dados demográficos dos escravos sepultados no cemitério da Santa Casa de Porto Alegre, no século XIX, pode contribuir no aprendizado de Estatística? serviu para um projeto interdisciplinar de Matemática, História e Ciências. Com uma amostra aleatória de 1559 registros de óbitos dos escravos constantes no livro “Africanos na Santa Casa de Porto Alegre: Óbitos dos escravos sepultados no cemitério da Santa Casa (1850 a 1885)”, a turma fez gráficos e tabelas. Através de pré e pós testes se avaliou que houve avanços no aprendizado de conceitos estatísticos. Conceitos estatísticos foram mobilizados nas atividades e o olhar interdisciplinar favoreceu o processo de produção e análise dos dados, bem como fomentou o debate sobre a escravidão negra em Porto Alegre no século XIX.

O batismo e seus diversos papéis na escravidão no vale do Mucuri em Minas Gerais na segunda metade do século XIX

2013

Resumo O presente artigo procurar analisar as relacoes de sociabilidade, praticas cotidianas e resistencias a partir dos registros de batismo da Paroquia de Nossa Senhora da Conceicao, em Filadelfia, localizada no vale do Mucuri, regiao leste de Minas Gerais. Os documentos, datados entre 1856 e 1888 sinalizam para diversas estrategias de poder, muitas vezes percebidas apenas nas entrelinhas, que permitem reinterpretar e ampliar as relacoes do sistema escravista no seculo XIX. Palavras chaves: Rede de Solidariedade, Vale do Mucuri, Batismo, Escravidao, Resistencia. Abstract This article aims at analyzing the relations of sociability, daily practices and resistances from the baptismal records of the Parish of Our Lady of the Conception located in Filadelfia, in the Mucuri Valley, east of Minas Gerais. The documents, dated between 1856 and 1888, point to several strategies of power, often only perceived between the lines, which allow to reinterpret and to expand the relations of the sl...

Elementos da estrutura de posse de escravos em Lorena no alvorecer do século XIX.

A partir das listas nominativas de habitantes de quatro das oito Companhias de Ordenanças de Lorena-SP, em 1801, examinam-se alguns elementos básicos da estrutura de posse de escravos, relacionadas às características demográficas destes e de seus proprietários. Considerou-se o conjunto de escravos pertencente ao mesmo proprietário; quase todas as variáveis demográficas selecionadas (sexo, cor, faixas etárias, origem, estado conjugal, atividade econômica e condição de legitimidade das crianças escravas) apresentaram algum tipo de relação com o tamanho dos plantéis. Repete-se, para Lorena, a estrutura verificada em outras áreas do Brasil: significativa presença de mulheres entre os escravistas, alta participação relativa dos proprietários com reduzido número de escravos e expressivo peso relativo dos escravos possuídos pelos proprietários de porte médio ou grande. Coautor: Nelson Nozoe.

Notas sobre o comércio doméstico de escravos no oeste Paulista, 1875-1880

América Latina en la Historia Económica, 2017

Resumo. Este artigo lança luz sobre aspectos do comércio interno de escravos no Oeste de São Paulo, Brasil, durante o intervalo 1875-1880. Procuramos estudar a dinâmica desse comércio em Araras, importante município cafeeiro. Com este objetivo em vista, compulsamos os Livros Cartoriais-preservados pelo 1º Cartório de Notas e Protestos de Araras-relativos à compra e venda de indivíduos escravizados. Nestes livros, localizamos 323 sujeitos comprados-vendidos ao longo de 110 escrituras. A partir das informações coletadas, realizamos apreciações econômicas e demográficas desse conjunto de pessoas.