Da história as telas do cinema: revisitando a Revolução dos Cravos (original) (raw)
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Um Cinema em Revolução: A Revolução de Outubro e a Vanguarda Cinematográfica
2017
A Revolução de Outubro desenrolou-se também no campo da arte. No caso do cinema, gerou-se um movimento de vanguarda que marcou a história do mudo tardio até à transição para o sonoro de forma ainda mais profunda que os outros dois grandes movimentos de vanguarda na Europa, o impressionismo francês e o expressionismo alemão. O cinema de montagem soviético foi em simultâneo mais consistente e mais diverso. Mais consistente, porque teve um elemento central tornado questão crítica: a montagem, a sucessão das imagens e a sua articulação. Mais diverso, porque produziu realizações práticas e reflexões teóricas muito diferentes, por vezes opostas. Há uma relação estreita entre esta vanguarda artística e a vanguarda política que foi nascendo nos congressos dos sovietes. O contexto social revolucionário fez brotar e conseguiu alimentar a revolução no cinema. Tal torna-se evidente se analisarmos, em particular, a obra de Lev Kuleshov, Vsevolod Pudovkin, Dziga Vertov, Sergei Eisenstein, e Esfir Shub.
Repercussões da Revolução dos Cravos
Tensões Mundiais - V.5 - Nº8 , 2009
On April 25, 1974, the most ancient European dictatorship fell, due to an articulated movement especially made the young officials Portuguese Army and the most “liberal” sectors of the military elite, which initiated a moment of political and social turmoil. At a moment of Cold War worsening, it helped bring the world’s attention to Portugal and its former colonies. Thus, those areas started to have a very important role in the political calculations of the Great Powers in the international arena.
A Revolução dos Cravos e a historiografia portuguesa
Estudos Históricos (Rio de Janeiro)
Resumo O objetivo deste texto é analisar algumas questões que têm marcado a produção historiográfica portuguesa acerca do tema da transição democrática. Discute-se como os estudos históricos têm lidado com a memória social a respeito da experiência autoritária em Portugal. Em seguida, examina-se correntes interpretativas que colocam em questão o significado e a profundidade das mudanças desencadeadas na esteira da transição democrática. Pretende-se também chamar atenção para um debate que, marcado pelos impactos do tempo presente, está longe de se esgotar.
Resenha Da Obra Cinematográfica: Tarja Branca: A Revolução Que Faltava
Movimento (ESEFID/UFRGS), 2016
Licence Creative Commom Resumo: O presente texto dedica-se a refletir sobre o conteúdo lúdico do documentário Tarja Branca: a revolução que faltava, produção cujo objetivo central é compreender as dimensões e representações do que foi, e ainda é, para alguns dos entrevistados, o ato criador de brincar. Com delicadeza e profundidade, as narrativas, ao discutirem o que a essência lúdica (jogo) representou para a infância dos entrevistados, convergem para a construção da imagem do ser brincante (espírito lúdico). O documentário aborda, ainda, como a infância contemporânea se relaciona com as mesmas questões.
A Mais Importante das Artes: A Revolução de Outubro e a Produção Cinematográfica
2017
Começo por circunscrever este estudo sobre a Revolução Russa de Outubro de 1917 e a produção cinematográfica. É útil fazê-lo, tendo em conta as possíveis ramificações do tema. Irei avançar pouco além do ano da Revolução de Outubro. Mas vale a pena sublinhar nesta introdução que depois da fase propriamente revolucionária (até 1929), de edificação criativa das bases de uma sociedade socialista que rompesse com uma economia semi-feudal, ainda não capitalista, encontramos limitações políticas de índole repressiva e até infracções à legalidade vigente que tiveram consequências decisivas na produção artística. Na posterior União Soviética, o desenvolvimento económico seguiu uma via de centralização e estatização excessivas, eliminando outras formas de propriedade e de gestão que não as estatais, e desprezando as funções complementares do mercado em relação à planificação económica. Assistiu-se também à cristalização e dogmatização do marxismo-leninismo, que serviu de base a uma ideologia de Estado, e tal processo de ideologização foi inseparável da "fusão e confusão das funções do partido e do Estado e a imposição administrativa de decisões tanto no partido como no Estado". Todos estes aspectos estão ligados ao que se costuma designar por estalin 1 ismo, um sistema que não pode ser descrito e explicado reduzindo-o apenas à figura de Estaline e ao culto da sua personalidade, uma vez que envolveu um conjunto de relações de poder autocráticas que se estabeleceram em diversos níveis e campos da estrutura social e política. É certo que estes traços gerais, que foram sofrendo intensi 2
Revolução, Política, Representação: Filmar no Período Revolucionário
2021
No decurso da Revolução de Outubro de 1917 na Rússia, Lénine disse em 1922 que o cinema era a mais importante das artes para os soviéticos. Na Revolução de Abril de 1 1974 em Portugal, não foi preciso alguém dizer algo semelhante. Não se trata aqui de comparar as duas revoluções, muito diferentes no carácter político, a primeira uma revolução socialista, a segunda uma revolução democrática que abria "caminho para uma sociedade socialista", como ainda se lê no preambulo da Constituição da Repúbli 2 ca Portuguesa que vem de 1976. Trata-se de assinalar que, quer num caso quer noutro, houve uma viragem histórica que marcou e contaminou também o cinema. A revolução portuguesa aconteceu também no campo cinematográfico desde a primeira hora -e até antes dela, como prelúdio, basta pensar no Novo Cinema Português que se desenvolveu nos anos 1960 com filmes como Mudar de Vida (1966) de Paulo Rocha. Não pretendo ser exaustivo. Procurarei apenas fixar o essencial da relação entre a revolução, a sua agitação política e a sua representação directa ou indirecta, reflectindo sobre como se filmou de várias maneiras no período revolucionário em busca do novo. No âmbito do cinema politizado produzido nesses anos, destacam-se cinco filmes documentais com diferentes focos. Em plena ebulição revolucionária, portugueses e estrangeiros pegaram em câmaras para captar os eventos históricos que se desenrolavam e as suas múltiplas facetas. As Armas e o Povo (1975), do Colectivo de Trabalhadores da Actividade Cinematográfica, cobre o período entre o 25 de Abril e o Primeiro de Maio de 1974. Juntou as grandes movimentações de massas aos discursos políticos, a libertação dos presos políticos às entrevistas de rua conduzidas pelo cineasta brasileiro Glauber Rocha. dos acontecimentos entre 1974 e 1976. O criativo Que Farei Eu com Esta Espada? (1975), com realização de César Monteiro e argumento de Maria Velho da Costa, também tornou manifestas as ameaças à revolução e confronta o presente com um passado que continuava a assombrá-lo. O trabalho activo da Célula de Cinema do Partido Comunista Português merece menção. Além dos registos documentais das primeiras Festas do Avante!, esta célula produziu duas curtas-metragens marcantes. A primeira, Paredes Pintadas da Revolução Portuguesa (1976), com música de Fernando Lopes-Graça e texto de António Domingues, filmou os murais da cidade de Lisboa que expressavam e celebravam os ideais e as palavras de ordem da revolução. A realização ficou a cargo de António Campos. É um filme com claras rimas com Revolução (1975), no qual a artista plástica Ana Hatherly combina fragmentos de pinturas e cartazes revolucionários. A segunda curta-metragem, As Desventuras do Drácula Von Barreto nas Terras da Reforma Agrária (1977), emergiu das sessões de divulgação e esclarecimento sobre o trabalho do cinema desenvolvidas pela célula. Trata-se de uma sátira ao processo da reforma agrária e ao papel destrutivo nele desempenhado por António Barreto, com interpretações de Artur Semedo e Henrique Espírito Santo. A RTP e a televisão como meio de massas foram cruciais na produção e difusão fílmicas. O Departamento de Programas Sócio-políticos da instituição foi responsável por telefilmes sobre os principais problemas do país, como Lisboa, O Direito à Cidade
Nas Flores Vermelhas: Três Estudos sobre a Revolução de Outubro e o Cinema
Estudos do Século XX, 2020
Este artigo reúne três estudos sobre a Revolução de Outubro e o cinema, com focos diferentes. O primeiro centra-se nas mudanças na estrutura de produção trazida pela revolução. O segundo, na vanguarda que emer- giu durante o processo revolucioná- rio. O terceiro direciona a atenção para um filme, Outubro (Oktiabr, 1927), realizado por Sergei Eisenstein e Grigoriy Aleksandrov, representa- ção e celebração dos eventos ocorri- dos dez anos antes. A conjugação destas investigações permite traçar um retrato, que se quer complexo, da importância política e cultural da arte cinematográfica, do modo como ela passou também por uma revolu- ção estética, e da forma como os acontecimentos revolucionários foram projetados no ecrã pelo cinema soviético, no contexto e no rescaldo da Revolução de Outubro de 1917.
Pensar com as mãos: História(s) do cinema, da tela à página
Alea: Estudos Neolatinos, 2024
Resumo Neste artigo partimos da relação entre ensaio e poesia para comparar as versões em vídeo e em livro das História(s) do cinema (1998), de Jean-Luc Godard. Ao propormos um estudo comparativo, a passagem da tela à página, bem como do filme-ensaio ao livro de poesia, se baseia nos traços de edição deixados na transposição de mídias. Pelos traços de edição, voltamos à relação de Godard com o ensaio, articulação baseada no modo como Starobinski concebe Montaigne enquanto alguém que se aplica a "Pensar com as mãos", retomando o livro homônimo de Rougemont, igualmente citado por Godard nas História(s). Com isso, Starobinski nos ajuda a circunscrever uma figura central do pensamento em Godard, e nos leva rumo à poesia.