Revolução Passiva e Tempo Histórico (original) (raw)
O conceito moderno de revolução, como aponta Hannah Arendt (1988), ao abandonar o terreno das ciências naturais e adentar à esfera da história e da política, adquire uma dimensão temporal essencial. Não se tratava de demarcar o movimento dos astros, mas de dimensionar um evento capaz da operar uma fratura no tempo histórico, de modo a inaugurar o tempo a partir de uma nova perspectiva. No interior das esquerdas ocidentais, atesta Alberto Aggio (1997), o conceito se configura enquanto mito, estando inerentemente conectado a uma dimensão temporal que estabelece a necessidade de abolição do próprio tempo a partir de ações políticas redentoras. Nesse sentido, esse trabalho objetiva compreender em que medida o conceito de revolução passiva elaborado por Antonio Gramsci em suas reflexões carcerárias é capaz de rever essa visão mítica revolucionária própria às esquerdas, sobretudo aquelas de cunho marxista. Para tanto, é preciso demonstrar que esse cancelamento da revolução enquanto mito é possível somente na medida em que Gramsci promove alterações significativas na compreensão da história e da política próprias ao marxismo. O desenvolvimento do marxismo, aqui focado na perspectiva de seus fundadores por razões de espaço, está intrinsecamente ligado ao desenvolvimento da modernidade. O processo de modernização desencadeado pelo avanço do capitalismo traz consigo novos atores e novos processos históricos que carecem de uma explicação diversa daquela de cunho teológico própria ao mundo medieval. Isso significa afirmar que o marxismo se ancora fundamentalmente em uma construção racionalista do mundo, de modo que sua leitura da história obedece aos desígnios de uma razão capaz de captar o real, eliminando os resquícios metafísicos da compreensão do mundo dos homens. As primeiras reflexões filosóficas de Marx (2013), fora do campo idealista, anunciam esse projeto. Em contraposição à filosofia hegeliana, acusada de mistificar a realidade fazendo da Ideia o sujeito histórico por excelência, Marx compreende a história enquanto a ciência capaz de desnudar racionalmente os aspectos do real. A célebre passagem do Manifesto 1 Doutorando em História pela Unesp -Franca, com o projeto A Dialética da Virtude de Antonio Gramsci. Mestre em História pela mesma universidade. É também membro da incubadora cultural Cupim Literário.