Terminologia de parentesco e casamento djeoromitxi: um caso ngawbe na Amazônia? (original) (raw)
Este artigo apresenta um modelo do sistema de parentesco djeoromitxi, povo de língua Macro-Gê (Ribeiro & Van Der Voort, 2010), habitante do sudoeste amazônico (Terra Indígena Rio Guaporé/Rondônia). Os Djeoromtxi, hoje, são cerca de 200 pessoas e compõem o que Galvão (1960) denominou a " área cultural do Guaporé " e o que Maldi (1991) caracterizou como o " Complexo Cultural do Marico ". A descrição do sistema de parentesco djeoromitxi incluirá a terminologia vocativa para os parentes, que será relacionada a um modelo de cruzamento e aliança, na medida em que essa terminologia codifica os cônjuges que são preferenciais (aos quais se aplica o termo wirá), mas não correspondem aos primos cruzados. Veremos que tipo de cruzamento é concernente ao modelo djeoromitxi de parentesco. No intuito de esboçar um sistema de alianças em que os Djeoromitxi estão incluídos, chamarei " entes trocadores " os povos indígenas (grupos de pertencimento patrifiliativos) que configuram esse campo social: os Tupari, Makurap e Wajuru, de língua Tupi-Tupari; os Arikapo, de língua Macro-Gê; os Aruá, de língua Tupi-Mondé; os Kanoê, de língua Kanoê; e os Kujubim, de língua Txapacura. Para fins desta análise, a distinção segmentar interna a tais povos será ignorada. Isso tem seus motivos: ainda que se possa observar casamentos no interior desses povos, caso em que a distinção segmentar é importante, meus interlocutores relacionam esse tipo de aliança (casamentos linguisticamente endogâmicos) como aqueles mais amplamente ocorridos no " passado da maloca ". Antes de os não indígenas aparecerem, cada aldeia congregava várias malocas, e cada maloca pertencia a um subgrupo de mesma língua que aqueles presentes em outras malocas da mesma aldeia. Os casamentos ocorriam no interior da aldeia, entre malocas, isto é, entre subgrupos de um mesmo povo ou língua. Hoje, com as sucessivas mudanças no padrão residencial que se deu na dissolução ou, como dizem, " saída da maloca " , a partir da segunda metade do século XX, há um novo tipo de aliança, desta vez entre os povos (ou entre aldeias, se fôssemos aplicar o padrão antigo, que, dessa perspectiva, ainda se mostra operante), configurando um padrão de exogamia linguística muito mais observável. Assim,