O que é e como funciona o sistema de gênero (original) (raw)

Este material é parte integrante do artigo " Reflexões feministas sobre igualdade como uniformização e igualdade relacional " , publicado no Dossiê " Feminismos " : um debate necessário, da revista Perspectiva Filosófica, (vol. 43, n. 1, 2016, p. 39-55, da Universidade Federal de Pernambuco), sob o título " O sistema de Gênero ". Resolvi disponibilizá-lo mais uma vez e de forma virtual, dada a demanda que temos tido no Brasil sobre esta temática. Acredito que pode ser útil apresentá-lo desta maneira, colocando-o em separado do artigo e com um título que facilite o encontro do texto com quem procura por informações pertinentes ao assunto utilizando-se da internet. Para quem quiser usar o material e citá-lo em trabalhos acadêmicos, informo as páginas do referido artigo no qual está inserido. Espero sinceramente que seja útil e que auxilie a quem procura por informação. Estamos vivendo um momento de muita desinformação sobre os Estudos de Gênero. É importante saber, ainda, que há muito material complementar sobre o assunto, muita discussão sobre como interpretar o Gênero, se este conceito é realmente útil ou deveria ser superado, qual a relação entre gênero e sexo etc. Vale a pena seguir procurando estas informações. No artigo em que está inserida esta sessão, atrelei a discussão de gênero aos problemas enfrentados por quem discute a questão da igualdade e das diferenças existentes entre nós seres humanos e ao tema da identidade que, nas teorias, tende a ser vista de forma estática (como uma essência, algo que se é) e não como a maneira que se vive, e que atrela a identidade de cada pessoa aos processos ou relações em que vive. A discussão toda tem como pano de fundo a redução da pluralidade das pessoas (dos sujeitos) à uma mesma forma de subjetividade. O sistema de gênero é entendido, nesse contexto, como um forte produtor, difusor e mantenedor de injustiças, desigualdades e práticas de sujeição. A implementação de práticas políticas capazes de produzir uma igualdade mais substantiva teria de passar, necessariamente pelo enfrentamento desse sistema. Para tornar o material um pouco mais acessível (uma vez que o texto faz uso de uma linguagem acadêmico-filosófica), acrescentarei entre colchetes algumas explicações complementares. Dadas as devidas explicações, segue o material: p.50: O sistema de gênero Diferenças físicas individuais são comumente utilizadas pelos grupos humanos como base para (p.51:) a criação de expectativas sociais que auxiliam na definição de comportamentos considerados apropriados [corretos] e que determinam, igualmente, acesso a direitos, recursos e posições de poder. Tais expectativas podem variar de conteúdo e grau entre as várias sociedades, não havendo, por exemplo, um padrão universal para o papel masculino ou feminino que perpasse todas as culturas (SPADE e VALENTINE, 2008). No entanto, Gayle Rubin (1975) e outras feministas apontaram para a semelhança nas mais diversas culturas no que diz respeito à criação de um desequilíbrio de poder que favorece alguns homens, em especial, e ao grupo dos homens de maneira mais geral. Após algumas décadas de trabalho dedicado à compreensão desse fenômeno é possível falar na existência de um sistema de gênero responsável pelo mesmo.